Sobre o verdadeiro pecado!

Sobre o verdadeiro pecado!
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Caos Brasileiro

Caos Brasileiro

"Brasileiro não desiste nunca". É o que dizem. Creio que brasileiro não pode desistir de nada nunca, porque se pensar demais, desiste de viver, tenta mudar de País (porque mudar o País cansa, e brasileiro já é cansado demais), cortar os pulsos ou deixar a insanidade que ronda a porta de seus pensamentos lhe dominar e ir, devidamente amarrado, rumo à um Hospital Psiquiátrico.
Basta ler os jornais, assistir aos telejornais para ter essa sensação nauseante de "Que País é Este", aliás, acho que a música escrita pelo saudoso Renato Russo deveria ser nosso Hino Nacional, chega de "Ouviram do Ipiranga..." e "blá, blá,blá", como se aqui fosse o paraíso. Até a Amazônia os americanos estão julgando como deles e nada fazemos, o que nos resta? Fazer como nossos antecessores, os índios, fumar um cachimbo e dormir no melhor estilo "no stress".
Presos perigosos ganhando liberação no Natal enquanto o sistema carcerário se espanta com o não regresso de muitos. Criminosos contumazes são criminosos, e não quadrúpedes. Quem depois de tomar uma cerveja, ver a mulherada desfilando no verão, vai querer voltar para o cárcere? Além do mais já se sabe que com nossa pseudo-política criminal "mané" que entra em Presídio "Especialista em Roubo" sai "Mestrado em Homicídio". Ou seja, do jeito em que está não existe (nunca existiu na verdade) função ressocializadora da pena, de forma que até mesmo seu caráter retributivo esta deixando a desejar.
São jovens embriagados cometendo imprudências no trânsito, levando a vida de famílias inteiras, arruinando com o viver dos que não foram. Caos aéreo, juizados especiais instalados em aeroportos demonstrando que as próprias companhias reconhecem o desrespeito ao consumidor que cometem. Caos aéreo, caos terrestre, violência urbana. E o Congresso inerte, o Legislativo pensando em "leis", diga-se, estapafúrdias e imbecis como a cara que ficamos ao assistir os noticiários de televisão (instalar chips nos presidiários soltos nas datas festivas, é o cúmulo do absurdo, porque não pensam em construir mais presídios para que as penas sejam devidamente cumpridas?).
Brasil, o País em que nada ou quase nada funciona. O País da Constituição Federal perfeita, do Sistema Único de Saúde "teoricamente" perfeito e praticamente assombroso, praticamente criminoso. O País que durante anos malogrou seus contribuintes com uma contribuição chamada de "imposto do cheque" destinada à educação, à saúde, enfim, à tudo para a qual, na prática, ela não se destinou.
Quem quer educação procura instituições particulares, quem quer assegurar atendimento médico digno arca com no mínimo mil reais ao ano com plano de saúde, quem deseja segurança, além de pagar vários impostos e pedágios para trafegar em estradas razoavelmente boas, tem que fazer seguros. Nossa Nação tem riquezas naturais magníficas, mas desde a colonização faltou uma grande riqueza: A atitude, a garra, a vontade de agir, de se insurgir contra absurdos e até mesmo de guerrear.
E assim vamos vivendo. Ou paramos, respiramos fundo, enchemos nossos pulmões de ar e coração de esperança criando a ilusão que, (queira Deus se torne real), criaremos um lar diferente, filhos educados, pensantes e pouco frívolos, porque se não pensarmos um pouco em nós mesmos e nas nossas benesses interiores, na nossa boa vida afetiva ou financeira, enfim, naquelas pequenas coisas que nos alentam e alegram a alma, naquilo de bom que temos, só nos restará sorrir pela não aprovação da prorrogação da CPMF, afinal, se dependermos de nosso País para sermos felizes ou termos orgulho, iremos lavar roupa e morrer afogados no balde, porque a situação esta feia. Muito feia. Feissima.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 27 de dezembro de 2007.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Mais humanidade dentre os humanos.

Mais humanidade dentre os humanos.

Não ando em uma época de muitas palavras, tampouco de muita escrita. Talvez seja o excesso de trabalho, as mudanças profundas pelas quais minha vida vem passando, pelo excesso de vontade em cumprir com excelência todas as tarefas que assumi, enfim, estou numa fase de não muito escrever ou falar, mas de muita ação, o que, todavia, não significa inatividade psíquica ou emocional, se assim fosse estaria morta.
Faz algum tempo que não escrevo, um pouco mais de um mês, venho sentindo falta, mas aqui estou, na tradicional época de final de ano, de “espírito natalino”, a colocar no papel minhas idéias. Escrevo para falar o que desejo à humanidade no ano que em breve inicia.
Paz no coração? Amor, saúde, dinheiro, companheirismo? Sim, obviamente, desejo isso e muito mais e é o que também desejo para minha vida pessoal em 2008, todavia, o que mais desejo é mais “humanidade” no coração dos seres humanos. Desejo que os homens aprendam a sentir mais, a ter mais compaixão, e, assim, a exercer o real amor cristão.
Colocar-se no lugar do outro, julgar menos, compreender mais, ser mais paciente, compreensivo, sem deixar de ter brio, coragem e força. Ser forte sem ser duro, ser complacente sem ser “tapete” de ninguém. Auto-respeito, respeito ao próximo, amor ao outro, isso torna o homem realmente humano, do contrário é um animal, um ser racional na teoria e sem sensibilidade na prática, logo, algo desumano.
“Amar ao próximo como a si mesmo” significa respeitar ao outro, não fazer a ele o que não deseja que ele lhe faça, não dizer o que não gostaria de ouvir e se disser, saber que toda atitude gera uma reação. Via de regra, uma reação proporcional ao agravo, ou ao agrado.
Dê dureza, grosseria, rancor, críticas e recebas o mesmo em troca. Do contrário, basta dar amor, basta respeitar, porque os frutos da árvore do bem se multiplicam em dobro se comparados com os gerados na árvore do mal e das mazelas, sejam elas psíquicas ou manifestadas em atos.
Sonho, pois, com um 2008 mais humano. Mais respeito no trânsito, na fila do banco, entre clientes e empresários, entre outorgantes e outorgados, entre casais, entre pais e filhos, entre as famílias, enfim, mais amor no coração dos homens, porque é a capacidade de amar e, portanto, de sentir compaixão que torna o homem realmente humano.

Marau, 22 de dezembro de 2007.

Cláudia de Marchi

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Virtude de mestre


Virtude de mestre

A auto-confiança é uma bela virtude. Mas, como tudo o que é virtuoso não pode ser excessiva. Há limites para tudo neste mundo, das maiores virtudes até às mais humildes atitudes. O homem se torna um perigo para si mesmo quando passa a crer demais em si mesmo e no seu "talento".
Confiar no seu "taco", dizem, é importante. Confiar em Deus, digo, também o é. Confiar em si mesmo, na própria força, garra e virtudes também é sumamente necessário. Mas confundir "tudo" e passar a crer que se é o próprio Deus no mundo, o "todo poderoso" Rei da Vida não é nada interessante. Quando o homem esta acreditando poder tudo, vem ela (a Vida) e, sorrateiramente, mostra que ele não pode gerir tudo nela, tampouco te-lá, sempre, como deseja.
Lembro que alguém certa vez comentou que existem juizes que pensam que são Deus, outros que acham que são, e outros, ainda, que tem certeza disso. Da mesma forma existem pessoas assim, cuja auto-confiança e certeza de seu próprio poder e aptidões as tornam arrogantes e estupidamente "cheias de si".
E de tão "cheias de si" que ficam acabam por se tornar vazias. Vazias de humildade, de amor para dar e receber e, porque não dizer, de alegria de viver, porque todo arrogante afasta de si as pessoas, inclusive as que julga amar. Existe um filme sensacional que fiz questão de assistir duas vezes que mostra tal fato, chama-se "Crime de Mestre".
Tudo poderia ser excelente para os personagens se ambos soubessem conter o ego inflado. A convicção de ser o melhor, o excelente, o "the best" em sua profissão, no caso de um advogado, e em seu agir no caso do personagem do bom e velho Anthony Hopkins estragam as pretensões de ambos em momentos diferentes da trama. Coincidentemente, no final vence aquele que reconheceu sua falha, enquanto é vencido e se esvai pela própria arrogância aquele que, não contente em ter para si a proeza realizada, precisa conta-la, gabar-se. (De fato, grandes peixes morrem pela boca.)
Uma das grandes lições deste filme que considero um dos melhores que assisti nos últimos meses é esta. Mas não é preciso assisti-lo para depreender tal aprendizado, basta observar a vida, muitas vezes a nossa própria: Ela vem, quieta, humilde, e, de repente, puxa o tapete daquele que esta acreditando demais em suas virtudes e proezas. Por outro lado, se mantém elevado aquele que confia em si mesmo sem perder a melhor virtude que um homem pode ter: A humildade.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 31 de outubro de 2007.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Se é amor...

Se é amor...

Se é amor que seja verdadeiro. Que seja intenso, de corpo e alma, de mãos, pés, abraços, beijos, nucas, cheiros, cabelos, apertões, carícias. Que seja de desejos para o futuro, de sonhos sonhados juntos, de esperanças divididas, de reclamações e dores compartilhadas ao pé do ouvido, de abraços, de apoio, de confiança. Se é amor que seja de olho no olho, mãos entrelaçadas, corpos e alma unidos, perdão bem disposto.Se é amor que seja de doação e não de comodato, de compra e venda ou arredamento, nem, necessariamente, de "casamento". Amor puro cultivado no dia a dia. Amor puro, que apenas do amor depende.
Amor sem pedir retribuições que não sejam as à ele inerentes: Respeito, sempre. Confiança, companheirismo, parceria, união. Lealdade e fidelidade. Todos entrelaçados. Quem não respeita, não faz companhia, não divide a vida, as dores da alma, as alegrias do coração, quem não compartilha leva o relacionamento rumo à bancarrota da deslealdade, da infidelidade em suas diversas manifestações, dos atos impensados de mágoa.
Se é amor que penda para o perdão. Não para as cobranças. Se é para perdoar que seja da alma para dentro, e não da boca para fora. Que seja o perdão coerente e racional que avalia a conduta alheia sem olvidar da sua, e, pois da sua própria culpa e ato gerador da atitude magoante ou "desgastante" do outro. Perdão sem cobranças, sem "o jogar na cara", porque se do contrário for não é puro, não é verdadeiro, e, logicamente, não é perdão de quem ama de verdade.
Se é amor de enamorados que seja assumido. Assumido no silêncio dos olhares, na paciência, no convívio, no saber ceder espaço, no coração, na alma, no lar. Não precisa de alianças, champagne de primeira, festa de alta classe. Precisa de amor. Precisa de respeito à liberdade do outro, às limitações do outro e a "bagagem" de probleminhas que toda pessoa traz consigo, às tradicionais "diferenças de criação e vivência". Precisa de coragem e maturidade para compartilhar a vida com alguém sem querer ou pensar em dele se adonar.
Amar não é prender. Não é privar das amizades, da individualidade, dos momentos de solidão ou confraternização intima e com amigos que todos precisam para se sentirem sãos de espírito e donos de si mesmos apesar de ter alguém importante no coração. Amar é respeitar, é ceder espaço e, inclusive, liberdade ao outro. É, pois, confiar e sorrir tranqüilamente sabendo que quem ama e é bem amado não é seu por uma escritura pública ou prisão de qualquer forma. Mas porque lhe ama, respeita, confia e admira.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 24 de outubro de 2007.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Sem inocência

Sem inocência

Apesar dos princípios de algumas religiões e de pontos de vista filosóficos e espirituais variados afirmo que o ser humano é inocente pelo que lhe “ocorre” unicamente do zero aos 9 meses de vida. Ou seja, o único ato pelo qual (teoricamente) ninguém pede e tampouco gera é o de “vir ao mundo”.
Depois que nasce o homem não é inocente por nada. Por mais injustiçado que seja, por maior que seja a sua dor, de alguma forma, consciente ou não, foi ele quem lhe deu causa. Não existem adultos inocentes, ou vítimas do acaso, do destino ou dos outros.
Existem, isto sim, homens vítimas de si mesmos. As pessoas geram o seu sofrimento das mais variadas formas. Por terem medo de amar, por terem medo de se entregar à algo, à uma situação ou sentimento, por temerem o amanha, o “dar certo” (que acarreta responsabilidades) ou o dar “errado” que acarreta frustrações.
O homem erra por omissão, erra através de atos, falha com os outros por não lhes dar valor, atenção, erra consigo por temer demais o que deveria apenas sentir e gozar, por não seguir sua intuição e seu coração. E, assim, não existem adultos vítimas de ninguém. Apenas deles mesmos.
Ademais, toda ação gera uma reação. Nem sequer um tapa levado na cara neste mundo é dado em vão. Por trás da ira do agressor, da mágoa do traidor, da mentira do “camarada”, da revolta da esposa, da displicência do companheiro, existem e existirão, sempre, um “porque”, algum motivo que nem sempre é admitido.
O homem não deixa de ser culpado, o homem não deixa de ser vítima da humanidade apenas porque nasce e tem consigo o dom da racionalidade. Mas, porque convive. Viver só não é tarefa das mais difíceis, em especial para os covardes. Conviver sim, é uma arte que apenas as pessoas emocionalmente seguras e inteligentes conseguem edificar.
Ceder, ponderar, transigir, respeitar. Dar e receber, e, principalmente ter a consciência de que no convívio não se “age” só. O agir de um refletirá na resposta, na atitude e, quiçá, na omissão do outro. E é por isso que, neste exato momento, inúmeras pessoas estão derramando lágrimas.
Lágrimas que elas mesmas geraram, quiçá sem saber que suas atitudes as levariam à dor, mas a vida não exige que saibamos o que ela nos mostrará. Ela nos cutuca a ferida e nos aponta, queiramos ou não, saibamos ou não, o porquê de nossas mazelas.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 23 de outubro de 2007.

O lobo da alma humana

O lobo da alma humana

Tem dias que a gente se sente um guerrilheiro preso pelos inimigos. Canhões, armas, mãos, soqueiras, ameaças, tudo direcionado contra nós, nos constrangendo, pressionando, e, porque não admitir: Amedrontando. Quem leu Myra y Lópes sabe que o medo (como um gigante de nossa alma) quando elevado, faz a ira nos enrubescer a face e amargar o coração.
Todo mundo já sentiu-se no limite. No limite da paciência, da serenidade, do equilibro. Todo ser humano já deve ter tido a vontade de dizer: "Sim, eu estou fora do meu equilíbrio. Suma. Me deixe em paz". Alguns dizem, outros remoem a vontade de dizer, e outros, mais racionais ainda esperam a raiva passar e a serenidade voltar.
Eu faço parte do grupo dos impulsivos. Do grupo dos que magoam sem querer por perder o auto-controle. É medo de fracassar, medo de fraquejar, de errar, medo de ser criticado, julgado injustamente, medo de se ferir, e, inclusive de magoar e ser magoado. Orgulho?Talvez. Fraqueza?Certamente. Mas é preferível admitir uma fraqueza e respirar aliviado do que viver constantemente sobre a pressão do "tenho que ser infalível".
Todos somos falíveis. Todos somos capazes de gestos nobres, iluminados e gloriosos e outros nem tanto. Outros horrendos, de vingança, de raiva, de descontrole, porque não admitir? Não quero viver a vida e afirmar para mim mesma, como fez Fernando Pessoa, que todos se fazem passar por príncipes na vida. Eu não sou princesa. Não sou santa, nem perfeita, com o respeito de minha mãe que me exige perfeição desde antes de eu nascer.
O que me alegra nas atitudes vãs e vis do ser humano é, justamente, a impulsividade. O impulsivo é aquele que precisa aprender a pensar antes e não depois de agir. Bem, pelo menos ele tem uma tarefa a aprender na vida, e sabe disso, pior é aquele que se achando perfeito se vê como imutável demonstrando uma ignorância imensa e sui generis.
Pois bem: Felizes os impulsivos porque deles poderá ser o reino dos aprendizes na escola da vida. Como advogada sempre disse que o homicídio é o mais "humano" dos crimes. Não falo do assassinato planejado, feito de forma estratégica, falo daquele mais passional, onde o cidadão age, agride e mata (às vezes sem desejar tal resultado) e se arrepende depois. Agiu sem pensar, por impulso. Ao contrário daqueles que não lesionam o corpo ou levam uma vida humana mas planejam na surdina de suas mentes cometer um ato ilegal e lesar alguém.
A impulsividade é o lobo que ronda a alma humana para lhe equiparar aos animais. Mas, e daí?O homem é um animal, porém racional. Obviamente, precisa aprender a mandar este lobo para longe de sua mente e domina-lá usando o dom que se chama razão. Todavia, quando não o faz, inegável a possibilidade do arrepender-se, e, de preferência, de aprender com o erro.
Mais triste do que errar por impulso é planejar o erro, é prever o resultado, é vingar-se, é agir com meticulosidade para obter um resultado que venha a magoar alguém. Erros não justificam erros, mas o fato do homem ser humano justifica o fato dele errar. E se é pra errar que seja por um impulso ruim, e não por uma maldade permanente e contumaz. Errar é humano, errar sabendo do erro e o desejando é comprovação de maldade humana. Antes o ser instintivo do que o racionalmente pérfido.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 23 de outubro de 2007.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Além do saber amar

Além do saber amar

O que você espera de quem você ama? Irmãos, pais, amigos, namorado, esposa? Respeito?Compreensão?Apoio?Amor, claro, amor! E a maior demonstração de amor é o respeito. Ninguém ama sem admirar com a alma, ninguém admira sem raciocinar na importância da pessoa em sua vida.
O grande problema ocorre quando, por não se amarem, as pessoas não conseguem se deixar amar. Disse Herbert Viana: "Saber amar, é saber deixar alguém te amar". Mas não é só isso. Não mesmo. Saber amar também é deixar o egoísmo de lado, fazer pequenas abdicações sem "jogar" na cara do outro o "esforço". É ouvir, compreender, é ser parceiro nas horas de risos, lágrimas, gozo e tristeza.
Todavia quem não sabe se amar, quem não ama à si mesmo, quem não valoriza quem é jamais vai conseguir compreender o amor que recebe, jamais vai saber a importância de dar e receber carinho e atenção. Quem não se ama é um morto vivo na vida afetiva: Muito embora fale de sentimentos, ande em busca deles, não consegue vive-los, senti-los e goza-los.
Não importa o quanto uma pessoa que não se ame seja amada, ela nunca irá dar o devido valor à quem lhe estima. Nem a ela mesmo ela dá. E dar valor, é, sim, demonstrar o que sente, com palavras, gestos, afeto e, sobretudo, respeito. Para que maltratar, para que xingar ou ser estúpido com quem lhes tem no coração? Errar alguma vez em meio as turbulências diárias é perdoável, mas se redimir com respeito e carinho é a melhor solução, afinal, não existe amor que suporte desrespeitos e atitudes de tripudio a seu sentir.
Não há mistérios no caminho dos relacionamentos. Amor próprio é o primeiro passo, auto respeito, junto com aquele, depois é encontrar alguém por quem a alma palpite, admire, se encante e a ele dar o seu melhor: Amor e respeito, consideração a seus sentimentos e essência. Nada tão complicado, e, como tudo que envolve o ser humano parte da premissa de fazer ao outro o que deseja que ele lhe faça.
Antes de querer apenas ser amado, cuidado, e zelado, é necessário desejar dar amor, cuidados, zelo e carinho. A vida é uma comunhão de sentimentos onde os egoístas nadam e morrem na praia. Sós, infelizmente, sós com suas reclamações, ao lado daqueles que não souberam se amar, ser amados e dar amor. A vida dá ao homem de acordo com suas atitudes. Sempre foi assim. E sempre será. Ninguém sofre em vão, ninguém é feliz sem razão.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 19 de outubro de 2007.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Verdades do amor

Verdades do amor

Em que lugar o amor morre? Aonde ele se perde? Em que ponto do caminho do relacionamento a solidão vai para um lado, o costume e a carência para outro e o amor fica no chão, esmagado na confusão de sentimentos e ilusões? Onde reside o amor no coração dos que não gostam da própria existência, onde reside este nobre sentimento na alma daqueles que não confiam em quem dizem amar?
Complicado não é sentir, complicado não é viver, complicado é complicar o que nasceu para ser simples, leve e saudável: A vida e os sentimentos que são mananciais de alegria e rejubilo no coração dos que a eles se entregam, e, sabem se entregar sem medo de sofrer. Não sei se o amor morre, creio que o amor de verdade não morre nunca, apenas se esconde. Se esconde embaixo do amor próprio daquele que ama alguém, mas que, por algum motivo se cansa.
Existem situações intoleráveis, desrespeitos insuportáveis, atitudes magoantes, desconfianças sem sentido, acusações infundadas e ofensivas, e o amor, ao contrário do que podem pensar alguns, não "agüenta tudo". O amor é sentido forte no peito, na alma, mas ele acaba, aos poucos, se escondendo para que o amor próprio prevaleça. Quem agüenta desaforos, quem "agüenta" tudo não ama. Não ama, porque não se ama.
O amor também não se perde. Ou ele existe e permanece, ou ele se esconde para que amor próprio se liberte e o individuo consiga ser feliz, com ele mesmo e, quiçá, com outro alguém. Amor não se conjuga no passado, já dizia o poeta. Ou ele existe hoje, ou se escondeu para o auto-respeito prevalecer, ou, na verdade, nunca existiu. Foi paixão, foi ilusão ou, porque não, medo de solidão.
Certo, porém, é que aquele que não ama à si mesmo e à sua vida e nem dá a ela os seus melhores sentimentos não ama ninguém. Dizer que alguém que não ama a própria vida é capaz de amar verdadeiramente alguém é o mesmo que dizer que "chocolate é doce como limão": Uma redundância estúpida que indica algo impossível. Confiança, respeito mútuo, capacidade de ceder e compreender são os maiores indicativos da existência de tal sentimento. E quem não confia em si mesmo, nem se respeita não pode dar ao outro o que não conhece e possui.
Relacionar-se, assim como viver é prazeroso. Prazeroso para quem tem prazer em ser quem é, viver como vive, amando à si mesmo e a vida que possui. O homem faz da sua vida, dos seus relacionamentos e dos seus sentimentos aquilo que pensa deles. Felizes no amor são os que acreditam nele, relacionamentos harmônicos possuem aqueles que acreditam que a inteligência, a sensibilidade e uma boa dose de sentimento puro podem tornar uma relação entre seres diferentes uma forma agradável de viver, aprender e crescer em união, é claro.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 16 de outubro de 2007.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

(A) Os homens pais

(A)Os homens pais

"Antes eu fazia umas loucuras de moto e agora eu penso: Tenho uma filhinha para cuidar". Ouvi essa frase de um grande amigo que foi abençoado com a paternidade há quase 2 meses atrás, ou melhor, quase 11 meses, porque a benção do espírito paterno nasce com a concepção e desde o momento em que os papais tomam consciência de que algo pequeninamente grandioso virá iluminar e mudar suas vidas.Me emocionei com tal afirmativa.
Todos falam da benção que é ser mãe. Acho que as mulheres sempre tiveram a maternidade como uma benesse divina, pessoal e própria, a ponto, inclusive de afastarem dos homens, dos pais, o gozo da sensação de "ser pai" e de se vincularem com o filho. Quase véspera do dia das crianças (data que me traz doces recordações) eu me comovo ao ver o que um filho faz na vida de um homem.
Bom pai não é o "papai casado com a mamãe!, tampouco é aquele que "dá" tudo, que "compra" tudo. Bom pai é aquele que se apodera do espírito da paternidade. Que sorri enternecido ao ver seu pequeno, sentindo-se forte e responsável por sua educação. Experimentando uma sensação de importância e relevância no mundo, certamente, nunca sentida. A paternidade, tal qual a maternidade, muda a vida de uma pessoa, tirando de seus umbigos o foco de seu viver.
Chega um momento na vida de todo ser humano que as coisas se tornam repetidas, que o quente e o frio ficam, simplesmente "mornos": Mesmas obrigações, mesmas comemorações, responsabilidade pessoal que vai ficando tão insossa a ponto de requerer irresponsabilidades: exageros, bebedeiras, saídas sem olhar para trás, atitudes sem olhar para frente.
E é em tal momento quem um filho vem como uma dádiva. Uma dádiva que nasce e faz o homem renascer para sentimentos e sensações praticamente divinas. É isso que senti e apreendi do estado de espírito de meu grande amigo, e, certamente, grande pai. É o que percebo em muitos grandes pais que conheço: O filho se torna uma razão de viver que se confunde com sua própria vida e entusiasmo perante ela. (Dizer "meu filho" com ternura é algo emocionante, tal qual ouvir).
Bem aventurados os filhos dos bons pais. Bem aventuradas as crianças que vieram à este mundo que não é nenhum paraíso, mas se torna um local mais doce e agradável quando há uma mão forte para lhes segurar, um abraço caloroso para lhes propulsar ânimo e acarinhar de forma a lhes ensinar a ser adultos fortes e maduros.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 11 de outubro de 2007.

Doação de sentimentos

Doação de sentimentos

Mais difícil do que rejubilar-se com a vida, do que ver graça nela apesar das adversidades, mais difícil do que conquistar um coração é fazer ou tentar fazer seu dono feliz. De todas as pretensões não creio que ser amado seja a maior, a maior pretensão que o homem pode ter é, para mim, a de fazer seu par ser feliz quando ele não é.
Pode o amor ser dado, o afago, o carinho e o ombro amigo, serem garantidos, podem serem ditas milhares de palavras de apoio e estima, a força e paz serem emanadas, nada é suficiente para suprir o que o outro, talvez, não possua: Paz de espírito, apreço por si mesmo, gratidão à Deus pela vida que tem, e, portanto, felicidade por ser quem é.
Felicidade, nesse aspecto é a de sentir-se bem na própria pele, sendo quem se é, respeitando a si mesmo, seus defeitos e mancadas, vendo a luz das virtudes apesar das pedras dos defeitos que existem para serem superados e afastados de nosso caminho. Amar a si mesmo é respeitar as próprias fraquezas, é se cobrar por alguns fatos, mas não se torturar pelo fato de ser humano, ou seja, de ser imperfeito.
Falo, em suma, de que é assumir uma função torturante e impossível a de querer "fazer alguém feliz". Se alguém precisa ser "feito" feliz é porque não é completo. E ninguém completa ninguém, muito embora os românticos menos realistas prefiram crer nessa ilusão. Amigos, casais harmoniosos se "somam", compartilham sentimentos e vivências e não se completam. São maduros, e, portanto, "cheios" em si mesmos.
Plenos de amor, de alegria, de auto-confiança e, também, desejosos por compartilhar com alguém as benesses de sua alma clara, como diria Gil, que apenas o amante "clarividente" e, como ele, apto para o amor poderá enxergar. Quem precisa de completude é porque é semi-vazio, e qualquer coisa semi vazia não pode gozar do "cheio" do amor. Quem não é, pois, completo e feliz consigo e em si mesmo, não poderá ser feito assim por outro alguém.
A intenção de quem deseja fazer alguém feliz é nobre, mas o resultado é catastrófico. Em especial porque aquele que não consegue se rejubilar com o que tem de bom na vida, que não consegue se regozijar consigo mesmo, demonstrando amor-próprio e felicidade interior, jamais poderá amar a alguém e, tampouco, conseguir compartilhar uma vida, bons e belos momentos. Inevitável, portanto a frustração daquele que quis fazer um bem maior para alguém. O bem de lhe dar algo que não possui, que, quiçá seja um algo chamado paz.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 11 de agosto de 2007.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Pessoas farpas

Pessoas farpas

A vida não é difícil. Conviver também não, é uma questão de paciência e complacência, o que é difícil são as pessoas que não percebem que viver é fácil. Difíceis são, também, aqueles que não percebem que em crescer, também, inexiste dificuldade bastando um pouco de coragem e entusiasmo para levantar-se de manha sem precisar da aprovação alheia, de elogios ou de força.
Viver requer força, é verdade, mas força pessoal, estima própria. Pessoas que precisam do apoio e do entusiasmo alheios para sentirem-se bem são extremamente difíceis, ou melhor, são pessoas chatas. Inconvenientemente chatas, a ponto de se tornarem pesadas, tanto na energia que emanam como na "adequação" na vida alheia - elas se tornam fardos. Não tão pesados, é verdade, mas fardinhos de chatice irritantes como farpas.
Infelizmente não são poucas as pessoas que se tornam dependentes da atenção alheia para viver e buscam, através de mesquinharias, formas de serem agradadas, exaltadas e, enfim, de chamar para si os holofotes dos sentimentos alheios ainda que para tanto tenham que se colocar em posição de inferioridade frente aos outros.
À alguns falta vergonha para se fazer de infelizes e buscar a atenção dos outros, enquanto sobra pouco apreço por si mesmo e carência. Todavia existem males que ninguém pode solucionar a não ser o próprio homem. A vida requer a convivência social, mas a felicidade e o bem estar são coisas extremamente individuais. Individuais e "optativas"- basta querer ser feliz, basta desejar simplificar a existência.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 10 de outubro de 2007.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Crenças do bem.

Crenças do bem.

Digam que a vida é dura, digam que a torpeza impera, digam que não existem mais pessoas honestas e verdadeiras, digam que o amor se tornou sinônimo de conveniência e que carinho se coaduna mais com carência do que com sinceridade, digam que a família é um berço de hipocrisia, digam que a verdade morreu e foi jogada no oceano amarrada na imensa pedra da justiça.
Digam que sou otimista, inocente, digam que vivo num mundo próprio, digam que sou uma autista que só ouve o que lhe apraz. Eu digo que vejo a realidade, ouço tudo, compreendo muito, mas em meu coração não aceito a versão pseudo-realista do mundo, que não vê nada, além de desencanto e que, aos poucos, perde a esperança na vida e, sem perceber, deixa de viver, porque, simplesmente deixou de sentir o bem a ela inerente. Viver é uma dádiva que poucos gozam.
Eu tenho fé na vida, na coragem, na força e no empenho dos bons homens. Acredito no ser humano, mas desconfio bastante, ora, porque não? Eu disse que não sou autista, tampouco tola, mas eu sinto a vida e seu fluir, o homem e seu sentir, a energia do olhar dos bons, a malevolência do sorriso dos maus, e de vez em quando confio e desconfio ao mesmo tempo, porém sempre prefiro a alegria especial da confiança que as pessoas especiais me inspiram.
Tenho na pele estrelas tatuadas porque espero que o bem brilhe na constelação de minha existência, do lado esquerdo fiz um coração. Um coração que jamais sairá de meu corpo porque simboliza que, acima de tudo, é no amor que acredito. No amor e no respeito, seu sinônimo especial e abrangente. Quem ama respeita, sempre.
Creio no amor sincero, verdadeiro, não na troca vulgar de momentos sem sentimentos. Eu acredito em sensações, sentimentos fortes e marcantes. Que marcam o coração como a tatuagem marca a pele. Sim, eu conheço a dor, sinto as dores do mundo, tenho compaixão como raras possuem: A dor daqueles que sinto que são especiais me emociona.
Mas, sempre, há o “apesar”. E eu vejo além da dor, além da injustiça de hoje, além da maldade, da inveja, da maledicência, além dos berços dos mal amados, além das famílias desunidas, além das palavras jogadas ao vento pelos mentirosos e estelionatários sentimentais.
Eu vejo a vida que eu quero, somo à energia da vida que tenho, e sei da vida que levo, dos caminhos que escolho, do rumo que tomo, por mais que me critiquem, é preferível ser feliz e criticado, a ser triste e adequado. Desconfio do que é demasiado perfeito e “de acordo”.
E, sobretudo, creio ser preferível a dor da verdade a conveniência da mentira agradável. Bem aventurados os sinceros, os que acreditam que a justiça divina pode se estender sobre os homens fazendo com que, com um pouco de luz, seja feita, também, por eles. Ainda acredito no ser humano. Nos indivíduos do bem, posto que, ainda que raros sempre irão valer mais do que uma multidão dos maus.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 08 de outubro de 2007.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A miserabilidade da pena de prisão no processo penal.

A miserabilidade da pena de prisão no processo penal.

Cláudia de Marchi[1]


O Direito Criminal sempre me encantou, antes mesmo de me formar na Universidade de Passo Fundo trabalhei ao lado de um dos melhores e mais honestos advogados criminalistas da região, após, porém, me afastei um pouco da área, com uma espécie de medo de afirmar-me como criminalista mulher perante a sociedade.
Na verdade, a palavra criminalista mascara alguns estigmas negativos, sendo cada vez mais difícil a atuação dos advogados nesta área, em que o Ministério Público é colocado como anjo a favor da sociedade, e os advogado de defesa como um ente praticamente “pró-criminoso”. O que não é verdade, como diria Francesco Carnelutti, o advogado é aquele que é chamado a socorrer (“Advocatus, vocatus ad”) tal qual o médico, mas apenas a ele é dado este nome, porque à ele se pede a forma essencial de ajuda que é a amizade[2]. Amizade, frise-se, não à delinqüência, mas à família do delinqüente, e, porque não dizer, dentro de certos limites profissionais e morais, à ele mesmo.
Pois bem, o Direito Penal não foi uma paixão passageira em minha vida, tenho hoje, a certeza de que minha afinidade pela área constitui-se em um amor, porque mesmo distante, voltei a atuar em alguns casos e sinto aquela alegria jovial que chega a tirar-me o sono tamanha a empolgação e, inclusive, preocupação com certos casos.
Algumas menções e palavras ficam na mente do advogado. Atendi ao pai de um novo cliente, um rapaz de boa família, que, como eu, estudou nos melhores colégios da cidade, tendo sido meu colega durante o segundo grau, e na própria Faculdade de Direito. Drogado, há alguns anos assassinou a parceira, igualmente viciada, num momento em que, certamente, a razão lhe faltou. Sem ter conseguido a progressão de regime com 1/6 da pena, o pai busca um Recurso, e me disse, de forma a comover-me: “Eu sei que se eu tirar meu filho de lá agora eu ainda posso recupera-lo. Se ele ficar lá dentro mais tempo, eu vou perde-lo.” É doído ouvir isso, dói na alma porque faz pensar na realidade do sistema penal brasileiro. Na realidade do Brasil, enfim.
Ao contrário do que afirma a maioria das pessoas eu não vejo problema na ausência de leis, eu vejo problema na falta de política criminal. Na falta de atitude do Estado ao pensar no futuro, na necessidade de aplicação de penas enquanto faltam lugares nas prisões, quando a corrupção existe no Governo e dentro dos careceres. Vejo problema nos poucos presídios existentes, na degradante situação dos presidiários, enfim, na constatação de que a pena de prisão pode punir, retribuir ao “mal do crime a sua pena”, mas nunca, jamais atua de forma preventiva especial, ou seja, dando meios para a ressocialização do condenado. Pelo contrário, creio que o individuo saia do presídio carregado de aprendizados negativos.
Poderiam ser implantados trabalhos diversos, desde agrários até outros, como conserto de máquinas, computadores, marcenaria, culinária, enfim, várias espécies de labor para ocupar os presos e, assim, auxilia-los em sua recuperação psíquica para voltar à sociedade. No caso do meu cliente, se vê assolado pelo arrependimento, pela culpa e não possui atendimento psicológico nem nada do tipo, pelo contrário, existe tráfico de drogas dentro do presídio criando em seu pai a desconfiança de que o filho possa estar consumindo algum tipo de entorpecente que, “não” se sabe “como” entra no Presídio.
Todavia o jovem deseja sair, ir para uma clinica de reabilitação, concluir o curso superior, enfim, deseja se recuperar, voltar à sociedade com dignidade. Talvez, neste País este seja o desejo de muitos presidiários, mas será que conseguirão? E o contato, 24 horas por dia, com criminosos contumazes que nada mais fazem se não contar suas histórias de revolta, ódio e delitos hediondos? Existe uma certa diferença entre a mente da pessoa que em certo momento cometeu um crime, um homicídio, por exemplo, e aqueles que cometem ou cometeram vários deles, todavia, dentro dos presídios todos se misturam na inércia de seus dias. Penso, pois, que enquanto o sistema penal se mantiver desta forma (errada), enquanto o Estado não der atenção à necessidade de construção de presídios e implementação de meios de ressocialização aos criminosos a progressão de regime se mostra urgente para que jovens que cometeram um crime não tenham sua personalidade ainda mais degradada vez que estão sujeitos a más influências dentro dos presídios, o que remete meus pensamentos a necessidade de exclusão da reincidência da lista das agravantes da pena. Existe algo errado, algo muito errado em nosso Sistema Penal, e, enfim, em nosso Estado Democrático de Direito e é a sociedade que paga pela sua prostração diante da grave realidade.
[1] Advogada na cidade de Passo Fundo/RS e especialista em Direito Constitucional pela Fundação Escola Superior do Ministério Público do Rio Grande do Sul.
[2] CARNELUTTI, Francesco. As misérias do Processo Penal. 5ª Ed. Campinas: Bookseller, 2001, p.28.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Auto salvamento

Auto salvamento

Assisti a um filme surpreendentemente bom ontem, chamado "Anjos da Vida - Mais bravos que o mar", trama que mostra a história de um salva vidas da Guarda Costeira dos Estados Unidos que, após um acidente (resgate mal sucedido) em que perdeu seu colega e amigo, foi convidado para treinar "pretensos" salva-vidas. Um veterano talentoso, praticamente um mito dentre os salva-vidas, ensinando jovens afoitos em aprender e se tornarem profissionais excelentes.
Kevin Costner é o veterano e Ashton Kutcher o jovem que se destaca por quebrar os recordes nos treinamentos. Enfim, o filme é excelente e o final bastante emocionante. Uma das cenas que mais me chama a atenção é quando o personagem de Costner responde a pergunta de Jake Fischer, personagem interpretado por Kutcher, que desejava saber quantas foram as vidas que o mestre salvou, vez que se falava em 200 e 300 pessoas.
A resposta, bastante interessante foi "foram 22", o jovem, boquiaberto indagou se não tinha sido 200 ou 300 como diziam os boatos, momento em que o salva vidas experiente respondeu: "Vinte e dois foram as vidas que perdi", enfim, aqueles que não conseguiu salvar. Para quem trabalha e vive para salvar vidas em alto mar, bem como para os que vivem para resgatar pessoas, os dados mais marcantes e desconcertantes são os dos que não ficaram neste mundo, enfim, dos que não conseguiram salvar.
Bem, esta é a realidade para os que vivem para salvar a vida alheia, não para a maioria das pessoas que vivem para se salvar neste mundo em que muitos valores estão se esvaindo, mas que, possui muitas outras graças. Enfim, o ser humano que deseja ser feliz na vida deve aprender a colocar na balança o que lhe ocorre, colocando porém, mais peso na estima pelo que de bom lhe aconteceu.
Sempre irão existir acontecimentos que nos magoam, até quem mais amamos e que nos ama poderão nos ferir de alguma forma. Sempre existirão os mentirosos, interesseiros, as pessoas falsas, os homens sem brio, os indivíduos que não respeitam a liberdade e a vida alheia, por outro lado, sempre existirão pessoas boas, corajosas, amorosas, honestas que estão em nossas vidas como jóias raras a brilhar demonstrando que viver vale a pena, são como benesses da vida em nossos caminhos.
Se salvar neste mundo significa muito mais que existir na realidade, que respirar e trabalhar sem sentir prazer em viver, significa ter paz, alegria de viver, felicidade no coração e tranqüilidade na alma, embora a vida não seja um mar de rosas. Assim, o homem que quer se salvar no mundo tem que dar valor ao bem que faz e às benesses que recebeu e não aos prejuízos e sofrimentos que teve. Melhor ainda se conseguir compreender que sofrimento traz aprendizado, e, enfim, que tudo vale a pena, já diria Fernando Pessoa, quando a alma não é pequena. (Saber viver, é, de fato, atributo das almas grandiosas).

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 28 de setembro de 2007.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Auto-respeito

Auto-respeito

Eu tenho compaixão pelas pessoas que não se auto-respeitam. Via de regra falamos que a moçoila volúvel "não se respeita", não se dá valor, que o rapaz "galinha" também não se valoriza. Em alguns casos pode ser verdade, mas, na realidade a pior demonstração de falta de respeito por si mesmo ocorre quando o homem não aceita suas limitações, quando não consegue se perdoar por algum erro, ou, pelo fato de ser quem é: Por não ser perfeito nem adequado às expectativas alheias.
Respeitar é aceitar o outro, é não fazer ao outro o que não desejamos que ele nos faça, é ser compreensivo e ter compaixão para com as pessoas. O conceito, pois, de respeito quase todas as pessoas possuem, mas, o visualizam quando se refere ao "alter", ao respeito para com o outro, para com o mundo, e esquecem que, muitas vezes, falam dele e até mesmo o têm, sem te-lo por si mesmos.
Respeitar a si mesmo é valorizar-se com suas limitações, o que, obviamente não implica no comodismo "sou assim e serei para sempre", até mesmo porque tal afirmação vai de encontro com a ordem da escola da vida que é o aprendizado e a mudança gerada por ele. E só aprende quem erra, se perdoa e segue adiante, sem demasiada auto-crítica, flagelação ou piedade por si mesmo.
Todos sabem que não devem ser cruéis com o outro. Tortura física, então é crime hediondo. Mas muitas pessoas se torturam psiquicamente, são cruéis consigo mesmos. Não perdoam suas mancadas, seus erros, e, muitas vezes, não se perdoam por não satisfazer as expectativas dos outros, dos pais, do marido, da esposa, dos filhos. Isso é uma forma de auto-mutilação, tal qual a a ingestão demasiada de remédios, de álcool e de drogas, por exemplo, que são, praticamente, torturas físicas.
Infelizmente, não são poucas as pessoas que não respeitam a si mesmas. Que não aceitam seus limites, que não relevam seus erros, que não perdoam a si mesmo e aos outros, e, assim, fazem de sua vida um inferno, por, simplesmente, olvidarem de si mesmos, por não conseguirem se auto-compreender partindo da seguinte realidade: O passado, como diz a palavra, já passou e nele agimos de tal forma porque ontem não tínhamos a maturidade e quiçá a sapiência que temos hoje.
Não adianta lastimar, não adianta se drogar, tomar remédios ou porres homéricos. O passado ficou lá atrás, seus reflexos devem ser aceitos vez que são imutáveis. O primeiro passo, porém, para encontrar o auto-respeito esquecido é ter serenidade para aceitar o que não se pode mudar na vida, e a paciência para mudar aquilo que podemos.
Nunca devemos olvidar de que, se precisamos de paciência para com os outros, temos que te-lá para conosco mesmos porque somos imperfeitos e jamais iremos agradar à todos. Precisamos mesmo é ter paz em nosso espírito, respeitar a nós mesmos, e viver bem, sem exigirmos de nós o que a vida não nos deu: Perfeição e adequação imutável.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 26 de setembro de 2007.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Os sem-noção

Os sem-noção

Quem não conhece um sujeitinho inconveniente? O típico individuo chato, egoísta, aquele que acha que o mundo deve curvar-se perante suas afirmativas e idéias que, via de regra, nunca mudam. Aquela pessoa que insiste em sustentar uma idéia ou, até mesmo, uma meta, olvidando do direito alheio, ou, o que é pior, da necessidade de respeitar o outro e sua liberdade de pensamento e atitude.
É, de gente inconveniente o mundo esta cheio. São as mulheres que não percebem que não são bem quistas pelos coitados que pressionam usando de todas as artimanhas possíveis, inclusive a de solicitar auxílio de amigos e coisas do tipo. Aquelas que chegam abraçando, se fazendo de amigas e distribuindo sorrisos falsos, apenas para se mostrar como sendo queridas e convenientes quando, na verdade, são a falta de auto-respeito, maturidade e noção do ridículo ambulantes.
Enfim, há vários tipos de pessoas inconvenientes. Vendedores insistentes, aliás, as pessoas que insistem normalmente são chatas. A história de que a água mole em pedra dura bate até fura-la é verdadeira, mas muita coisa desmorona junto com a pedra, inclusive a paciência e a estima pelo insistente. Tudo que é agradável e verdadeiro brota da espontaneidade, como uma flor surgindo na mata: Não há necessidade de pressão, de insistência ou algo semelhante.
Há também aqueles desocupados que vão no local de trabalho alheio falar mais do que pastor em dia de pregação sem pensar que estão atrapalhando as pessoas que precisam se dedicar à suas atividades. E, o que dizer daqueles que acham que detêm toda a razão do mundo?Aqueles que já não acham mais que são Deuses, mas que se auto outorgaram a certeza de tal fato como se tivessem um certificado de "Enviado do Céu".
Todavia, pior do que um ser inconveniente na vida quotidiana é quando eles conseguem passar em algum concurso público, ou, ainda ganhar alguma eleição, assim aliada a chatice, esta a prepotência e a capacidade de persuadir os menos avisados e cultos. Mais chato, ou melhor, mais perigoso do que um individuo chato e sem noção do ridículo e de sua impertinência é um ser com tais atributos dotado de alguma forma de "poder", como o de julgar por exemplo.
Os chatos, os inconvenientes, as mulheres mal amadas e insistentes, os rapazes com ego inflado, todos estes e os demais impertinentes são aqueles sem "semancol", ou, simplesmente, "sem noção": Sem noção do ridículo, sem noção da realidade, sem noção, enfim, da própria chatice e do fiasco que fazem agindo da forma que agem.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 25 de setembro de 2007.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Apesar

Apesar

Apesar de imperfeita a vida tem muitas maravilhas, inclusive o fato de que tudo em nossa existência depende de nosso olhar para e de nossa capacidade de buscar pensamentos antídotos àqueles que nos fazem sentir mal envenenando nosso humor e harmonia de espírito. É um eterno tentar ser alegre, ser feliz e viver bem "apesar dos pesares". Afinal, apesar das mazelas existem as coisas boas, cabe a nós valorizarmos mais estas do que àquelas.
Levantar com ânimo diariamente para viver nesse nosso mundo é um exercício de garra e força, afinal apesar da cama ser confortável e do sono ser uma bela fuga, a vida bem vivida requer força e, principalmente, vontade de felicidade e ai reside nosso mérito ao aprendermos a dançar nesse baile chamado vida. Quando falo em felicidade não me refiro à meta inatingível do "serei feliz quando...", mas, pelo contrário, a constatação: "Sou feliz hoje apesar dos inconvenientes do mundo".
Não deveríamos saber nem apreender o significado da palavra futuro. Talvez assim vivêssemos mais intensamente o dia de hoje e desperdiçaríamos menos momentos lamentando, vendo as coisas de um ponto de vista negativo e pedante, talvez assim, toda vez que a tristeza e a depressão vierem bater a nossa porta conseguíssemos tranca-lá e, ainda que pulando a janela, fôssemos fazer algo que nos faça contentes e alegres, afinal, apesar de termos alguns motivos para chorar temos, sempre, (muitos) para sorrir.
Tudo depende de nós. Somos nós quem criamos nossa tristeza e amargura nutrindo pensamentos ruins e enxergando com lente de aumento nossos problemas. Podemos fazer o contrário, supervalorizar o que é bom e o bem que a vida nos fez. Um amor, uma amizade, as alegrias quotidianas, a maravilha da natureza que sequer observamos absortos em nossas preocupações vãs e problemas que criamos quando nos sentimos pequenos diante da vida.
Nenhum homem é pequeno, nenhum homem é fraco ao menos que se sinta assim. Se ele se sentir de tal forma a vida irá lhe dizer o mesmo que diz aos felizes: "Você é o que você pensa ser. E que assim seja!". A única diferença entre um ser feliz e um infeliz é a forma com que ele vê a si mesmo e a vida. Alguns conseguem ver bem, apesar dos pesares, outros vêem os pesares apesar das boas surpresas da vida.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 26 de agosto de 2007.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Os outros II

Os Outros II

Porque algumas pessoas tem uma tendência maior à deixar-se influenciar pelo medo da opinião alheia? Depende do caso, o certo é que baixa auto-estima e o orgulho andam, freqüentemente, lado a lado em tais circunstâncias. Relevante, porém, pensar nos casos em que o analisar previamente o possível julgamento do outro indicia falsidade.
Valores, formas de pensar a vida, cada um tem os seus. O certo é que de nada adianta agir como políticos desonestos e cônjuges infiéis (ou, enfim, qualquer espécie de traidor e larápio, afinal aqueles são os traidores da Nação com a qual deviam estar "casados", visando, porém o crescimento e evolução) que não possuem auto-controle, vergonha e brio por não agirem de forma correta, fazendo sujeiras, roubos e outros ilícitos na surdina demonstrando medo do julgamento popular após seus atos serem descobertos.
Os valores e o agir das pessoas deveria ser de tal forma justos que não tivessem que se envergonhar de seus atos. Porém, tal agir deve ser inerente e não baseado no medo da opinião alheia, mas, isto sim na adequação com sua própria consciência. Quem age de forma "correta" apenas com receio da crítica alheia pode, muito bem, mascarar seu agir em frente a tais pessoas e agir tal qual seus parcos valores por trás delas. Eis ai a desonestidade e deslealdade.
Sempre preferi pessoas abertas, que dizem o que pensam e agem da forma que lhes apraz sem ter duas caras. Transparência é uma grande virtude nesse mundo cor-de-rosa da boca e das aparências para fora e fétido, negro e podre por dentro. Chega de beleza, honestidade, meiguice, progresso e probidade "para inglês ver" enquanto o brasileiro padece, sofre e nada faz.
Não existe o "certo" e "errado", mas existem valores praticamente universais. A atitude de cada pessoa deve se aproximar do justo não porque os outros assim o desejam, mas porque a pessoa é e pensa da forma com que atua no palco da vida, do contrário fica fácil agir de forma diversa atrás da cortina de sua existência que assim se torna um teatro - um mundo falso.
Viva à auto-censura, a consciência de si mesmo e o agir da forma mais apropriada aos valores universais! Não fazer aos outros o que não se deseja que eles nos façam não significa viver fazendo o que os outros desejam e esperam. É preciso viver com liberdade, agir com espontaneidade, pensar e falar com transparência, mas numa justa medida onde o respeito pelos outros deve se manter. Respeito, não escravidão. Amor, não servilismo. Compaixão, não falsa caridade. Verdade, não falsidade.Sempre.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 24 de agosto de 2007.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Os outros

Os outros

Pense rápido: Até que ponto você deixa de agir ou falar pensando na opinião alheia? Quantas foram as risadas contidas, as piadas que ficaram só na mente, as afirmativas veladas, os gestos contidos em prol "dos outros", e, obviamente, do medo do julgamento e opinião alheia?
Primeiramente, meu amigo, quero dizer que mudar seu jeito, conter seu estilo, e se auto-censurar pensando na opinião que os outros terão é, primeiramente sinal de medo. E, este medo leva ao real sentimento existente nessa forma de agir: Orgulho.Sim, você que se acha "humilde" porque vive pensando nos outros e na sua opinião acerca de seus atos é um tremendo orgulhoso.
O medo de ser mal julgado, criticado, tripudiado indica orgulho. A pessoa não quer parecer frágil, não quer parecer vil, teme criticas até mesmo de seu humor, e por isso se cala, afinal não quer ser criticado, quer parecer, sempre o melhor, o "acima" de qualquer critica, "acima" de qualquer mal julgamento. E vai ficando tão acima de tudo que acaba sumindo, evaporando com as nuvens de seus receios tolos.
Certa vez um grande amigo me disse que eu devia me cuidar com meus atos porque muitas pessoas julgavam minha espontaneidade de forma negativa. Confesso que parei para pensar, "controlar" um pouco a língua (como diria minha mãe), afinal pensar antes de falar é sempre salutar. Todavia, de resto, eu tenho minhas certezas, dentre as quais a que "mudar" pelos outros nunca vale a pena.
Mudar, crescer, evoluir e aprender são essenciais em nossa vida, mas por nós mesmos e não pensando no julgamento alheio. Essas pessoas, esse "ente" verbal e material denominado de "outros" sempre irão criticar e mal julgar porque, sendo a maioria, estão em constante conflito interior e, por isso, atribuem a nós seus problemas, conflitos e "defeitos". Os outros, enfim, sempre irão nos criticar por algum motivo, querer agradar-lhes é algo mais do que impossível, é algo estúpido.
Aliás, não existe mudança baseada na opinião dos outros, mas "adequação" apenas. E quem vive se adequando aos outros não têm a si mesmo, enfim, já perdeu sua essência na vida. De tanto se adaptar, se adequar, a pessoa se perde de si mesma. Fundamental é se conhecer, se aceitar, e, até mesmo se auto-modificar, mas movido pela própria vontade e necessidade sem pensar, exclusivamente, em agradar aos outros.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 23 de agosto de 2007.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Aconchego

Aconchego

As pessoas não são muito diferentes no que diz respeito à necessidades emocionais. Todo ser humano gosta de se sentir amado, cuidado. É um anseio que nos acompanha do berço até nosso fim, seja ele previsto ou inesperado. Vivemos desejando o aconchego, valorizando a sensação de sermos amados, estimados.
Pode a vida estar atribulada, a conta bancária semi-vazia, podem os clientes nos chatear, os devedores nos trapacearem, é no abraço, é ouvindo as palavras de quem nos ama que encontramos um elixir, uma força para enfrentar as dificuldades.
Ruim mesmo é buscar e não encontrar aconchego, compreensão, atenção, amor. Engana-se quem pensa que pobre é aquele desprovido de conforto na vida, pobre mesmo é aquele que não tem um ombro para chorar, uma mão para pegar, aquele que não tem ninguém para dizer que ele é importante em sua vida.
A felicidade esta nos pequenos momentos, ser feliz é uma questão de ânimo, de vontade, mas garanto que é mais fácil ser alegre devendo no banco e comendo costela barata com maionese no almoço de domingo, porém rodeado de pessoas queridas, podendo “sestear” ao lado de quem lhe faz sorrir, do que saborear um filé mignon ou uma picanha numa mesa vazia.
Pena que nem todas as pessoas saibam da importância que possui um afago, um abraço, um “eu adoro você” para o outro, muito embora gostem de recebê-lo. Via de regra, os indivíduos preferem dar a receber (individualismo ao extremo, egoísmo em alta). Todavia, de nada adianta sentir-se bem sem fazer o bem. Receber e não dar é o primeiro passo rumo à cova da solidão.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 10 de agosto de 2007.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

A justiça como ideal “quase morto”


A justiça como ideal “quase morto”

Cláudia de Marchi
[1]

Escrevo em estado de choque que, todavia não me faz perder a razão, afinal, ser brasileiro nesta época de corrupção aberrante, escândalos constantes, e da prostração pública diante do absurdo das ocorrências do mundo político e de acontecimentos trágicos e violentos que merecem atenção, enfim, frente ao caos que o País esta beirando (na melhor das hipóteses, em um dia mais pessimista poderia dizer que já esta inserido) exige uma certa complacência psíquica que torna nossos “choques” amenos, por serem, praticamente, rotineiros.
Pois bem, meu choque do momento foi com a decisão da 1ª Câmara Criminal de nosso Tribunal de Justiça ao negar Habeas Corpus impetrado por um casal residente em Porto Alegre em que pediam a inibição de eventual responsabilização penal e liminarmente a “liberação” para a consecução de uma “interrupção terapêutica da gestação de feto com cinco meses com diagnóstico de ausência de calota craniana e dos hemisférios cerebrais – anencefalia.”
[2]. O juiz da 1ª Vara do Júri da capital, Luis Felipe Paim Fernandes, negou a autorização para a prática do aborto, motivo pelo qual o procurador do casal ingressou com o mencionado Habeas Corpus.
Não sou médica e não intento discorrer sobre os efeitos da anencefalia, sobre a existência ou não da vida do feto. A grande maioria das pessoas tem noção do que seja, enfim os anencéfalos não possuem grande parte do cérebro, não tendo a pele que deveria cobrir seu crânio na zona cerebral anterior, nem os hemisférios cerebrais tendo expostos seu tecido nervoso e fibrótico. Basta pesquisar a respeito do tema, que se verá quadros horríveis que, com o perdão da franqueza, repugna ao estômago de qualquer individuo alheio à medicina.
Enfim, os fetos anencéfalos ou morrem no período neonatal em mais de 50% dos casos, ou, se chegarem a nascer a sobrevida é por pouquíssimo tempo
[3], enfim, após a descoberta do mal de seu filho a gestante passa a conviver com a certeza de que esta gerando uma vida que não irá existir em pouco tempo, ou, na opinião de alguns, sequer existe, afinal, onde esta a personalidade humana em “algo” sem cérebro, sem, sequer ter a seu favor a possibilidade de existir, de viver dignamente, enfim? Se a única certeza da vida a partir do momento em que nascemos é que um dia iremos morrer, para os anencéfalos (que sequer podem pensar) esta certeza é comprovada, sendo que, na maioria dos casos nem chegam a “nascer” (entendido o termo como “sair da barriga da mãe com vida”).
A liminar foi indeferida pelo desembargador Roque Miguel Frank que apreciou o mérito do Habeas nesta quarta-feira dia 25 de julho. O relator do acórdão Desembargador Ivan Leomar Bruxel relatou que “em 14 de junho foi realizada ecografia obstétrica que concluiu pela “gestação compatível com aproximadamente 15 semanas de evolução de acordo com exame prévio”; e com a seguinte observação: ‘ Na revisão da anatomia fetal não se observa presença de calota craniana e dos hemisférios cerebrais (Anencefalia)’ .
Quem já viu uma foto de criança anencéfala se espanta ao ver que a cabeça é aberta, não existe pele tapando o que ali esta ausente. É algo triste, lamentável. Penso, pois, nestes pais, mais especificamente na mulher, na mãe que terá que carregar dentro de si uma criança praticamente sem vida. Será que os julgadores que atuaram no processo, do juiz aos desembargadores possuem o mínimo de sensibilidade racional para pensar na dor desta mulher? Em seus traumas, abalos psíquicos, agonia e tristeza? Creio que não, na verdade, infelizmente, em meu ponto de vista tal decisão é irracional, ilógica e aberrante. Existem pessoas com cérebro, saúde e mente, mas que, certamente, não concatenam suas emoções, não conseguindo exercer a chamada compaixão, consubstanciada no nobre gesto do “colocar-se” no lugar do outro.
Ah, mas pensou-se na criança. Na vida, (desculpem-me as palavras diretas), sem vida. Na vida sem pensamento, na vida sem cérebro, na pseudovida de um ser que, em pouco tempo e, provavelmente dentro de sua mãe, deixará de existir. Nascerá morto. A medicina é assertiva nesses casos sendo que médicos do Hospital das Clínicas colocaram-se à disposição para realizar a interrupção terapêutica da gestação que, iria, inclusive, afastar o risco à mãe que possui o dobro de líquido amniótico considerado normal em seu ventre. Mas, com tal decisão os médicos e a gestante incorreriam em crime se agirem. A Justiça gaúcha deu seu “parecer”.
Justiça? Pergunto-me, aonde? Como advogada costumo apiedar-me dos leigos que crêem na Justiça, que chamam juizes, advogados e desembargadores de “doutores” como se fossem seres superiores, mais sapientes, mais corretos. São humanos, portanto errantes. Os advogados postulam, criam teses, argumentam, em sua linda tarefa de procurar a efetivação de direitos, os juizes julgam de acordo com o que os patronos das causas lhes levam. São pessoas normais, e sujeitas a várias influencias, inclusive à convicções morais e religiosas. Aliás, nossa sociedade é permeada pela influência da Santa (?) Igreja Católica e seus dogmas diversos.
Creio, no entanto, que em muitos casos, para ser justo o Direito e a Lei devem se afastar da religião. Falo isso em relação ao controle de natalidade, e, também em relação ao aborto. Todavia, no caso de fetos anencéfalos, creio que até mesmo os católicos mais fervorosos devem colocar em cheque seus arraigados valores.
Resta-me uma pequena alegria por saber que não foi unânime a decisão tendo voto a favor da interrupção da gestação proferido pelo Desembargador Marcel Esquivel Hoppe, que citou voto do Desembargador Manuel José Martinez Lucas, em processo julgado em abril de 2003 (70006088090), tendo afirmado que não vislumbrou razão jurídica relevante para desacolher a pretensão do casal.
De resto, sobra a decepção com tal decisão e um profundo pesar que me faz, em especial, por ser mulher, sentir uma profunda tristeza, e, porque não dizer, uma vontade de chorar pela mãe que até o presente momento não conseguiu seu intento e que, provavelmente terá que levar sua gestação adiante na certeza de que de seu ventre não sairá uma bela criança chorando, quiçá, isto sim, um ser de cabecinha exposta e morto, ou, talvez quase morto. Quase morto como nossa Justiça. Minhas condolências nobre e corajosa mulher. Minha lástima ao povo que ainda espera encontrar justiça nas decisões do Judiciário.

[1] Advogada e especialista em Direito Constitucional pela Fundação Escola Superior do Ministério Público do Rio Grande do Sul.
[2] Transcrito da notícia publicada no dia 27 de julho de 2007 no endereço eletrônico: www.tj.rs.gov.br .
[3]http://64.233.169.104/search?q=cache:eTy082qqs_AJ:www.usp.br/nemge/textos_relacoes_juridicas/anencefalia_silvafranco.pdf+anencefalia+e+efeito&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=9&gl=br.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Aprender e mudar


Aprender e mudar

A gente nasce, os pais nos educam, nos criam para sermos adultos e acabam "criando" vários adendos em nossa personalidade, alguns positivos outros não, de forma que, graças a criação que temos enquanto crianças, passaremos boa parte de nossas vidas tentando nos recriar para melhor vivermos.
Ruim ou bom, certo ou errado, não importa. A única coisa certa que existe é que não se pode esperar algo melhor quando, à pessoas errantes (como nós), é dada a missão de educar um outro ser. Inexistindo pessoas perfeitas, não existirá criação perfeita, do contrário não estaríamos neste mundo imperfeito.
Todavia, tão certo quanto o fato de que nossos pais fizeram por nós o melhor que podiam, nos criaram e nos deram aquilo que eles possuíam em suas mentes, enfim, fizeram o que sabiam, é que, se nos tornamos um pouco complexos, complicados ou presos a algo, depende apenas de nós a mudança e a evolução.
Constatar o erro é uma coisa, atribui-lo constantemente à quem nos criou sem que ajamos em prol da mudança é sinal de covardia e imaturidade. O homem vive aprendendo, desde que nasce esta exposto ao aprendizado, aprender é, pois, sinônimo de mudança. Ninguém continua a mesma pessoa depois de um aprendizado, seja ele conquistado numa queda, ou na calma do amor e da humildade de quem sabe que é possível aprender ouvindo e indagando.
Os pais devem criar seus filhos para o mundo, e estes devem se recriar para serem felizes, realmente, no mundo. Não existe instinto não vencível pela razão e pelo auto-conhecimento, não existe "reflexo educacional" não superável pela vontade de se tornar alguém melhor. Crescer, evoluir e se auto-modificar, eis a regra da vida do nascimento à morte e, quiçá, após ela.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 24 de julho de 2007.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

VERGONHA!

Vergonha!

Tem dias em que algo me incomoda. Acho que é uma vontade de gritar, de berrar, de esbravejar e, porque não dizer, de guerrear. Guerrear sem pensar em paz, em tranqüilidade, mas não uma guerra de psicóticos sanguinários, apenas uma revolução, uma luta contra tudo o que esta errado e me atormenta, me indigna. Uma luta contra o próprio instinto que recebi com meu sangue de pessoa gerada no Brasil: "Sou brasileiro e não desisto nunca" vem junto com um tal de "sou brasileiro e não me rebelo nunca".
Podem os políticos me roubar, posso pagar corretamente todos os impostos e continuar andando em rodovias cheias de buracos, desníveis e perigos, além de ter medo de sair da minha própria casa e ser assassinada ou violentada psiquicamente num assalto em que me levam os poucos trocados que tenho na carteira e que conquistei sendo uma "boa cidadã" brasileira que nunca desiste.
Posso pagar impostos, contribuições e taxas e contar com um sistema previdenciário de quinta categoria, com um sistema de saúde que é, na verdade um atentado ao equilíbrio físico e mental de qualquer individuo e me obriga a pagar quase cem reais por mês em um plano de saúde que mais me usurpa do que ajuda, não posso contar nem com saúde e segurança e já planejo colocar meus filhos que ainda não nasceram em escolas privadas.
O Sul trabalha, o Norte e Nordeste recebem sua assistência. E assim o governo distribui o peixe, mas não ensina os seus dependentes a pescar. Povo submisso, necessitado e sem cultura, votos garantidos. Mas a classe média queda-se silente na tranqüilidade de seus lares.
O País não funciona direito, o caos é aéreo, é térreo e desconfio que o fundo do mar seja o lugar mais seguro, apesar de ter vontade de para lá mandar esses larápios que convencem o povo, ou a ignorância e a leniência implícitas nesse jeitinho brasileiro vulgar, insosso e sem brio. Um País em que um desastre da aviação ocorre em terra, na hora do pouso. Um País em que demandas judiciais urgentes demoram meses para terem uma pseudo-resolução, em que liminares de máxima necessidade levam dias e quiçá meses para serem cumpridas.
Um Brasil em que as coisas não funcionam, não, ao menos, em benefício da população honesta, mas em que muita coisa funciona no que se refere a impunidade, a benefício dos mais abastados, terra onde organizações criminosas de colarinho branco, vermelho, verde ou encardido obtém lucros a custa da tolerância demasiada dos outros.
O povo que pensa e que ainda possui uma certa capacidade de indignação precisar ter força para lutar contra sua passividade, contra esse instinto, contra essa cultura lamentável e pérfida do "agüentar", do "esperar que um dia melhora", do "deixar passar", e do "esquecer" o que deveria ser inesquecível e tolerar o intolerável.
É preciso organização popular após a reflexão, é preciso que a população se rebele contra essa escória que domina o Brasil, contra a mídia engambeladora, contra a burrice contagiosa, contra sua tendência de passividade constante e não aceite com orgulho e sorriso nos lábios viver no chamado País do futebol e terra das bundas bonitas pena de continuar com a cara das mesmas assistindo esportes na televisão para esquecer da realidade. Até quando isso vai ser verdade e terei que ficar acordada pensando na imensa vergonha que me aflige?Vergonha de ser brasileira.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 19 de julho de 2007.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

O desdém aos "ex" dos recalcados

O desdém aos "ex" dos recalcados

Poucos atos humanos são tão ridículos quanto os que são albergados pela expressão "cuspir no prato que comeu". Aliás, por trás do ato de fazer pouco caso de relações pretéritas, de amizades antigas, enfim, de criticar o que outrora foi cultivado e estimado, esta um grande recalque: Se hoje se critica o que um dia se teve é porque, por um motivo ou outro, não se conseguiu manter o que era "estimado".
Pessoas terminam casamentos, afastam-se de pessoas que lhes eram bem quistas e não hesitam em criticar, falar, atribuir ao outro suas mazelas, olvidando do fato de que nada finda por si só ou por culpa de uma pessoa apenas. É fácil atirar pedra no telhado alheio, difícil é perceber que o seu é de vidro.
De todas as alegações ingratas e afirmativas típica de indivíduos tolos e sem auto-estima a pior é a de que "ela não me fazia feliz". Aliás, como advogada eu ouvia muito essas expressões (por isso não atuo com freqüência na área de Direito de Família, prefiro até mesmo Direito Criminal): A pessoa viveu 15 anos com a outra e depois pára na sua frente e com fel na língua desabafa o que acha ser certo e justo sem perceber que a cada palavra dirigida contra o outro esta, implicitamente, lançando duas contra si mesma.
Ora, se o outro "era" de tal forma, porque ficou anos de sua vida com ele? Como o amou? Logo, para cada adjetivo em desabono alheio surgem dois (ou mais) substantivos contra quem lhes diz: Ignorância, carência e quiçá a expressão "pouco apreço por si mesmo". Enfim, falar mal daquele que ficou anos ao seu lado é um ato, no mínimo, tolo. Existem motivos para o fim da relação? Ótimo, então que se falem neles sem que haja necessidade de despejar um caminhão de mágoas mal resolvidas.
Sempre digo que julgar não é um bom hábito, mas a análise racional do outro é um pouco menos negativa. Ver o que de fato é verdade, analisar a conduta de ambas as pessoas, e buscar ser justo, sem depreciar o outro, apenas constatando suas reais mancadas, porém sem buscar "culpa alheia" quando os deméritos devem ser divididos. Sem estender, de forma cega e irracional, críticas do que sequer merece ser criticado.
O mesmo vale para quem viveu em união estável ou namorou alguém durante anos e sai criticando, e, pior ainda, fazendo-se de vítima do outro. Aliás, este é um gesto mas comum dentre as mulheres. Depreciam aquele que amaram, e que, quiçá fazia pouco caso de seus sentimentos, mas pelo qual eram apaixonadas e ousam culpa-lo pela sua infelicidade no período em que estavam em sua companhia.
Cada pessoa é o respeito que tem por si. Quem não se ama e valoriza não é amado nem valorizado, isso é uma verdade. Ademais, ninguém é obrigado a amar ninguém, e reconhecer o fato de que, simplesmente, não eram amadas é mais difícil do que criticar ao "ex" (que lhes gerou grandes recalques afetivos) e supervalorizar sua companhia atual como uma forma de abafarem o grito do inconsciente: "O fulano por quem eu morria de amores não quis ficar, namorar ou casar comigo!".
Aliás, o (a) "ex" calhorda pode ser um (a) excelente amante para outra pessoa. E é isso que incomoda quem, lá no fundo, conserva o recalque de não ter sido bem amado (a), e insiste em apregoar os defeitos alheios apimentados com uma dose dupla de fel, de desdém. Desdém típico dos recalcados que não tem a classe de calar-se ao falar de quem um dia amaram e por quem, um dia, chegaram a se humilhar.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 12 de julho de 2007.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Mudar e renascer

Mudar e renascer

Realmente, triste não é mudar de idéias, mas não ter idéias para mudar, Francis Bacon disse isso com muita adequação. Aliás, o verbo mudar, amar e renascer são os mais belos de todos. Mudar é sinônimo de viver. Aqueles que estão nesse mundo, reclamando, remoendo problemas e neuras, se sentindo culpados por tudo ou culpando aos outros apenas existem. Quem vive reflete sobre a vida, sobre si mesmo, sobre o mundo, quem vive ama intensamente e curte todos seus minutos com alegria, é, pois alegre por estar vivo.
Mudar de idéias, mudar de rumos, mudar de ideais, mudar de sonhos e, mais do que tudo, mudar a si mesmo é imprescindível. O homem renasce a cada passo dado, a cada defeito reconhecido, a cada viagem que faz dentro de si mesmo e de seu coração. Não há nada mais triste e lastimável do que uma pessoa que não consegue olhar para dentro de si mesma sem desejar fugir.
Talvez a mais perigosa das viagens seja a interior. É lá em nosso íntimo que iremos encontrar monstros negros chamados de Medos, cobras gigantes chamadas de Mágoa, leões ferozes chamados de Ódio que vivem perto dos tigres denominados de Ira, aranhas de veneno letal chamadas de Arrependimento, e alguns lobos chamados de Ressentimento que vivem juntos com suas fêmeas, as lobas chamadas de Culpa.
É olhando para dentro de nós que veremos o que temos que vencer, o que precisamos superar para nos tornarmos pessoas melhores e, principalmente, almas libertas e felizes sabendo que essa responsabilidade é unicamente nossa. É apenas após nos desprender dos predadores interiores que iremos encontrar o equilíbrio necessário para a construção de uma vida e relacionamentos equilibrados e alegres.
Navegar é preciso, disse Fernando Pessoa. Se aventurar por dentro de si mesmo, viajar por entre lembranças, por entre recalques e anseios mal resolvidos, a sós conosco, sem máscaras, sem fuga, sem atribuir a ninguém nossas características infelizes é mais do que necessário para a construção de uma personalidade saudável.
Eis que eu mudei de idéia: Se outrora era contra a instrução psicológica e psicanalítica hoje digo que os primeiros são os melhores instrutores do ser humano nessa viagem interior que denomino de "Viajem do Renascimento" onde iremos matar o que nos aflige independentemente de termos consciência deste fato.
Sem preconceitos: Psicólogos e psiquiatras não são para "loucos" são para pessoas que são saudáveis a ponto de saber que devem e desejam mudar. E, ainda que fossem o fato é que de "médico e louco todos temos um pouco", esperar o que de pessoas que foram educadas, criadas por seres humanos e não por Anjos ou Santos? Seres errantes e com muitas idéias erradas que se aproximam da sabedoria na medida em que reconhecem este fato.
Insanos mesmo, ou, pior, ignorantes são aqueles que acham que o mundo e quem lhes cerca deve mudar, mas eles não. À estes tragam a camisa de forças, ou os deixem na solidão, remoendo o sentimento de que são vítimas da humanidade, de que são coitados solitários, até um dia em que a benção da lucidez recaía sobre seus espíritos e eles consigam ver a realidade do que fizeram com suas vidas enquanto imergiam-se em orgulho. Aliás, o orgulho e a arrogância aproximam o homem da insanidade. Da insanidade torpe, da insanidade tosca e ignorante.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 10 de julho de 2007.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Hoje é o dia


Hoje é o dia

Hoje é o dia da vida. Não adianta remoer fatos pretéritos, cultivar ódios, mágoas, raiva contra os outros ou contra si mesmo. Hoje é o dia de viver porque amanha a gente não sabe onde estará. Viver cada dia como se fosse o último. Plantar as sementes dos sonhos hoje, visualizar a colheita no amanha, mas amar, ser alegre, ser feliz e curtir bem o dia de hoje, porque a vida é agora.
Impossível viver sem planos. Quem não planeja não ama, não se ama, não vive. Ter metas e sonhos é sinônimo de esperança, agir de forma a realiza-los é indício de coragem e força de espírito, mas viver o presente com alegria desejando mante-lá no amanha é sinal de sabedoria.
O mal dos homens é que eles esquecem de ser felizes no momento pensando que amanha, quando os honorários chegarem, quando o devedor pagar, quando o filho se empregar, quando a lipo for feita, quando a dieta acabar se sentirão felizes. Mas o amanha talvez não aconteça e nele podemos deixar a memória de nossos sonhos e planos, mas, nunca sentimentos não sentidos intensamente.
Vamos viver bons momentos com quem amamos como se não existisse outro dia. Vamos pedir perdão para quem magoamos, vamos fazer ao outro o que queremos que ele nos faça, sem trair, sem trapacear, sem mentir. Sejamos carinhosos, atenciosos e pacientes. Não nos deixemos contaminar por pensamentos negativos, por ciúme, ira, ou ódio. Vamos ter tranqüilidade de espírito, paz e alegria de viver no presente.
Vamos fazer nossas refeições com um pouco mais de calma, vamos tentar ouvir àqueles que querem, apenas, desabafar suas agruras, vamos dar mais atenção à nossos pais sem julga-los ou critica-los. Façamos amor como se fosse a última fez, beijemos como se nunca mais fossemos ter tal prazer.
Gozemos a vida hoje com a intensidade típica do espírito que esta ciente de que o futuro é incerto e que planos podem ficar sem ser realizados, mas sentimentos guardados na gaveta do "amanha eu faço" não. A dor pela falta de realização desses, certamente é forte. O certo é que passamos a vida buscando bens materiais e esquecemos, muitas vezes, de sentir. De sentir amor, de sentir compaixão, deixamos nossa alma de lado para cuidar daquilo que, certamente vamos deixar nesse mundo, enquanto ela sempre irá nos acompanhar, inclusive com o arrependimento de não ter amado mais, sentido mais, vivido mais.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 09 de julho de 2007.

Perdão

Perdão

Toda mudança pessoal requer perdão. Viver é ter que perdoar, é ter que exercitar o perdão, por mais que tente é impossível ao homem olvidar dessa realidade. Precisamos perdoar sempre, ou a alguém ou a nós mesmos por não termos agido ontem com a mesma sapiência que, talvez agiríamos hoje e, por isso lastimamos nossos atos pretéritos nos mais variados "âmbitos" de nossas vidas.
Ora, mas o que somos se não o produto daquilo que fomos no passado somado ao aprendizado que obtivemos, inclusive e, principalmente, com nossos erros?Então, porque não nos damos a chance de aceitar nosso passado e aquilo que não podemos mudar, para sermos felizes no presente e no futuro?
Aceitar o que não podemos mudar é uma sábia forma de nos perdoarmos.Ter conosco a certeza de que se erramos foi porque não sabíamos muita coisa que, talvez, a vida tenha nos ensinado com o passar do tempo. Nenhuma lágrima derramada, nenhuma frustração é em vão nessa vida.
Quanto a perdoar os outros basta que entendamos que as pessoas são imperfeitas e que, nada acontece por acaso, logo, não adianta nos sentirmos vítimas de males alheios. Se assim agirmos estaremos cultivando o ódio não apenas do outro, mas, principalmente à nós mesmos. Estaremos, pois, conservando nosso coração infeliz num freezer de mágoas.
Se fomos "vítimas" de algo foi porque agimos de forma compatível com os intuitos alheios, restando-nos, pois perdoar e nos libertar da ira e do ódio que aprisionam nossa alma, para que possamos ser leves de espírito e felizes novamente, ou passaremos a vida remoendo a mágoa que não mata nem fere ninguém. Ninguém, com exceção de nós mesmos.
O perdão é uma chave para a porta da alegria, da tranqüilidade e da harmonia de espírito. Não é fácil perdoar, tampouco se perdoar. É preciso perseverança, amor próprio, amor à vida, paciência, e força de espírito. Todavia, o resultado é rejubilador e, certamente, gratificante. De todas as batalhas que o homem possa enfrentar as mais difíceis são as interiores. E o homem que vence seus instintos negativos, seu ódio, e a falta de perdão que carrega consigo venceu a pior das batalhas e conquistou a liberdade mais importante: Libertou sua alma.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 09 de julho de 2007.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

A cultura do menosprezo

A cultura do menosprezo

A grande maioria das pessoas foram educadas sob e égide da "cultura do negativo e do menosprezo". Poucos elogios, poucas afirmativas a respeito da magnitude, bondade, beleza e correção das atitudes e das pessoas, pelo contrário, pode-se agir certo sempre, diante do primeiro erro surge a reclamação, as alegações enfáticas e quase dramáticas que ferem a auto-estima alheia e tendem a indiciar ao outro que "tudo" é errado e que "tudo" sempre é ruim, afinal sobre o bem ou sobre o bom não se comenta, não se faz alardes.
E, assim as pessoas levam para suas vidas a "cultura negativista" que menospreza o bem e o bom dos outros para fazer ode à seus erros. Não elogiam ao outro quando ele esta elegante, bonito e alegre, quando dá uma opinião inteligente e sensata, não elogiam diariamente a comida da mãe, da esposa ou da doméstica, mas quando o sal é demais (ou de menos) urgem reclamações.
O desejo pelo "reconhecimento" é algo natural do ser humano o que não implica, necessariamente, numa obstinação, mas, isto sim, é um anseio normal, comum, que todos possuem, mas que costuma ficar latente porque, bem ou mal, todos se acostumam com esse estranho "funcionamento" da vida - poucos, ou quase ninguém, "reconhecem" o bom ou o bem que é feito.
Todavia, é quando somos deparados com uma crítica negativa que revive em nós aquela sensação, o anseio de reconhecimento vem como se fosse regurgitado, e pensamos: "Porque ele (a) nunca comenta ou elogia quando ajo ou estou bem?". É normal, e é nesse momento que fica evidente os efeitos lastimáveis dessa forma de viver que o homem manteve durante e que, praticamente, se tornou hereditária.
É a cultura do menosprezo, a cultura do orgulho, da falta de carinho. Os pais não elogiam seus filhos pelo bom comportamento durante 6 dias da semana, mas xingam, batem e gritam graças a "arte" que fizeram no domingo, e, assim, lá no fundo, muitos criam a idéia: "Então, do que vale ser bom se nunca reconhecem e se, por um erro sou tão castigado?".
É preciso, pois, que os pais passem muitos outros "bons valores" aos filhos para que eles não se "rendam" a esta forma vulgar, mas humana e óbvia de raciocinar e não se tornem pessoas mentalmente perturbadas e, quiçá, delinqüentes. Enfim, teriam muitas mudanças as relações humanas se essa cultura fosse transmutada para a cultura da virtude, para a cultura do elogio sincero e do afeto.
Elogiar o que é bom, fazer comentários sobre as ações justas, sobre as menções agradáveis, sobre os atos legais, elogiar o outro, física ou psiquicamente, e não menosprezar e criticar quando, em uma eventualidade, o outro desagradou. Agir assim traz mais harmonia nos relacionamentos humanos da mesma forma em que é uma forma de agir que deixa claro que o que vale a pena é ser bom, é agir bem.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 04 de julho de 2007.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Pseudo-adultos

Pseudo-adultos

Ser adulto. Ser criança. O que significa, na verdade, “ser adulto”? Dizem que a separação dos pais abala a estrutura psíquica dos filhos, das crianças. Meus pais se separaram e procurar uma psicóloga foi minha melhor opção depois de 6 meses de turbulência emocional. Ora, mas eu não sou criança, sou adulta. Será?
Ser adulto é sinônimo de independência psíquica e financeira, é ter sonhos e correr atrás deles sem ser levado no colo, é não depender do consentimento alheio para fazer o que se deseja. Pois, estas são características do mundo das pessoas mais velhas não significa muito, não significa um atestado de maturidade e sapiência mental.
Não significa nada mediante as inúmeras surpresas que a vida nos prega, diante daquelas que nos deixam sem chão, que nos fazem sentir perdidos, meio sem rumo, como foi o caso da separação que mencionei.
Quando os pais se divorciam e possuem filhos pequenos eles passam a agir com os menores de forma a suprir-lhes a carência. Os mais conscientes dialogam, explicam, dão apoio, dão força para as crianças, e elas acabam amadurecendo, mas sem ser cobradas, exigidas e pressionadas à isso.
Quando pais de adultos, ou melhor, quando pais daqueles tidos como adultos, se separam eles pedem apoio aos filhos e acabam negligenciando os efeitos do divórcio na mente do individuo que, certamente, estava imersa em algumas ilusões. “Mamãe e papai se amam, vão viajar juntos e esperar os netinhos chegar daqui uns anos”:Ilusão. Sonho. Engano.
E, foi nessas circunstancias que eu cheguei a conclusão que adultos são, realmente, os homens que não se iludem, são aqueles que não possuem mais nenhuma idéia romântica, nenhuma ilusão a respeito de suas relações, a respeito do mundo, e da convivência alheia.
A partir do momento em que estamos, no presente, fazendo planos (ainda que no silêncio de nossas almas) para o futuro estamos criando alguma ilusão porque, do amanha, nada sabemos. Ele é incerto e, pensando nele, visualizando ele, estamos tendo a mesma pretensão que tem uma criança ao dizer que “quando crescer quer ser médica”.
(Faço, pois, literalmente, um parêntese: Que graça tem a vida sem nenhuma ilusão? Sem nenhuma esperança, nenhum sonho? Os adultos se tornam mais alegres quando deixam a criança que tem em si aflorar. Há, portanto de se ter a sapiência para faze-la dormir na grande parte dos momentos, o que nem sempre é fácil.)
Acredito, pois que é impossível ser sempre adulto. Muito embora as pessoas sejam maduras elas não conseguem viver sem expectativas, sem risos, sem piadas, sem cometer um ato irresponsável de vez em quando, ou, simplesmente sem sonhar, sem esperar um amanha melhor em algum aspecto de suas existências. A grande parte dos homens é, portanto, pseudo-adulta. Ainda bem.
Essa é a graça da vida e na vida humana, a tarefa, porém, é buscar a sabedoria, é aprender, com a dor, ou através do amor, a superar as crises, assimilar a dor e seguir adiante, ainda que para isso seja preciso recorrer a algum profissional ou a um ombro bem amigo em alguma circunstância. O essencial, na verdade, é o desejo pelo aprimoramento pessoal.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 04 de julho de 2007.

O amor e suas fases

O amor e suas fases

O amor muda de formas com o passar do tempo de forma fazendo com que os relacionamentos tenham algumas fases, cada uma com sua graça, com seu brilho. Não é, pois, o amor quem morre ou finda são os homens que o abafam com sua ansiedade, insegurança e ilusões demasiadas.
No início de qualquer relacionamento existe a magia do “descobrir” o outro. Dois desconhecidos juntos por um motivo apenas - um sentimento, algo inexplicável que, por prudência, nem deve ser chamado de amor. (Talvez seja o “prelúdio do amor” incentivando as pessoas a se conhecerem, afinal nada acontece por acaso.)
Depois de algum tempo, surge o conhecimento das virtudes e dos defeitos (sim, porque onde os defeitos não são conhecidos – e respeitados- não há amor, e sim um sentimento que acaba tão facilmente quanto arrebata), e a admiração pelas primeiras, fazendo emergir o encantamento.
Inexiste amor sem admiração pelas virtudes alheias. Não pela beleza física, mas pela beleza da alma, do coração. Por mais belo que seja um individuo ele não será apenas por isso capaz de cativar o amor de alguém. É preciso muito mais, é preciso ter valores que não serão amenizados com o tempo.
Com o passar dos anos, a admiração se mantém, mas alguns defeitos podem começar a incomodar. Juntos, unidos, o casal se sente mais “à vontade” para expor alguns pensamentos que podem ser incomodativos e, talvez, não fossem expostos na fase inicial do romance. Todavia, ambos estão seguros de seus sentimentos. Surge um amor mais “tranqüilo”.
Cada fase com seu brilho: No início a empolgação, misturada com uma certa ansiedade e insegurança perniciosa, com o passar do tempo a segurança, o entrosamento, o “conhecer-se pelo olhar”. A fase onde o diálogo se torna mais liberto de receios, de medos. Brigas menos freqüentes, ou, ao menos, mais facilmente findadas.
E assim a vida segue. A paixão diminui, o tesão não. A atração pelo outro continua quando o amor é verdadeiro e quando o sexo é bom, ou melhor, excelente entre o casal. Curiosidade?Anseios poligâmicos? Podem até surgir, mas uma pessoa que ama verdadeiramente sabe que não vale a pena arriscar perder uma pessoa especial, que lhe despertou tão nobre sentimento apenas por um anseio carnal tosco.
O sexo não oferece muitas novidades e variações (quando já são feitas com quem se ama entre quatro paredes), logo não é válido arriscar um amor por uma bobeira. O gozo é sempre bom, mas não é, tampouco será tão prazeroso quanto o que se tem com quem se ama.
Têm-se filhos, superam-se crises, brigas, tpms, estresses masculinos, etc. E a paciência urge, sempre, como uma necessidade, como a base da compreensão e a aceitação de que, não é porque o amor mudou de formas no curso da relação que ele tenha morrido. É preciso redescobri-lo, reinventa-lo, compreender que depois de anos de união nenhum dos cônjuges é o mesmo. É preciso se “reapaixonar” pela “nova” velha companheira (o).
Paciência e inteligência são ingredientes indispensáveis para a mantença de uma relação duradoura. Alguns duvidam que isso possa ocorrer, ou por serem muito românticos, ou por serem demasiado materialistas. Mas, ambos, certamente estão bem equivocados e sendo pouco racionais.
Uma pessoa madura sabe o que quer, e sabe que amor de verdade não se encontra em qualquer esquina, logo compreende que não custa se dedicar ao relacionamento, se autocompreender, entender o outro, ser paciente e lutar pela mantença daquilo que é sincero e, apesar dos pesares, puro. (O amor aproxima os homens de Deus.)

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 04 de julho de 2007.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Os "classe média" delinqüentes

Os "classe média" delinqüentes

O que leva jovens com um futuro promissor pela frente a espancar uma desconhecida e, posteriormente, afirmar em sua "defesa" que o fizeram porque acreditavam que ela era uma prostituta? O que faz, portanto, com que seres humanos tenham atitudes inferiores as dos animais selvagens (afinal o ser humano, diz-se, é "racional")?
O drama da doméstica carioca Sueli que foi espancada por jovens "classe média" num bairro de alta classe do Rio de Janeiro comoveu o País, todavia, mais do que revolta o fato deve fazer as pessoas refletirem. Deve, no mínimo, tirar o sono dos pais, daqueles que, corajosamente, resolveram colocar vidas no mundo e por elas possuem grande responsabilidade.
Pais não são perfeitos, são seres humanos, porém seu dever é educar seus filhos da melhor forma possível. E educar não consiste em dar mordomias, dinheiro, em colocar os filhos em "aulas" variadas: idiomas, ballet, futebol, piano, violão. Educar é dialogar, é interagir, é ter contato, é, acima de tudo estar no justo limite da amizade e da imposição de respeito. Saliente-se respeito conquistado no amor e pelo amor e não no medo, no receio de gritos e surras.
Pois bem, o que chamou a atenção da maioria das pessoas foi o fato dos delinqüentes serem de classe média. Afinal, reside no imaginário popular que apenas pobres podem ser bandidos, podem ser delinqüentes. Pensamentos preconceituosos de uma sociedade exclusora, estigmatizadora e pouco racional. Pouco, na verdade, sensível e esperta.
Eu não me espantei com a classe social dos rapazes. Estudei nas melhores escolas, fiz faculdade em Instituição de Ensino Superior privada e posso afirmar que conheci pessoas cruéis. Frias como gelo, tolas como um gato girando ao redor do próprio rabo. Dinheiro e classe social não remetem, nem nunca deveriam remeter o pensamento humano à existência de (bom) caráter, honestidade e boa educação.
Me espantei, pois, com a capacidade daquelas pessoas. Daqueles jovens "bem nascidos" e preconceituosos. Mais do que isso, com as afirmativas dos pais: "Se meu filho vier a ser condenado ...". Eu gostaria de ouvir "meu filho deve ser condenado e ...". Infelizmente, o Estado deve reprimir (e, sabe-se bem, teoricamente), tentar corrigir aqueles que saíram de casa sem correção. Deve, enfim o Poder Público tentar castigar aos mau educados pelos pais, ou pela vida, no caso dos infratores da lei pobres cuja educação familiar é inexistente - são largados ao léu por uma mãe de pai (possivelmente) desconhecido ou presidiário. Esta é a realidade de muitos, mas não a do caso que comento.
Disse Pitágoras do alto de sua sapiência: "Eduquem as crianças e não será necessário castigar os homens". E é verdade. Não que a "culpa" por tudo seja dos pais, mas alguma falha existe. Sobrou mimos, dinheiro talvez, na criação dos rapazes, mas faltou o ensinamento, a instrução do que seja compaixão, piedade, sensibilidade. Faltou, talvez, uma criação mais "espiritualizada" que dissesse: "Meu filho, não faça ao outro o que não queres que te façam". Quem gostaria de apanhar no rosto com ponta pés, covardemente?
Não estou apregoando a religião como meio, mas a valorização do ser humano como igual independente de classe social ou profissão (bateram porque acharam que era "prostituta"?!), mas o respeito ao homem, e para tanto, uma visão menos materialista, mais espiritual e sensível do mundo seria fundamental. Cristo disse muito, porque não retornar à seus ensinamentos, porque olvidar de suas palavras?
O homem não é sapiente por saber falar inglês e espanhol, por ter habilidades sensacionais com informática ou por ser filho de Desembargador, o homem só possui nobreza se possuir sensibilidade, se tiver empatia na vida. Não falo de crenças, de fé, de ir todos os domingos à Igreja, falo da valorização das palavras cristãs. Falo da necessidade de "amar ao próximo" como a si mesmo adaptado (por mim) à verdade humana e errante: "Respeitar ao próximo como se deseja ser respeitado".
Educar é repreender quando necessário, e, hoje, mais do que nunca se sabe da importância do diálogo. Os bons pais são aqueles que abdicam do egoísmo, que aprendem a conhecer seus filhos, aqueles que pensam no caráter do adulto que estão ajudando a formar e com eles, desde a infância, interagem como amigos experientes, que pelo amor que dão têm deles o respeito e a estima. São aqueles que, independente da religião, ensinam a importância da compaixão, do "colocar-se" no lugar do outro, enfim.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 02 de julho de 2006.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Espaço de esperança

Espaço de esperança


Vejo que minha vida reside num pequeno espaço entre a realidade bem quista ou desprezada, e entre o que eu imagino, entre o que eu gostaria que ela fosse. Talvez o espaço que meu mundo ocupe entre essas duas existências não seja tão pequeno, eu é que, às vezes, me sinto esmagada pela realidade das circunstâncias, pela "vida como ela é" e as pessoas "como elas são".
É inevitável olhar para o mundo e se sentir um tanto perdido de vez enquanto: Onde esta a harmonia, a sinceridade?Onde foi parar a lealdade, a fidelidade e o respeito mútuo nos relacionamentos amorosos? Para onde foi a probidade dos políticos, quando foi mesmo que a Justiça deu um tapa na cara do Judiciário e fugiu com uma mala de dinheiro para a Suíça?
Em que estrada nas curvas dessa vida o real sentido do amor cedeu lugar à ode a fugacidade, onde ninguém valoriza ninguém ao menos que seja por ele beneficiado? Quando foi que a educação deu lugar à grosseria? Porque a auto-estima saiu com seu carro simplório (mas pago) e deu sua vaga no estacionamento ao "convencimento barato" que ostenta mais valores e auto-valor do que possui?
Todos temos dias em que padecemos do que chamo de "Complexo de Alice" (Cadê as maravilhas neste mundo?), mas ele passa, ou melhor, ele dá uma dormidinha dentro de nós porque se deixarmos ele acordado diariamente nos tornaremos pessoas chatas. Quem reclama demais é chato, quem questiona demais, igualmente. E como, no fundo, abominamos a solidão recolhemos nosso complexo e fazemos ele nanar, se ele não quiser damos um calmantezinho para o coitado repousar em paz na nossa alma inquieta.
Todavia, não tenho medo de ser chata comigo mesma. Não me conformo e nunca me conformarei com muitas coisas. Prefiro gente que reclama do que gente que se conforma, cruza os braços e vai ver novela. Portanto, apesar de não ser a Alice eu cultivo em meu coração um espaço. Parece nome de "nova igreja" (existem tantas hoje em dia, o que comprova a carência humana de algo supra-material, sobre-humano, porque essa vida de gente é muito "defeituosa"), mas não é, este lugarzinho se chama espaço da esperança.
Nele eu guardo a esperança de que, ao menos em minha vida, o que eu puder farei diferente, viverei de forma diferente. Farei o que acho correto, viverei como acho justo. Sem fazer aos outros o que não desejo para mim. Uma vida baseada na sinceridade, na honestidade, na lealdade e na fidelidade. Se o amor disse "tchau", se a paixão, ou o tesão foram embora, é melhor findar a relação.
Sempre: melhor findar do que trair. Não me conformo com a traição em aspecto algum, com a forma "natural" com que as pessoas falam dela, por exemplo, como se o outro não fosse nada, como se não fosse sentir, se magoar e se ferir. Este é apenas um exemplo. Trago no peito a fé no amor, embora a descrença total no casamento como forma de união e caminho para o "pra sempre", que, sempre acaba.
Ou não?Nos espaço de minha esperança o para sempre não finda, mas também não precisa de assinatura, testemunhas, juiz de paz e padre para atestar nada. O amor é vivido cada dia como se fosse o último sem que se precise "oficializar" nada. Este "ofício" gera uma espécie de "segurança negativa" na maioria das pessoas, que, a partir dele "mudam" como se tivessem adquirido o outro (para sempre, diga-se). E isso é uma praga na plantação de um amor que se deseja, dure para sempre.
Enfim, ainda acho que na minha vida o que depender de mim será feito de forma diversa. Talvez eu ainda tenha a inocência de que posso fazer diferente ou a prepotência de que poderei estar imune há algumas mazelas. Talvez, mas eu acho que ainda mantenho um certo romantismo calejado em meu coração. Para todos os efeitos, sobra fé no espaço de minha esperança, que reside num cantinho da minha alma.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 26 de junho de 2007.