Animal sentimental
Eu tenho "problemas" com a mentira, com a
infidelidade e com a insensibilidade: não sei viver sem ser sincera, sou
incapaz de enganar quem me rodeia, não sei ser infiel e desleal e, sobretudo,
não sei "não gostar" do que e de quem me apraz.
Não sei trair a confiança alheia, não sei gostar de
mais de uma pessoa ao mesmo tempo, afinal eu gosto demais de mim para me
entregar à vulgaridade com que algumas pessoas encaram a vida e seus próprios
sentimentos.
Confesso que nem sempre meus atos se coadunam com
meus pensamentos, confesso que eu tento ser mais forte, mais decidida, mais
alheia a sentimentalismos do que eu realmente sou.
A sensibilidade pode ser cruel. Ser capaz de se
envolver, ser capaz de se entregar, ser capaz de acreditar nos atos e nas
atitudes alheias pode ser difícil, pode ser arriscado e dolorido, então, às
vezes eu brinco de “faz de conta”.
Tento fazer de conta que a chave para a minha
confiança está mais bem escondida do que, de fato, esta, tento fazer de conta
que posso ser uma “mulher moderna”, tento fazer de conta que não sofro, que não
choro e, quiçá, que não sinto.
Tento, enfim, fazer de conta que eu mando nos meus
sentimentos, mas não mando. Eu sou um animal sentimental e, como disse o poeta,
me apego ao que desperta o meu desejo. Assim como “fazer de conta” não mudava o
nosso status na infância, ele não muda nada depois que somos adultos.
A gente é o que a gente é, existem aqueles que
sentem, que conseguem sentir algo, existem aqueles que possuem sentimentos e
existem os que não têm e nunca terão: “fazer de conta” não muda nada, nem para
uns, nem para outros.
Cláudia
de Marchi
Passo
Fundo, 16 de maio de 2012.
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