Sobre o verdadeiro pecado!

Sobre o verdadeiro pecado!
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Seres que se tornam "presentes".

Seres que se tornam “presentes”.

Certa vez me falaram que Deus às vezes nos fala pela boca de outras pessoas. E no decurso do tempo de minha existência passei a ver que é verdade, que da boca de um desconhecido por sair algo que ilumine nossas idéias e o rumo que daremos à nossa vida.
Também acho que em determinados momentos de nossa vida Deus nos envia anjos em corpos humanos para secarem nossas lágrimas nos dando carinho, alento, entusiasmo, afeto, e, quiçá, uma nova crença no amor.
Nada nesta vida é em vão, sequer as ofensas que nos são ditas, e nos fazem de alguém desgostar ou desprezar, são à toa, elas podem nos servir para mostrar quão mal acompanhados estávamos sem termos percebido. É um direito humano o de ser respeitado. É um direito de todas as mulheres e homens de serem abraçados, acarinhados, beijados, bem tratados, bem, muito bem amados, em especial quando sabem bem amar.
E é por isso que olhando para as pessoas e seu entusiasmo nesta época de transição que é o término do ano, vendo que mais do que presentes comestíveis ou perecíveis Deus nos presenteia com pessoas de bom coração e alma pura para nos fazer felizes, que eu vejo o milagre que é viver.
Pessoas que irão segurar nossa mão em momentos alegres ou de dificuldade, que ao nosso lado não nos deixam ver as horas e minutos passarem, faz, conforme dito, confirmar a minha teoria de que viver, de que estar vivo é um milagre que deve nos bastar para contentar nossa alma que insiste em querer mais do que possui olvidando do que esta na sua frente e das dádivas que estão ao seu redor.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 29 de dezembro de 2008.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Indiferença

Indiferença

Como é triste para o homem a sensação de indiferença. Triste, é claro para aquele objeto do sentimento por parte alheia. Aquele que já ouviu desaforos demais, que já viu muitas cenas de perda de controle do outro, e, de repente tudo o que passa a sair da sua boca não tem mais o mínimo valor para lhe afetar o ego.
Palavras agressivas, afirmativas bruscas, ofensas morais, tripudio de sentimentos e afirmações, nada afeta aquele que se tornou indiferente ao outro e seus devaneios.
Não sente nada, absolutamente mais nada de tantas que foram as vezes em que, perdendo a controle sobre si mesmo o outro falou o que não devia e voltou atrás. Logo, qualquer afirmação que faça, positiva ou negativa, passa a não ter valor algum para aquele que as ouve.
Pobre do homem que deixa suas relações chegaram a tal ponto, perdeu o respeito por si mesmo e pelos demais, ao ponto em que tudo que possa falar ou fazer para atingir alguém termine batendo no escudo, por este formado, chamado indiferença. E ser indiferente a quem demonstrou não merecer nosso prezar, cá entre nós, é uma das sensações mais prazerosas do mundo.

Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 27 de dezembro de 2008.

Quando a vida puxa nosso tapete.

Quando a vida puxa nosso tapete.

Os homens podem perder muitas coisas dentre eles, a fé, a confiança, a admiração, o amor, mas o respeito, jamais. Perder o respeito por quem convivemos no presente ou no passado é jogar podridão em cima de piso limpo.
Ter raiva, revolta, falar palavras ofensivas? Todos, alguma vez na vida já o fizeram. Mas tripudiar de forma vulgar, de forma baixa, demonstra ausência de caráter, ou, como diria minha mãe um “caráter marginal”.
Existem coisas que ainda que sejam ditas com mero propósito de criar mágoa ou vingança não devem ser ditas nem para nosso pior inimigo. Acredite o homem ou não, o universo tem suas leis, e uma delas é a do retorno. Se a palavra dita pode não voltar atrás, o resultado de sua afirmação volta para o ofensor na forma dos mais variados sofrimentos.
Não à toa existem tantas pessoas sofrendo nesta vida. Pelo Universo nada passa impune: Nenhuma palavra mal colocada, nenhum ato estúpido, nenhuma ofensa exagerada, nenhum ato de brutalidade física ou verbal, nenhuma enganação voluntária ou não, nem mesmo o orgulho passa impune.
Algo sempre acontece para mostrar ao homem o seu lugar: Ao lado dos demais, nem acima, nem abaixo, um mero vivente, errante neste planeta chamado Terra, quiçá mais infeliz do que os outros, porque o orgulhoso sofre em dobro: Por ter tal sentimento e por ver que por mais que queira não é melhor do que ninguém.
Infeliz aquele que algum dia se sentiu superior e se agarrou a este fato para manter sua estima própria elevada. A vida passa, ele pode continuar se sentindo acima dos outros, enquanto estes o julgam com piedade, com dó, simplesmente porque a vida passou e ele não encontrou o seu lugar: O mesmo do de todos, vez que não nunca foi melhor ou pior que ninguém.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 27 de dezembro de 2008.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Se for para sofrer (?)

Se for para sofrer (?)

Disseram-me que “se for para sofrer nesta vida, então que seja por amor”. Eu concordei. Até que resolvi pensar que amar não faz sofrer, que o que dói é a frustração de um amor terminado, mal resolvido, ou, simplesmente, mal construído.
Todos sofrem pela frustração de um bem querer ao menos uma vez na vida. Afogamos nossa tristeza num livro de poesia, num copo de whisky, numa taça de espumante às duas da madrugada, num encontro desencontrado pelas ruas da cidade, num porre ou numa boa dose de remédio pra dormir (o sono, a fuga dos covardes que sofrem- dentre os quais me inseri várias vezes).
A gente tenta é fugir da dor. Da pior das dores que é a de um coração partido, de uma decepção, a dor do luto na tentativa da conformação: “Era amor? Era desejo? Era paixão? Virou frustração: Agora aceite e siga adiante”. É este o recado da vida para o amante frustrado que se debate em pensamentos, lágrimas e aquela dor no coração que não é de infarto mas aperta doído como uma pequena facada.
Fato é que a vida pulsa, que a vida nos possibilita amar de novo, reconstruir velhos e fazer nascer novos amores. O coração dói, os olhos choram, mas a vida pulsa, e enquanto existir vida, fé e esperança, existirá no coração do homem a fé no amor.
Não no amor que faz sofrer, mas no amor que dura além das expectativas, no amor de equilíbrio, de respeito, de companheirismo, no amor que segue adiante ilustrado pelas mãos dadas dos amantes que sabem o que desejam entre si: Doar-se um ao outro, sem cobranças ou desrespeitos.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 27 de dezembro de 2008
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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

A jovem e o velho na estrada da vida

A jovem e o velho na estrada da vida

- Moça, o que esperas da vida sendo assim tão jovem, bela e altruísta, com o carro parado diante deste trevo?
- Eu espero conquistar aquilo que busco, corro atrás profissionalmente dos meus objetivos, mas tirei férias para refletir sobre aspectos que não competem apenas a eu decidir, o senhor entende? “Aqueles” aspectos afetivos, do coração, simplesmente estou deixando a vida me trazer.
- Hum...Eu sou velho, sou sábio: Você quer sucesso, reconhecimento, prosperar na carreira, mas também quer amar, quer ter alguém em quem confiar?
- Sim, exatamente.
- Mas como você vai saber quem merece sua confiança?
- Meu caro senhor, eu sou um pouco inocente, mas não sou de todo tola, apesar de já ter me enganado algumas vezes, não foram enganos de semanas, foram enganos de anos, logo foram “bons e longos equívocos”, posso lhe dizer. Equívocos pelos quais fui culpada por mantê-los.
- Mas como esperas um dia acertar? Um dia encontrar alguém para amor devotar e amor receber?
- Porque na verdade eu sei, meu senhor, que muitas pessoas dizem que querem amar quando querem ter alguém para passar o tempo, que muitos mentem que amam porque querem uma bela estátua como troféu, e que muitos outros buscam o amor de forma errada: Deitando-se em camas desconhecidas onde confundem o gozo físico com o prazer do amar e ser amado. Eu sei o que quero, e considero isso um bom primeiro passo, não achas?
- Pois é, minha cara moça, mulher de corpo feito e olhar penetrante, você sabe o que quer e desejo-lhe sorte para trilhar a estrada do que procuras, porque de todas as estradas que o homem enfrenta, tanto quando a da busca por dinheiro, sucesso, e prosperidade é na do amor que ele costuma se perder mais facilmente nas curvas e chorar diante de morros, diante de precipícios.
- É verdade, meu sábio senhor, apesar de que, sei que nem todos têm real capacidade para amar. Eu, ao menos, sei que tenho a alma e coração libertos e aptos para tal dadivoso sentimento.
- Então, querida, siga em frente, porque em tudo nesta vida, o homem que acredita, que tem fé e que busca um dia alcança. Mas não esqueças de usar sua inteligência, porque não quero vê-la, com seus belos cabelos jogados diante de seu rosto chorando novamente a beira do precipício chamado engano, ou do precipício chamado ilusão. Siga adiante, buscando ou não, o amor verdadeiro um dia chegará até você.
- Obrigada, e se me permite, termino nosso diálogo dizendo: Assim seja.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 26 de dezembro de 2006.

A natureza dos solitários


A natureza dos solitários

O escorpião pediu para o sapo lhe levar até o outro lado do rio vez que ele não sabia nadar, o sapo, temeroso, lhe indagou se não iria soltar o seu veneno, quando o escorpião disse que obviamente não, do contrário ambos morreriam afogados. Atravessaram ao chegar do outro lado do rio o escorpião cravou seu ferrão mortal no sapo que lhe perguntou, porque ele havia feito isso, quando o escorpião respondeu:
Porque essa é a minha natureza!
Retirei esta fábula do livro chamado “Mentes Perigosas” da autora Ana Beatriz Barbosa Silva, que trata sobre psicopatas, todavia, não é sobre eles que desejo falar. Quero falar sobre a natureza e aptidão afetiva de cada homem para a solidão.
O amor é um anseio quase geral, mas ele não envolve o mero sentir, o coração tremer, as pernas ficarem moles, as mãos suarem, o desejo, com o tempo o amor requer o ato de conviver, ceder, ser paciente, ser complacente, abdicar de algumas naturais benesses da liberdade total. E é ai que muitos não conseguem, ora, mas, por quê? Porque é da natureza (ou de algo intrínseco proveniente da educação tida) de alguns seres a aptidão para a solidão, ou então é uma natureza obtida pelo costume que se insiste em manter: O hábito de não dividir o coração, as dificuldades, tampouco a vida com ninguém.
Para, enfim, sentirem-se bem sozinhos, sem a companhia de ninguém para lhes chamar para jantar, para solicitar sua presença, para, como um gato manhoso se esfregar dentre suas pernas e braços pedindo carinho: Existem pessoas cuja natureza lhes tornou solitárias, e esvaziou seu coração para a capacidade real de amar, porque se Lya Luft disse que “Pensar é Transgredir”, eu afirmo que amar também é transigir, é interagir, ceder, se abrir, ouvir e ser paciente.
Ora, quem tem essa capacidade sabe que o amor exige concessões, exige principal e unicamente o respeito: “Não me faça o que não desejas que eu te faça”. Mas, como explicar essa natureza mencionada que alguns homens possuem? Sobre a dos psicopatas a autora discorre em seu livro, mas sobre aqueles que se tornaram amantes da solidão eu, ao menos, não quero sequer chegar muito perto de casos para estudo. Pessoas assim fazem os outros sofrer, não sabem, não conseguem amar, tanto quanto os sociopatas são de perigoso convívio.
Basta dizer, que antes de qualquer envolvimento afetivo é preciso saber quais são os bloqueios do outro, a sua natureza pró ou contra o convívio amoroso. Caso exista a natureza pró-solidão, é melhor deixar. O outro será feliz como deseja, sozinho, e você, segue sua vida, seu rumo, porque para o homem de coração harmonioso a vida sempre reserva boas venturas.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 26 de dezembro de 2008.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Final de ano

Final de ano

Mais um ano que finda, lamentos que nos assolam, boas lembranças, más recordações, mas o coração ainda pulsando por novas realizações, desejos, para que o amanha, para que o próximo ano seja melhor do que o que esta terminando.
Quando algo termina é para nascer algo novo, a gente sofre, chora, lamenta, mas sempre lucra: Cresce, aprende, evolui, nos tornamos, de certa forma novas pessoas. E assim acontece com os términos dos anos, comemoramos o inicio de um novo ano e o fim de outro, porque sempre resta o aprendizado apesar de qualquer dificuldade que tenhamos enfrentado.
Eu desejo que as pessoas se amem mais, desejo que compreendam que em todo amor que possam devotar à alguém tem algo delas mesmas: Só ama e respeita quem se ama e se respeita.
Desejo que o respeito e a compaixão sejam regras da vida humana, que ninguém faça ou diga ao outro o que não deseja que este lhe faça ou fale. Espero mais cordialidade entre as pessoas, espero que os filhos aprendam a entender a influência e, até mesmo, culpa de seus pais pelo que se tornaram, mas que tenham sapiência suficiente para buscar a mudança sem criticá-los.
Espero que as pessoas aprendam a ter espírito humilde, a reconhecer seus erros e a pedir perdão. Desejo que os casais nunca durmam brigados, que o diálogo impere, o respeito, o carinho, o amor e tudo de bom que uma relação madura e saudável pode trazer para duas pessoas que se amam e respeitam.
Desejo que tenhamos prosperidade sem precisar cometer nenhuma infração legal, que todos tenham a profissão que amam, porque apenas assim não irão chamar seu oficio de “árduo”, ou “chato”. Felizes os que trabalham fazendo o que amam.
Desejo que aprendamos a respeitar as limitações alheias e, sobretudo, a nos auto-analisar e criticar antes de qualquer ato. Pensar muito antes de agir, colocar-se no lugar do outro.
Somos humanos, não feras indomáveis, animais estúpidos e sem racionalidade, devemos aprender a pensar e não agir por impulso ou instinto. Não somos animais, portanto, vamos pensar mais, sentir mais, amar mais, e aproveitar mais a vida, porque é impossível sabermos quando podemos dela sair.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 23 de dezembro de 2008
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domingo, 21 de dezembro de 2008

Os engambeladores

Os engambeladores

Nem sempre nossos pais têm razão em relação ao que dizem e pensam sobre nossa vida, sobre o mundo ou em relação aos conselhos que nos dão. Nem sempre, mas na maioria das vezes eles têm razão sim, não à toa são nossos pais: Viveram mais e aprenderam, ao menos, um pouco com a vida.
Meu pai sempre disse que as pessoas que falam demais o que “você” deseja ouvir são larápios em potencial, sempre disse que amor se traduz em respeito e admiração, não em elogios melosos.
Muitas pessoas sabem disso, mas, às vezes, por carência ou algo do tipo terminam dando credibilidade àquele que lhes quer iludir, fazendo-as crer que são únicas, especiais, magníficas, em quanto na esquina, na casa ou na cidade ao lado dizem o mesmo para outra.
O engambelador “crônico” não pode ser facilmente identificado, pode ser o caminhoneiro, o garagista, o viajante, mas também pode ser o médico, o advogado, o engenheiro. O que eles querem é conquistar a afeição, a confiança de outrem, ainda que para isso precisem enganar várias pessoas.
Assim ele segue, como um pescador: Atira as iscas, o que peixe que vier é “lucro”. No fundo são pessoas que não confiam em seu potencial físico, ou psíquico e acham que ditando palavras doces no ouvido de uma dama a terá em suas mãos.
Algumas damas são inocentes e acreditam, outras, por sorte ou esperteza (inteligência), desconfiam do cidadão que fala cedo demais de sentimentos e intenções que só o convívio e o futuro poderá tornar real, afinal, conto de fadas não existe, mas sapos querendo se fazer de príncipes existem, e muitos.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 21 de dezembro de 2008.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Respeito

Respeito

Se hoje me perguntassem qual a atitude humana mais nobre, praticamente tanto quanto o sentimento chamado amor, eu diria que é o ato de respeitar.Respeitar as limitações alheias, colocar-se no lugar do outro antes de agir, de tripudiar, de falar.
Hoje em dia estamos numa selva onde as pessoas imergiram-se em egoísmo. Fazem o que desejam para serem felizes, libertas, olvidando que algumas de suas atitudes podem ferir (e muito) o orgulho do outro, inclusive, maculando o seu amor.
Quem ama, antes de qualquer coisa ama a si próprio e é por isso que o amor não aceita tudo, quem ama se doa, mas quer respeito, não existe relacionamento que dê certo se não esta baseado na frase básica: Não faça ao outro o que não deseja que este lhe faça.
Traição? Sim, é a maior e mais inaceitável forma de desrespeito dentro de um relacionamento amoroso, mas existem várias espécies dela. Tem a traição do homem que não afaga a esposa porque esta sempre com pressa para o trabalho, a traição daquele que deixa a família em casa para ir beber com amigos, daquele que troca a mulher que diz amar para ficar com colegas, amigos, discutindo coisas sem importância, enquanto deixam quem lhes devota amor e preocupação em casa, inerte (ou não, algumas chamam o bom e velho "Ricardão").
Trair tem vários aspectos, vai além de casos extraconjugais, engloba o “deixar de lado” a mulher, o não valoriza-la, o achar que tudo se pode fazer que a “donzela” estará lá, esperando como uma lady da década de 40. Os tempos mudaram, e muito (ainda bem).
Respeito é tudo, é a base de qualquer relacionamento sadio, forte e com potencial para dar certo. Críticas, ofensas, deboches, afirmar uma coisa e fazer outra, são atos vis, atos que decepcionam e levam o amor, aos poucos, escorrer pelo ralo da frustração.
É por essa e por outras que é sempre bom pensar antes de agir. Um dia a mágoa das palavras mal colocadas fala mais alto e mesmo sem letreiros com nome de atores famosos a história finda pelo cansaço: “The end”. Fim de linha para o amor onde o respeito não imperou, afinal não basta amar ou dizer que ama, é preciso demonstrar e isso só se faz com carinho e muito, muito respeito.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 20 de dezembro de 2008.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Dica para o ano novo.

Dica para o ano novo.

O que realmente tem valor para você? O que realmente você valoriza nas amizades, nos relacionamentos amorosos e interpessoais? O que, de fato, você quer de uma relação afetiva e espera dela? Podem parecer perguntas tolas, mas na verdade nem sempre o que conscientemente afirmamos desejar é o que satisfaz nosso íntimo, psicanaliticamente, denominado de inconsciente.
É por isso que eu dou um conselho à todas as pessoas do mundo que foram educadas por alguém, pai, mães, avós, família adotiva, enfim, por qualquer ser humano errante: Procure, em alguma fase de sua vida, fazer análise, ir num psicólogo.
Nós introjetamos (colocamos dentro de nossa cabecinha, no inconsciente) muitas coisas que, depois, passamos a vida afirmando que é feio, que não queremos para nós, e na verdade, terminamos repetindo tudo o que julgávamos errado, repetimos os erros de nossos pais, os mais abjetos. Sem que nos auto-analisemos, ou sem o empurrãozinho de um psicólogo tenderemos a repetir aquilo que quando jovens pensávamos “eu jamais quero ser assim ou fazer isso”
[1].
Na beirada de 2009, quando o ser humano além de dinheiro precisa de equilíbrio interior, paz de espírito e autocontrole, submeter-se a um divã de uma boa psicóloga é um dos melhores investimentos que podem ser feitos, falo por experiência própria.
Podem meus amigos tripudiar, podem ser descrentes, pode o mundo dar risada, mas a minha dica para 2009 para todos os indivíduos que tiveram um pai e uma mãe (ou substitutos) e possuem certa condição econômica é a seguinte: Procure um psicólogo.
Nenhum ser humano é bem resolvido enquanto vive uma vida de jogos, de romances feitos e desfeitos, de “agora eu quero, depois não quero”, de “as coisas tem que ser assim se não eu vou surtar”. Ser humano realmente bem resolvido, se existiu, morreu e foi pregado numa cruz, de resto, todos nós somos errantes e precisamos buscar a nossa melhora e evolução interior e não apenas status e dinheiro. Existem honras e prazeres muito além do que notas de reais podem comprar, vá em frente e veja, ou, aprenda pela forma contrária: Junte muito dinheiro, e perceba que sente um vazio interior não preenchido por altos depósitos bancários: Uma hora ou outra a vida irá lhe chamar para a reflexão. Isto é certo.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 17 de dezembro de 2008.

[1]Katz, Bernie, Munchin Philip Van. “Por que sua vida amorosa não está dando certo...Na real, a culpa é dos seus pais...e o que fazer para conserta-la”.São Paulo: Editora Academia de Inteligência, 2008.
Este livro esta dentre os mais vendidos da lista do The New York Times.
Celular de férias
Meu celular estragou. Ligo, ele fica ligado uns minutos e desliga novamente, e assim vai, o aparelho ficou praticamente autodidata. Óbvio que preciso comprar um novo,mas me faltou tempo, e, o que é mais estranho, sem ele eu estou me sentindo um pouco mais livre, menos sobrecarregada.Clientes não me ligam mais à noite, ao meio dia naquela hora em que estou com a boca farta de comida tamanha a fome e o cansaço, na hora da janta, em que se pode saborear um belo prato, quiçá (para os quem tem companhia) acompanhado de um bom vinho ou espumante. Sou eu e eu no mundo, sem o celular que acabou se tornando uma extensão do meu ser.“Onde você estava que não atendeu o celular?”, “Porque não atendeu o celular minha filha?”, as respostas são várias, estava malhando (sim, porque até na academia se leva o aparelho), porque estava dentro da piscina, porque estava dormindo, porque estava no banho. O celular é apenas um aparelho tecnológico com várias utilidades, ele não é um membro do corpo humano, não é um dedo, uma mão, uma orelha, tampouco um rastreador!
Impossível, pois, negar que passar uns dias com o aparelho celular praticamente sem funcionar dá uma sensação de alívio, em especial nessa época do ano onde se deseja abrir um buraquinho no chão e se esconder dentro dele tamanha a fadiga da alma, é incrível a sensação de estar em qualquer lugar (inclusive e principalmente deitados em nossas confortáveis caminhas) sem poder ser encontrado por clientes, amigos ou qualquer pessoa quando julgamos inconveniente o momento (frise-se: o momento, não as pessoas). É, meus caros, o final de ano traz com ele o estresse onde até o barulhinho do aparelho faz surgir em nosso corpo uma sensação leve de gastrite.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 16 de dezembro de 2008.
Perto do fim do ano...
Sábios foram os que inventaram o calendário e o dividiram em anos. Tão sábios quando os que inventaram as férias, reconhecendo a necessidade humana de, após meses de trabalho intenso, colocar sua mente e corpo para repousar e descansar.O estresse mental causa muitos males, diminui a imunidade, de gripe à conjuntivite, de depressão à síndromes mais leves ou graves o ser humano fica mais vulnerável, dizem que pode ser culpa dos tempos modernos, da correria, da batalha, em que não apenas o homem mas as mulheres matam um leão por dia. Pode ser.Final de ano também é época de refletir, e toda reflexão, assim como tudo que chamamos através da memória do nosso ontem para o hoje faz reviver em nós diversos sentimentos, inclusive os mais desconfortáveis, as dores mais doídas, os fardos mais pesados que passamos e parecem que, revividos, nos sobrecarregam novamente. Mas é necessário, porque é olhando para trás que o homem aprende a agir do presente para diante.Essa reflexão também meche com o individuo. Nenhuma pessoa empreende algo pensando no fracasso, ninguém faz uma sociedade pensando que dará errado, abre um estabelecimento comercial pensando em uma derrocada, da mesma forma ninguém namora, casa ou vai morar com alguém pensando na frustração, no “the end”, muito embora ele sempre seja uma possibilidade.O homem investe seu coração, seus melhores sentimentos em seus empreendimentos afetivos, sentimentos que, provavelmente dinheiro algum pagaria. E quando dá errado? Faz um mea culpa, reflete, analisa as circunstâncias pessoais e alheias e, obviamente, tenta extrair do gosto amargo da frustração o sabor doce da maturidade, do aprendizado. É a única possibilidade, é o que lhe resta.O sofrimento ensina, mas também machuca, deixa cicatrizes que não gostaríamos de ter em nosso coração, quando se ama ou se estima alguém não se conta com a frustração, com o ver o lado negativo do parceiro e ter que abandona-lo. Quem ama, assim como todos que estão pensando no ano que se inicia, quer colher bons e belos frutos, quer sorrir, quer ter paz e ser feliz, sem mal estar, sem desavenças, sem complicações, sem ter que romper com sonhos, com desejos, com metas.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 16 de dezembro de 2008.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Espinhos

Espinhos

Existem coisas que não se explicam, mas o homem vive buscando a explicação. Da mesma forma, têm coisas que não se exteriorizam da mesma forma com que são sentidas, têm dores que não são vistas, lágrimas que escorrem de forma invisível por rostos que, obrigados (por motivos cuja explicação, também é desnecessária), esbanjam sorrisos.
Existem sensações que só quem sente sabe o que é, só quem sentiu pode fazer idéia da dor ou da glória de determinada conquista ou desgosto. Por que uma pessoa esta triste? Por que esta contente? A segunda resposta é sempre fácil de dar porque a pessoa alegre é movida pela empolgação e se abre com mais facilidade.
Mas explicar uma certa tristeza, colocar em palavras sentimentos confusos, alguma dor ou frustração que se traga no peito é complicado, é mais difícil, porque às vezes são uma série de espinhos que causam a machucadura e não um corte apenas, o que não significa que não arda, que o ferimento não seja demasiado doloroso.
As pessoas, também costumam se preocupar umas com as outras, mas muitas vezes na ânsia de tirar-lhe os espinhos, lhes fincam outros, porque o homem precisa de respeito e paz até mesmo para sofrer, porque quando, por si mesmo, ele tirar os espinhos, restarão as cicatrizes e um aprendizado que fará compensar a dor que sentiu.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 10 de janeiro de 2008.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Aquele vazio

Aquele vazio

Desde o nascimento a criança precisa de carinho, atenção, demonstrações de amor para que criem uma mente saudável. Mas, enquanto adultos todos também precisamos ser respeitados, cuidados, acarinhados de vez em quando.
Mas existem dias, existem muitos momentos nos quais, ainda que rodeados de gente, a gente sente um vazio, uma falta de alguma coisa que não conseguimos, ou melhor, não queremos especificar o que seja, quiçá por acharmos melhor superar a fase a regredir, enfim, cada um com suas razões.
Eu aprendi a lidar com a solidão escrevendo. Quanto mais solitária me sinto, quando o desamparo me pega, são as palavras que me ancoram. Ora, mas como uma “moça jovem, inteligente e bonita pode ter crises de depre”?
Porque é humana, e humanos sentem a dor da própria frustração e da alheia, humanos fraquejam, sentem o lado amargo do “estar só no mundo”, porque moças bonitas e inteligentes, muitas vezes lamentam não ter quem lhes valorize mais a inteligência e espírito do que o corpo bonito, olhar e sorrisos atraentes. Porque, todos uma vez na vida se sentem vazios, todavia se o vazio persiste existem profissionais habilitados para prestar auxílio, porém me refiro as angústias existenciais momentâneas, não patológicas.
Enfim, queiram ou não, todos gostam de ter alguém pra abraçar, alguém que ouça nossas lamúrias e nos permita falar as nossas, alguém que nos deixe à vontade, que demonstre que nos estima e quer viver bem ao nosso lado. Aprendi na vida, que é na vida afetiva que o homem purga seus erros. Dinheiro? Sucesso? Faz bem para o ego, mas sem amor sempre restará um vazio incomodo que requer boas doses de whisky num sábado à noite.
Aprender a viver bem sozinhos? Lógico, essencial. A solidão que me refiro não é a de estar só, mas de se sentir incomodo sozinho, apesar de ter gozado das benesses da solidão individualista. É a solidão que agonia, e aperta o coração, e não a solidão de dormir e acordar sem ninguém ao lado.
Por mais que sorrimos, que demos boas e altas risadas, que cuidemos do corpo, do bronzeado e da beleza, muitos dias nos sentimos sós no mundo. Nós e Deus? Para quem acredita, ou, simplesmente, nós e mais ninguém, e depende de nós mudarmos de perspectiva, olhar para cima e voltar a sorrir com convicção e altruísmo. Podemos tropeçar e escorregar, mas cair nas mazelas da vida, jamais.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 07 de dezembro de 2008.

Envolvimento emocional

Envolvimento emocional

Eu não reclamo da modernidade, eu não reclamo exatamente das relações “modernas”, não critico necessariamente a liberdade que virou libertinagem, o que mais me assusta é a falta de envolvimento emocional que ocorre entre pessoas que fazem juntas o que pode existir de mais sexy e íntimo.
A cada dia que passa as mulheres e homens passam a crer que “aproveitar” a vida é curti-lá sem compromisso, sem dever de fidelidade, sem, enfim, a responsabilidade pelo coraçãozinho de um outro alguém. Sexo? Arranja-se fácil muitas vezes é só pagar uma bebidinhas e fazer umas afirmativas elogiosas, as presas, carentes, caem fácil.
O “aproveitar a vida”, neste aspecto especifico, significa para quem o apregoa, ter alguém (ou vários) sem se envolver com ninguém, porque envolvimento significa admirar o outro, gostar da companhia alheia dentro e fora das quatro paredes de um quarto, significa se orgulhar do outro, fazer coisas divertidas juntos, respeitar sua liberdade e, assumir, pois a responsabilidade de ter uma relação com nome definido. Andar de mãos dadas nas ruas, nos bares, beijar em público, acarinhar, demonstrar afeto e sentir o coração palpitar na companhia desta pessoa.
Mas as pessoas fogem, elas passaram a ter medo do compromisso, do envolvimento emocional, como crianças com medo das reprimendas maternas. Eles se deslumbram com a possibilidade de ter todos e não ser de ninguém, até chegar o dia da maturidade real momento no qual surgirá o pensamento: “Tá, mas e o meu amor, aquele que posso chamar de amor, quem é e onde está?Cadê a pessoa que posso confiar e chamar de ´minha querida´”.
A vida engana, e o homem adora se divertir com os enganos que ele mesmo cria, vivendo “light”, para não dizer: Vivendo displicentemente, com pouca responsabilidade sob seus sentimentos e alheios. Comprometer-se, com quem vale a pena, assumir um amor que merece ser assim chamado, é uma sorte de poucos, porque os muitos que a tiveram, desperdiçaram em prol da “curtição”, como crianças que preferem brincar na hora de almoçar.

Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 06 de dezembro de 2008.

Atitude

Atitude

Existem coisas nesta vida que não tem preço, uma delas se chama: Atitude. Sentir-se convictamente capaz de tomar esta ou aquela atitude ignorando o mundo, os outros e suas línguas sempre aptas a nos criticar e tripudiar, agir sem medo, sem receios do que podem dizer ou falar a nosso respeito: Sentir-se livre e de tudo capaz (tudo que nos contente e dê prazer) na vida, não tem preço.
Tomar esta ou aquela atitude numa determinada fase de nossa vida, em que nos sentimos mais donos de nós mesmos, mais livres em nossos espíritos, nos faz “amarmo-nos” ainda mais. Sempre é bom ter uma vida com surpresas, mais ainda é poder nos auto-surpreender, ficarmos boquiabertos com as nossas ações.
Atitudes, ousadias, que jamais pensávamos que tomaríamos, desde procurar um especialista em psiquiatra ou psicologia, desde flertar com o tipo que sabemos não ter coragem para tanto por uma razão ou outra, são atos de valor inestimável.
Inestimável para nossa auto-estima, para nossa alegria e constatação de liberdade interior: Somos capazes de atos e gestos que outrora jamais pensávamos conseguir fazer. Superar as próprias barreiras, preconceitos e bloqueios são as maiores conquistas quotidianas do ser humano.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 06 de dezembro de 2008.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

As benesses da verdade

As benesses da verdade

Se for para amar que seja com intensidade, sinceridade, verdade. Se for para chorar que seja para lavar a alma, que seja para o salgado das lágrimas levar para longe nossas agonias, se for para viver, que seja com espontaneidade.
A vida se torna enfadonha porque as pessoas perderam a espontaneidade. Elas se preocupam em ser um “ideal” que não são, ou seja, elas vivem criando máscaras para agradar a alguém, ou à todos.
A grande maioria das pessoas não vive sendo o que é. Ora, que frase estranha! Possui tal característica por corresponder a uma verdade igualmente esquisita, fora dos eixos, fora do que pode ser definido como belo, como inteligente e interessante.
Os seres se acostumaram a vestir suas faces com sorrisos pouco verdadeiros, a colocar nas palavras um açúcar que não possuem na língua: a apregoar virtudes e caráter que não possuem, a falar o que não sentem - para agradar, para conquistar a confiança ou o coração alheios, e, depois, mentem para manter o doce sabor que inventaram.
E é nesse rumo que a falsidade, a mentira e a pouca espontaneidade se tornam atributos humanos que deixam a vida dos sinceros e dos que desejam curti-la com intensidade e sinceridade um tanto nublada.
Todavia, nada que o sol da força de vontade e da esperança não faça iluminar. Nada que o sol de nosso coração sincero não consiga esquentar e afastar as nuvens carregadas. A vida ensina que se não é possível se surpreender e ser feliz com as atitudes alheias temos que ser contentes em nosso pequeno universo, em nosso coração.
Quem tem a consciência de que vive calcado na verdade, de que ama com sinceridade, de que fala o que pensa, diz o que sente e pensa no que fala, aprende a não exigir o mesmo do mundo, mas a ser feliz em silêncio porque tem a mente sã e, principalmente, em paz. A consciência da pessoa sincera é leve e esta leveza traz a felicidade.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 16 de janeiro de 2007
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Dorzinha de amor

Dorzinha de amor

Acho que qualquer pessoa que já sofreu ou sofre por amor consegue entender o mais rico e “complexo” dos poemas. O amor pode ser falado em muitas línguas, sentidos de várias formas, afinal, nem todos têm a mesma forma de amar. Mas ele sempre será o rei dos sentimentos, o único que opera milagres.
Têm gente neste mundo que não sofre por amar, mas, isto sim, por não conseguir se relacionar, por não conseguir tirar de seu inconsciente lembranças ruins da infância, pessoas que não conseguem, sem que se dêem conta de que precisam, se tratar para crescer afetivamente.
Crianças que não receberam todo o amor, admiração e apoio dos pais tendem a ser filhos que, de certa forma, farão o mesmo com quem vierem a amar, Freud explica. Introjeção, projeção, repetição, e outros mecanismos de defesa (sim, estou lendo até Anna Freud).
Se relacionar é algo complexo, mas amar é algo mágico. Por amor a gente tenta, a gente se esforça, dialoga, se adapta, mas, por amor também, a gente perde um pouco de esperança, perde um pouco de fé na vida. Em especial quando ele termina. Dói e nos sentimos como crianças quando caem e se machucam, os pais consolam porque o infante age e pensa que a dor nunca vai passar, todavia a marca fica, mas a dor, essa passa mais rápido.
Quando um relacionamento acaba, cedo ou tarde a ficha cai: Quem sou eu sem aquela perna do meu lado à noite? Que barulho é esse, ele foi na cozinha? E assim vai, e a gente se dá conta que a cama é grande, mas estamos sozinhos, ninguém foi à cozinha nem se espreguiçou, estamos em outro lugar, e que para nos levantarmos na manha seguinte precisaremos criar outras metas, outros sonhos,
Romper vínculos afetivos é doloroso, superar perdas é terrível, mas quando o outro, ou ambos, não conseguem se entender, admitir suas culpas, a fazer o seu mea culpa, ou quando, enfim, se descobre que não havia nem paixão nem amor, mas comodismo, medo da solidão, o sofrimento também é grande. A pessoa se sente culpada, por tolice, afinal ninguém engana ninguém, as pessoas se deixam enganar, criam seus castelos, sem ver nada além de seu foco: O que elas desejam, ignorando muitas vezes o desejo do outro.
Todo sofrimento, toda a dor, toda a lágrima derramada, toda a frustração, nos faz crescer, aprender, nos torna pessoas melhores, mais sapientes, experientes, embora com uma dorzinha a mais no peito. Mas tudo, absolutamente tudo neste mundo é uma questão de tempo, o tempo não une quem deve ficar desunido, nem desune quem deveria se unir. Ele coloca tudo em ordem, a vida não é ideal nem perfeita porque esperamos demais dela, mas a sua sincronia é infinitamente organizada, bela e, porque não dizer, perfeita. Imperfeitos somos nós.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 05 de dezembro de 2008.

Momento Fernando Pessoa

Momento Fernando Pessoa

Milagres acontecem diariamente. Não falo daquelas curas espiritualmente justificadas, falo do contato do homem com ele mesmo que se dá em algum momento de sua meditação sobre a vida, num minuto qualquer. Um momento que o faz sentir único e especial no universo. Em que ele sente como se tivesse se reencontrado, se achado.
Nunca fui dada à práticas de meditação apesar de ser fã e ter lido vários obras de Osho. Mas eu senti e tenho certeza que todos podem sentir, em contato consigo mesmos, essa sensação dúplice, afinal nos faz sentir o poder de sermos únicos no universo, ao mesmo tempo nos dá certeza de que há algo superior a nós, nos gerindo, talvez.
A primeira vez que tive essa sensação estava tomando sol em São Domingos do Sul em 2005. Agora, em minha fase de introspecção praticamente lutuosa, voltei a ler, a me voltar para mim mesma, e queiram ou não afirmar que já estou morena o suficiente para 3 verões continuo indo ao sol. E é junto a ele que essa sensação, hoje voltou a invadir minha alma.
Não estou apoiando quem não se cuida e toma sol em horários impróprios. A questão não é o sol, mas a auto-reflexão, a capacidade de se despir mentalmente de toda a hipocrisia que temos, de nos ver nus, sem a calça do pudor, sem a camisa do “eu sou mais eu”, sem o perfume da covardia e o ar de soberba. Nós, errantes, humanos, demasiadamente humanos.
Falo, pois de momentos de reflexão, de captar a infinita energia emanada do sol, da vida enfim para nós. Falo da possibilidade de crescermos em auto-estima, ao constatarmos que em meio a milhões e milhões de pessoas, não existe nenhuma igual a nós, com as mesmas virtudes, atributos, e defeitos, o que não nos torna desumanos, pelo contrário, mostra quão especiais somos nesta vida.
É por sermos errantes, por podermos nos confundir, investir dinheiro quando não devíamos, investir sentimento e coração em relacionamento que não nos despertou nada de especial, ou, simplesmente onde não fomos correspondidos. Eu chamaria essa meditação de “momento Fernando Pessoa”, porque refletindo sobre nossas vidas e conseguindo nos sentir especiais e únicos no mundo, vem à minha mente a frase do poeta: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. E gozar a vida com amor, auto-conhecimento, destemor e intensidade é a maior das dádivas que podemos ter.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 05 de dezembro de 2008.

As que não gostam de si mesmas...

As que não gostam de si mesmas...

O mundo esta se tornando algo “fenomenalmente” estranho. Ontem pela tarde recebi em meu escritório um amigo e cliente, extremamente bem sucedido, que tem uma namorada (esposa, vez que moram juntos) linda e é, em si, o legítimo “moreno, alto, bonito e sensual”, além de ser honesto e leal.
Meu amigo - de longa data, convém dizer - me afirmou que caso ele fosse infiel passaria a cobrar para “dar conta” das mulheres que o procuram, tamanha a falta de vergonha e descaramento delas.
Minha boca ficou ainda mais aberta quando ele disse que enxergou um livro chamado “Homens Gostam de Mulheres que Gostam de Si Mesmas” e pensou em comprar para conseguir entender o que leva algumas- a maioria- das mulheres serem tão fáceis e porque ele- e grande parte de seus amigos- “fazem de conta” que gostam do tipo “independente” de mulher.
O tipo “independente” é aquele que sai pra balada e diz “o corpo é meu, faço o que quero, lavou esta novo”. Estou em fase de grandes leituras sobre relacionamentos, dependência afetiva, mecanismos de defesa do ego, e um dos livros que pensei em comprar foi o citado pelo meu amigo (prometo que comentarei quando ler).
É bom ser independente, ganhar nosso dinheiro, poder fazer festas, beber além da conta de vez em quando, curtir as amigas, falar umas besteirinhas, dançar muito, mas se oferecer em demasia, correr atrás de homem até quando são comprometidos, é um sinal de pouca estima por si mesmas. Não que eles não aceitem serem galanteados - aceitam, e até gostam, apenas para ter uns momentos de prazer ou, nada impede, que uma moçoila ousada conquiste o coração de um jovem tímido (!?). Agora, para valorizar, apreciar, amar, namorar? Daí depende muito, e na maioria dos casos a resposta é não. Não aceitam, não conseguem confiar.
Mas o que é afinal gostar de si mesma? Ai, falo como mulher. É se auto-admirar: “Sou contente, alegre, tenho meu trabalho, um belo futuro, sou ou serei bem sucedida, tenho meus atrativos físicos, uma alma a ser apreciada, uma vida inteira pra viver, quero amar, ser amada, respeitada e respeitar. Logo eu sei o meu valor”. Pelo contrário, as mulheres estão se oferecendo, indo atrás de homens de baixo nível, não me refiro a financeiro, mas ao moral.
Bem, então vem o dado fático: Cada mulher deve agir de acordo com a reação que deseja, posteriormente, do “parceiro do dia”. Os homens observam, fazem fofoquinhas entre si, falam da conduta feminina, como nós falamos de quais deles são “galinhas ou fáceis demais”.
Então, minha querida, se quiseres continuar se oferecendo para o meu amigo “moreno, alto, bonito e sensual” (rico e humorado), vai lá, mas saiba que ele não vai te dar o mínimo valor, porque ele, como muitos, pensam que, pela tua “facilidade” você não gosta de si mesma. O tempo passa, o mundo evoluiu, mas muitas idéias se mantêm no inconsciente das pessoas, em especial no masculino. Os homens também são misteriosos e nem tão fáceis de entender, embora queiram expor o contrário, assim eles saem “sexualmente” no lucro. (Machismo a parte, me embasei na opinião do referido amigo e de outros que possuo).

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 05 de dezembro de 2008
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quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O benefício da solidão

O benefício da solidão

A solidão em determinados períodos da vida da gente é uma benção. Trocar os amigos pela cama e um livro, trocar a confraternização por uma garrafa de vinho comprada especialmente para si mesmo, tentar se entender, assimilar as próprias angústias, dores e, dormir.Dormir muitas vezes mal, acordar à noite, se virar, pensar, repensar, colocar as idéias no lugar, sentir falta, saudade de algo e tentar superar algum mal estar.
A solidão nos ajuda a compreender o bem e o mal de ser nós mesmos. O homem nasceu para se entender na solidão e viver em comunhão. Momentos de solidão são necessários e especiais a vida inteira, ouvir o silêncio, ouvir o próprio coração e seu pulsar sempre serão atos salutares.
Mas, para quem sai de uma relação sofrida, para quem teve uma série de sonhos, planos e desejos frustrados, por mais que no início se tente o convívio afoito com inúmeras pessoas é a solidão que ajuda na cicatrização das feridas, até ele ficar bom, um pouco mais marcadinho, mas recuperado para se expor à vida, romances e suas intempéries novamente.
Ler, pensar, escrever, quem sabe colocar no papel a dor sentida, a frustração e seus motivos, o que era esperado, o que, de fato ocorreu, o que se deseja da vida, talvez seja uma boa forma de aprender, de se fortificar, de crescer. Vestir preto e rezar não adianta nada nunca, a força vem do pensamento, e pensa melhor quem pensa sozinho, ainda que acompanhado de um bom livro.
Falo em ficar sozinho, sem falsas companhias, sem "amores-de-faz-de-conta", sem cobertor descartável para corpo e cama, ficar só, fazer o tradicional mea culpa, sofrer pelo que ainda há para sofrer, assimilar a perda do que não tem volta, ou a volta do que se pode retornar de forma diferente são benefícios de bons momentos de solidão, nos quais, quem entra jamais sai o mesmo: Sai mais rico em essência, embora externamente sozinho, sai um pouco mais completo e menos vazio por dentro.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 02 de dezembro de 2008.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O meu Seguro de Vida

O meu Seguro de Vida

Eis que aos 26 anos resolvi fazer um Seguro de Vida. Um seguro que cobre diagnósticos de doenças como câncer e males cardíacos, invalidez permanente por acidente e, obviamente morte. E urgiram afirmativas como: "Você é louca?!", "Procura um psiquiatra antes de fazer", "Eu não faço porque se eu morrer não vou usufruir mesmo", "Você é muito novinha".
De psiquiatra talvez eu precise, mas por outros motivos. Louca creio que não seja, apesar de concordar que de médico e insanos todos temos um pouco, não irei usufruir, mas deixarei uma compensação para quem amo caso venha a sair cedo da vida. Novinha? Sim, mas quem diz que a morte escolhe seus alvos por idade, beleza ou possibilidade de futuro?
E as doenças? Cada vez mais cedo jovens vem sendo cometidos por doenças graves, de tumores a doenças cardíacas, acidentes de caro são cada vez mais comuns. Sempre fui uma mulher prevenida, e o seguro de vida me fez sentir bem, tranqüila, em paz comigo mesma.
Da vida a gente só sabe a hora que nasce (porque a mãe, a parteira, o pai ou, enfim, os médicos dizem) e que um dia dela sairemos. Quando? Impossível saber, quem sabe possamos um dia intuir, mas saber jamais.
O homem, como costumo dizer, é um ser que vive ciente da morte mas age como se fosse eterno. Deixa para amanha o beijo que podia dar hoje, deixa para amanha o "eu te amo" que podia dizer hoje, o abraço no pai, o agradinho de gratidão à mãe, aquela confraternização com os poucos e bons amigos, a brincadeira com o filho.Creio que a maioria dos que vão para o tal "lado desconhecido" levam um monte de vontades frustradas e uma sensação lamentável de "se eu pudesse voltar atrás".
Talvez por isso eu seja tão teimosa, talvez por isso eu insista no que me dizem que é perdido, eu lute, eu acredite, eu tenha fé, talvez por isso eu trate bem e com amor quem me cerca e me desperta o apreço, porque apesar do Seguro de Vida, eu vivo cada dia como se fosse o último e tenho, sim, muitos sonhos e metas para o futuro, mas de hoje em diante uma coisa é certa: Caso eu não possa cumpri-las não deixarei quem amo em situação periclitante. Porque o hoje é certeza, o ontem desde nossa entrada na vida até à noite anterior a esta pode ser saudade, mas o amanha, este sim, é sinônimo de mistério, pelo menos no que diz respeito a nossa partida.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 02 de dezembro de 2008.

Nossas pequenas calhordices

Nossas pequenas calhordices

Nós assumimos responsabilidade pelo que cativamos, o que significa que seduzir, atrair alguém pode ser uma dádiva bastante perigosa. Pessoas têm sentimentos, ideais, é fácil lidar com elas, é fácil estabelecer relacionamentos: Verificadas as diferenças na forma de pensar, nos anseios e desejos, ou seja, se não combinam de imediato, não envolva o outro, não lhe deixe acreditar que algo pode ser diferente.
É fácil julgar ao outro, dizer que os outros são espertos, que os outros são os "galanteadores", que os outros tem pouco ou mau caráter, são frívolos ou mulherengos, difícil é admitir que algum dia na vida quem cai na calhordice somos nós, homens ou mulheres: Criando, ainda que por poucos momentos, um ambiente que inspira sedução, quando, na verdade, não queremos nos deixar seduzir, não queremos nos apaixonar, mas, quem sabe, criar no outro inspiração para tal sentir.
É bom, todos sabem, ter alguém que se interesse por nós. Aquele alguém que a gente pode dizer que "nos procura". Eu já achei isso um belo elixir para o ego, uma boa forma de elevar a auto-estima, hoje em dia eu chamo de "cafajestice", masculina ou feminina. Não devemos tentar despertar o apreço de uma pessoa quando não desejamos nos envolver com ninguém, ao menos que sejamos capazes de julgar um ser humano como "nada", como "ninguém".
Mas o homem tem fases, eu mesma já tive minha fase de "muitas conquistas", flertes, de dar corda e atenção por quem nutria interesse por mim e eu não queria, apenas para poder dizer, em silêncio: Eu sou capaz, eu conquisto, eu chamo a atenção.
Bobagens imaturas, típicas da juventude, afinal a vida nos ensina a ser responsável nas atitudes, nos mais singelos gestos, nas afirmativas, no ambiente que criamos, na aura que nossa voz suave emana. Nós temos responsabilidade por tudo o que despertamos pela primeira vez no coração ou na alma alheia, e é por isso que é necessário ser cauteloso, cuidadoso, e, antes de qualquer pequeno ato: Sermos sinceros com nosso próprio coração.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 02 de dezembro de 2008.

Para viver um grande amor.



Para viver um grande amor.

Resolvi, após alguns meses guardar meus livros, coloca-los em ordem, quando me deparo com um livro de poemas e crônicas do eterno Vinicius de Moraes chamado “Para viver um grande amor”, de conteúdo doce e belo como tudo o que escreveu o poeta.Mas não foi o conteúdo que me trouxe lembranças ou fez refletir, mas o título, o que, afinal, é necessário “para viver um grande amor” em pleno ano 2008 (poderia dizer 2009, vez que falta menos de um mês para este ano findar)?Para viver um grande amor minha gente, é preciso encontrar alguém confiável, alguém que não queira que sejamos um objeto para passar tempo, um banco para sustento, uma empregada ou um bibelô bonitinho para os outros verem. Alguém que nos veja por trás das aparências e valorize essa essência.Alguém que sendo confiável, confie e nos respeite, tanto nas potencialidades quanto nas limitações.Para viver um grande amor é preciso auto-conhecimento, vontade de amar, de se entregar, de ser leal e fazer, como diria o outro poeta do amor, dele a maior sacanagem (tem coisas que, realmente, só a intimidade dos grandes amantes podem fazer por nosso prazer).Para viver um grande amor é preciso paciência, compreensão, é preciso vontade de amar, mas não vontade de aprisionar o outro. Vontade de amor saudável, sem demasiadas discussões, com interação, diálogo e uma certa dose de humor. Amores, grandes ou pequenos, não se contabilizam em dias, tampouco em anos, mas em momentos bem vividos, em sentimentos bem gozados, aqueles que chegam a amedrontar tamanho bem estar que nos dão.Para viver um grande amor é preciso não temer e conseguir enxergar muito além dos corpos, das aparências, é preciso ouvir além das palavras, e ver muito além dos olhos (espelhos da alma), é necessário transcender a sensibilidade do toque, todo ser que vive um grande amor, por instantes se torna um mágico.Enfim, viver um grande amor é uma delícia, mas se manter ao lado dele é um mistério que requer mais do que amor, requer inteligência e vontade, o que nem todos possuem no mundo da "correria" onde os seres passam a ver seus umbigos como foco de atenção de suas vidas, e seus (possíveis) grandes amores, por não surgirem no momento e na hora julgados "certos", passam despercebidos como uma belo pássaro ao cruzar o céu numa tarde de verão.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 02 de dezembro de 2008.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Pobres abastados

Muitas coisas me despertam piedade, dó, mas poucas coisas são tão antinômicas em si mesmas a ponto de me deixarem desconsertada, tamanho o mal estar e a compaixão que sinto ao ver que existem muitas pessoas que possuem bens materiais em excesso na vida e nem sempre conseguem (ou podem) confiar nos sentimentos daqueles que lhes cercam.
Deve ser ruim ter amigos, parceiros, mulheres, companhia, sem saber se o que lhes atrai é seu senso de humor, inteligência, alegria de viver, ou, simplesmente, "status", dinheiro, carro, aparência, beleza.
O pior de tudo é que pessoas inteligentes e abastadas em algum dos quesitos que a sociedade moderna supervaloriza (poder, dinheiro, beleza, posição social) trazem consigo uma certa desconfiança racional "o que será que ele quer comigo?". E, assim, com base nesta desconfiança que cria uma série de medos e bloqueios, pessoas realmente honestas, que realmente admiram o conteúdo por trás da capa e seus adornos vão sendo sutilmente afastadas da vida do individuo: De tanto "inteligentemente desconfiar" a pessoa acaba sendo tola com quem não merece.
Se é bom ser pobre, feio ou viver em baixa posição sócio-econômica? Não, provavelmente, tem suas mazelas. Mas resta a certeza de que a grande maioria dos amigos, das pretendentes e parceiros estão ali na sala, telefonando (ainda que a cobrar), e marcando festa e encontros pelo prazer da sua companhia e não por algo a mais que possa ser oferecido.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 1º de dezembro de 2008.

sábado, 29 de novembro de 2008

Auto-engano

Auto-engano

Engana-se quem acha que engana alguém. Os homens se deixam enganar porque desejam, consciente ou inconscientemente sê-los. Porque esperam demais e ouvindo do outro, muitas vezes, o que desejam acabam enganados. (Ora, como é fácil ludibriar afetivamente alguém: Basta sentir o que ele deseja ouvir e dize-lo!)
Existem, digamos, os estelionatários sentimentais, todavia a vítima do estelionato, via de regra é provocadora, possui, por trás de sua aparência inocente um viés de “esperto”, não à toa cai em certos contos esperando obter algum “lucro”.
Na vida afetiva do homem também: Existem relações tolas que seguem determinado rumo porque um dos dois, por carência ou qualquer problema afetivo semelhante, deseja “algo”, e o outro oferece algo (se não igual, semelhante “àquele esperado”) causando a entrega, o bem querer alheio.
Ah, ele foi “enganado” mesmo? Creio que não. Ele se deixou enganar baseado em seus ideais, sonhos e pouca análise da realidade, pouca inteligência e, digamos, muita vontade de ser “esperto”.
No fundo, o homem se engana sozinho, se deixa ludibriar sem perceber, ele é e sempre será vitima de si mesmo, o outro pode dar um empurrãozinho, mas quem sai correndo em busca de um “não sei o que” é aquele que, depois, vem afirmar que foi “enganado”.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 29 de novembro de 2008
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Os litígios nas Varas de Família

Os litígios nas Varas de Família

As piores relações, as piores brigas, jurídicas ou não, são as que envolvem amor frustrado, recalques, desdém proveniente de alguma frustração afetiva. Diga-se: Frustração que o próprio frustrado cria.
Como advogada é nas audiências de Vara de Família que encontro em exposição as atitudes mais lamentáveis, precárias e vis do ser humano, onde o nome de uma criança, onde a existência de uma criança, por exemplo, é usada para magoar, frustrar ao outro. Como vingança, enfim, das mais variadas (lamentáveis) formas.
Em casos de família há o ódio por trás do amor, e este é o mais vil e perigoso dos “ódios”. Se em problemas criminais, agressões, homicídios, encontramos, de regra, o desprezo explicito, nas brigas de Vara de Família o desprezo vem à tona após algum sentimento que, em determinada época, era tido como bom, como salutar.
Sentimentos recalcados, frustração, sensação de traição, de impotência, ódio pós amor, todos os sentimentos que mechem com a parte mais humana e mais profunda do ser humano estão, de certa forma, colocados a prova em determinados litígios. Paixões mal resolvidas, questões que um Juiz tem que administrar, e o Promotor aconselhar quase como psicólogos, enquanto os advogados tentam (também sendo um pouco “estudiosos da mente humana”, mas com pouco sucesso) segurar a animosidade dos clientes.
E é assim que concluo que o homem e as frustrações que ele mesmo cria por esperar do outro determinadas atitudes, por criar sonhos muitas vezes sozinho, por não conseguir administrar perdas e aceitar que às vezes o que poderia dar certo, não deu, fazem das brigas de Direito de Família as mais baixas e vis que um ser humano, profissional do Direito, ou não, podem ver.
Porque mal estar afetivo, frustrações, romances findados, problemas conjugais, ira, cólera, recalques pós “amor” já são delicados dentro de consultórios de psicólogos e psiquiatras, dentro de um quarto, de uma sala, de uma casa, mais delicados se tornam quando levados ao Judiciário, envolvendo terceiros e a Justiça, enquanto ideal para resolver coisas que, esta sim, ideal racionalidade humana e ponderação, não conseguiram resolver.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 29 de novembro de 2008.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Auto-diagnóstico

Auto-diagnóstico

O primeiro passo para a cura é o diagnóstico. Nenhum médico consegue tratar um paciente sem saber o que ele tem, e nenhuma pessoa pode se direcionar a um especialista sem, ao menos, "desconfiar" de qual "tipo" é o mal estar que possui.
E é assim na vida humana: O primeiro passo para nos livrarmos de nossas amarras emocionais, bloqueios, medos, traumas, receios, enfim, limitações (comumente chamados de "defeitos") é tomarmos consciência deles.
O difícil, para a maioria, é chegar neste ponto: No de se auto-analisar, de fazer um balanço da própria vida, do que se fez, do que se deixou de fazer, de como se agiu com os outros,de como eram as pessoas que passaram, de como se age no presente e como são as pessoas que estão em sua vida no agora.
Todavia, é preciso uma virtude extremamente nobre para executar esta tarefa, virtude que nenhuma faculdade, especialização, mestrado, doutorado, ou alto valor em dinheiro pode comprar ou dar: Humildade de espírito.Confessar no silêncio de sua própria alma, sem tentar justificar culpando a outrem, as suas próprias fraquezas é um ato praticamente divino. Afinal, apenas assim, com consciência de si mesmo, com o "auto-diagnóstico" anotado na sua essência o homem pode ser capaz de mudar, ou ao menos, de procurar ajuda para tanto.
Muitas vezes, uma pequena mudança, alguns detalhes, operam milagres no bem estar humano. Difícil, para o homem é chegar até a sua auto-percepção. É preciso a virtude mencionada e muita maturidade, mas o certo é que, neste mundo, pelo amor ou pela dor as pessoas estão fadadas a evoluir, a melhorar enquanto seres inerentemente errantes.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 27 de novembro de 2008.

O promotor homicida



O promotor homicida
Existem coisas que me assustam, que apavoram, não apenas como advogada, mas como ser humano, como mulher que, um dia, quem sabe, será mãe. Como profissional do Direito atuante na área criminal talvez devesse me calar, mas, com as escusas de meus sócios e colegas manifesto minha indignação.Foi com lágrimas nos olhos que recebi a notícia de que o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo absolveu o promotor público que, em 2004, após um Luau matou um jovem e tentou matar outro porque “mexeram” com sua namorada.Com salário e posição profissional garantida o promotor homicida comemorou a decisão, ora, tirou a vida de um jovem que cometeu um ilícito: “Falar alguma besteira para sua namorada virginal”. Um homem desequilibrado, sem o mínimo de autocontrole teve sua absolvição dada por unanimidade pelos desembargadores paulistas, cuja coerência lógica de idéias me suscita desconfiança.Doze tiros dados contra os jovens, até onde se ouviu falar inexistem provas de que ele estaria na iminência de ser "tão" agredido a ponto de precisar efetuar excessivos disparos, guiado certamente por sua fúria. Legitima defesa? Poderia ter ocorrido, mas com 12 tiros? Não haveria, no mínimo um "excesso" nessa legítima defesa? Mas, absolvição!?Sinto pela mãe do jovem, sinto pela sociedade que sabe, no fundo que se o acusado fosse uma pessoa qualquer que ganha um salário mínimo e depende de Defensor Público e de seu nobre esforço restaria condenado.Condenado em Plenário de Júri, por quem afirma ser “Promotor de Justiça”, esta mesma profissão do cidadão que disparou 12 vezes contra rapazes, por um motivo tolo, por falta de controle de seus próprios atos, e, o que continua sendo lastimável: Continua em seu cargo. Que País é esse? Que ideal de justiça a sociedade brasileira pode ter?Que o povo tenha esperança, e que ela não morra jamais, ou, ao menos, não tão cedo como o jovem atleta que foi assassinado por quem, algum dia ousou afirmar que promove a “justiça”.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 26 de novembro de 2008.

Postado às 21:19.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Ter alguém?

Ter alguém?

Ter alguém? Nunca ninguém terá ninguém, porque o alguém é a alma que possui e esta não se deixa prender, o que podemos cativar é o prezar de alguém, o que podemos conquistar é o coração de alguém, o seu respeito, a sua admiração, e por fim, o maior de todos os sentimentos: O amor.
Não é qualquer um que nos faz amar, assim como é raro o amor de verdade em época onde aparências, status, onde o próprio comodismo, a carência e a falta de amor próprio andam imperando na mantença dos relacionamentos. Relações passatempo, relações entre carentes, relações mantidas pelo medo da solidão, do risco. Relações nascidas abortadas.
Felizes os que têm o amor de alguém. A admiração, a mão estendida na hora necessária, a confiança, o abraço de conforto, o perdão pela pequena gafe, o respeito, a consideração, um bom diálogo, uma boa sintonia e interação. Difícil é justificar o que nos faz amar alguém, se apaixonar, quiçá seja mais fácil explicar o que faz a paixão e o bem querer esmorecer.
Perda de admiração, de respeito, erros que vão além de gafes, a própria baixa auto-estima e autoconfiança do outro esmorece um sentimento. É quase impossível amar sem se amar, é também, impossível admirar e, portanto, amar quem não nutre amor e respeito por si próprio.
De resto, curtir uma paixão, um romance bem vivido, conversas, diálogo, e tudo que pode se tornar (ou é) o prelúdio do amor, é algo que apenas os românticos pós-modernos sabem valorizar. Românticos que desejam um objeto real, vivido, sem amarguras, sem sofrimento, um amor maduro, saudável, esses são os “românticos pós-modernos”. Viver, bem viver e gozar a vida, e, quiçá conseguir a conquista de um bom coração, é a ambição de qualquer homem.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 26 de novembro de 2008.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Pegação

Pegação

Quão rara esta a vontade de amar nos dias de hoje, a vontade de viver um amor puro, romântico sem ser triste, doce sem ser enjoativo, carnal sem ser vulgar, interativo ser monótono, simples sem perder o doce mistério que envolve duas pessoas que se desejam, e, bem ou mal, provém de mundos e vidas diferentes.
A maioria das pessoas quer amores descartáveis, aquilo que não se pode chamar de amor, mas de “pegação” (e é como, de fato chamam). Hoje o “Fulano pega a Sicrana, que ontem pegou o Beltrano”. Pegar é transar, é sair com o intuito de fazer sexo, é encontrar na balada, conversar um pouquinho e acabar num motel.
É ir embora sem ter ganhado em sentimento, sem ter trocado afeto e quiçá um bom diálogo, é ir pra casa com a certeza (ou quase certeza) de um orgasmo que findou com a relação (?) entabulada. E assim o verbo amar, respeitar, a conjunção “querer ter alguém” vai ficando de lado, as pessoas vão se acostumam a serem e terem todos sem doar o coração a ninguém. E, muitas vezes quando desejam faze-lo, perdidos que estão no mundo da liberdade que virou libertinagem, não encontram o que desejam. Seguem a sós.
O vazio vai predominando, e aqueles poucos que ainda desejam viver um amor, gozar um amor e não apenas uma relação de cama e simpatia vão se tornando exceções, vão sendo os “insanos” no mundo das facilidades, do sexo fácil, das pessoas descartáveis, onde o risco esta no fato de que, na medida em que se descarta a possibilidade de vivenciar relações sérias, os homens acabam por descartar e malbaratar a própria dignidade.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 26 de novembro de 2008.

A paz e a alma humana

A paz e a alma humana


Como pode o homem desejar da vida paz, tranqüilidade e calmaria? Como pode desejar permanente serenidade, alegria e sensação de auto-realização? A vida não propícia paz constante, a vida é movimento, situações inconstantes como o bater de nosso órgão vital.
Constante é aquilo que é parado: Um coração morto. O coração do homem vivo, tal qual tudo ao seu redor bate, se agita, ora lamenta, ora se reanima, ora se debate, se confunde, se perde de si mesmo. Lentamente bate, reflete, encontra a si mesmo e dentro dele, em seu intimo, as respostas para o que procura. E, assim sente paz, sente o gozo da alma, o sossego.
Não é tão possível ter paz na vida, como é possível ter paz de espírito. "Eu estou em paz comigo mesmo". A sensação de saber que se agiu com justiça, com equilíbrio, de acordo com a própria consciência (vez que, se Deus existe, é nela que ele habita), não tem preço, e seu mérito faz qualquer pessoa suspirar de alívio, de alegria, de exaltação.
Ora, mas o que seria um agir justo? Muitos filósofos já disseram, mas, distante deles eu digo, que agir com justiça é agir com uma proporcionalidade qualificada, é dar a cada ação uma reação, mais aprimorada, mais racional. É tentar, mesmo diante da adversidade não fazer ao outro o que não deseja para si. Não fingir "falso amor", não deixar o outro se iludir, não enganar, não dar falsas esperanças, não humilhar, não espezinhar. É possível agir sempre assim? Não, e é por isso que desejar da vida uma paz constante é algo impossível. É algo que vai além do ser, de ser humano.
O homem cria situações de adversidade, em especial porque o aprendeu, com sua cultura, a cultivar a culpa, a responsabilidade pelo que vai além de sua alma, o que o faz prende-lá e o impede de ser feliz. Alma tranqüila, alma feliz é alma livre, liberta de paradigmas inócuos.
Ninguém que é livre na alma e sincero no coração pode se sentir culpado quando, podendo, fez o possível para que a vida tomasse um rumo diferente. A culpa é típica de um ponto de vista de quem esta tentando fugir da alegria de ser feliz livre na alma, no espírito, livre para estar só ou acompanhado, mas para poder, ao deitar-se suspirar aliviado na boa companhia de uma consciência que procura, ao menos, descansar em paz.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 25 de novembro de 2008.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O peso da frustração

O peso da frustração

Sabe aquela dorzinha que às vezes a gente sente na alma? Delicada como uma alfinetada, outras vezes forte como se fosse uma faca a nos cortar por dentro? Ela se chama frustração.
Ninguém termina sociedade, ninguém se desfaz de planos, de negócios, de bens materiais, de namoro, de casamento sem senti-la. A frustração não depende de “quem se encarrega” de decidir pelo fim, pelo sim, pelo não. Ela é de todos que por algum motivo se colocam diante de uma mudança na vida.
No universo da vida temos nossa dose de responsabilidade, essa é uma pequena dorzinha dos viventes. Não têm como fugir: Nossas decisões devem ser pensadas, repensadas, porque, bem ou mal sempre irão repercutir em nossas esperanças, já em fase de frustração, e nas de outrem, que irão frustrarem-se.
Viver é, sem duvida, assumir o risco de ser feliz, de mudar, de ir atrás, e, inclusive, de chorar a dor de uma frustração, de se magoar, de se decepcionar. De estranhar o fim, de querer regredir, de voltar atrás de sonhos perdidos que, muitas vezes, não se reconstroem mais. Viver é se sujeitar as agulhadas da frustração.
Se é triste? Se é doloroso? Sim, sempre. Abrir mão de planos, de desejos que outrora eram vivos, abrir mão do que se sonhou e imaginou, da companhia que era tanto prezada, abrir mão de metas, de anseios, de desejos é como enterrar num cemitério secreto que temos na alma as nossas dores, arrependimentos e ela, a simples e doída frustração.
Ela fica lá, enterrada, um dia pode ser lembrada, mas não com tanta dor. O tempo se encarrega de enfraquecê-la, o tempo e o doce caminhar da vida se encarregam de nos trazer outras doces esperanças, oportunidades e sonhos. Não podemos é ter medo de enfrentá-los, porque a pior das frustrações é a do covarde que, podendo aproveitar novas oportunidades quedou-se silente diante da vida.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 24 de novembro de 2008.

Medo?

Medo?

Por mais que o homem almeje ter uma vida linear, interiormente tranqüila, em completa paz e conforto psíquico, eis algo além dele que irá impedi-lo: O simples fato de ser humano. O homem pode conseguir uma relação afetiva equilibrada, uma profissão e carreira confortáveis, todavia, desconfortos existenciais, das mais variadas formas sempre irão existir.
O homem é um ser em constante estado de evolução, e a dor, o desconforto, a ansiedade, ainda que com seus atributos negativos, são e sempre serão a melhor forma de guiar o homem para seu destino: A maturidade, o crescimento pessoal.
Logicamente que nem todos sentem a frustração, a dor inerente a necessidade de agir, de fazer nascer uma relação, de matar outras. Existem os que passam a vida em brancas nuvens, sem sentir dor, nem o prazer profundo de, desvelando o desconforto, descobrir a tranqüilidade. Não a eterna tranqüilidade, mas aquela que vem com mérito da auto-superação, do auto-conhecimento.
Superar os vícios emocionais, os apegos, ir além da carência, da solidão, ir além do medo de ferir, de magoar, de ser magoado, ir além do medo de se entregar, de sofrer, significa viver. Porque a vida é um risco: Podemos ter medo dos sentimentos, dos buracos onde podemos nos colocar em busca de algo diferente, de algo a mais para nos completar a existência intima, mas não devemos ter medo de viver. Se tivermos e cultivarmos este medo, teremos medo de arriscar, e, quem não arrisca, infelizmente, não vive.
Podemos temer as conseqüências de nossos atos, o rumo que escolheremos para nossa vida pode nos assustar, mas o viver em si, jamais pode nos amedrontar, porque todo medo bloqueia e o medo de viver mata aos poucos aquele que acha que esta vivo.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 24 de novembro de 2008.

Palavras cruéis

Palavras cruéis

Todos temos muita responsabilidade pelo que falamos, de nossa boca saem elogios, de nossos lábios saem palavras que despertam apreço, carinho, afeto, mas também saem outras que despertam fúria, desdém, asco. Saem palavras capazes de causar no coração alheio ferimento que nem mesmo uma espada ou uma faca podem fazer num corpo.
A ira, a raiva, explicam blasfêmias, explicam chutes na parede, arremesso de objetos, lágrimas, mas não justificam afirmativas cruéis com quem não as merece. Ter raiva, embravecer, todos podemos, mas ser cruéis, humilhar, pisar no outro ninguém deve, ao menos que o faça assumindo o risco: O risco de perder o apreço do outro.
Assim como precisamos cuidar ao trafegar de carro em rodovias perigosas, freiar antes das curvas, diminuir a velocidade, sermos prudentes, precisamos aprender a usar as palavras com prudência, a se colocar no lugar do outro antes de lhe dirigir uma ofensa, e, principalmente a ouvir com atenção o que o outro expressa antes de nos manifestarmos, porque podemos entender errado, errar a estrada e causar um dano letal.
Auto-controle, capacidade para pensar antes de falar ou fazer algo são virtudes nobres num mundo onde a desonestidade e o desrespeito estão imperando. Respeitar o outro é a única forma de exercitar o preceito cristão de "amar uns aos outros", e, cuidar com o que falamos, em especial para quem amamos ou pretendemos cultivar o amor é essencial, porque assim como as palavras encantam, elas matam a admiração, assim como criam o entusiasmo, criam a mágoa, a dor. É preferível calar a arriscar falar o que não se deve.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 20 de novembro de 2008.

domingo, 23 de novembro de 2008

A decepção das mães

A decepção das mães

Poucas coisas são tão mágicas e encantadoras quanto a maternidade. As mães se duplicam ao terem filhos, não bastam as suas mazelas a lhes afetar o coração, cada ofensa, cada injustiça, cada pisada no calo de um filho dói nela na mesma proporção.
Só que as mães amam seus filhos e quando, por exemplo, eles sofrem por amor, ou melhor, por amor ninguém sofre, as pessoas sofrem pelo desrespeito, desconsideração, ou, isto sim, pelo desamor de quem amam, as mães se sentem atordoadas, desoladas, porque, no fundo, nada podem fazer. Seus filhos são livres.
Os filhos sofrem, padecem, mas podem amar, podem perdoar, e, as mães (pobres mães) mesmo vendo as lágrimas rolar do rosto de seus filhos, mesmo querendo que aquele que lhes fez sofrer desapareça do mundo, aceitam o sentimento de seus rebentos, a quem tanto amam. Aceitam, com dor no coração o perdão que possam vir a dar.
As mães sofrem pelo filho solteiro, que dorme cada noite com uma mulher, que sai direto, enche a cara e por uns instantes se entrega a ilusão de que a vida é uma festa, as mães se preocupam com a vida profissional dos filhos, desejam que eles amadureçam, estabeleçam família, vivam em paz.
As mães sofrem e se frustram porque esperam demais o bem para seus filhos, que, muitas vezes, precisam sofrer para crescer, para amadurecer, para ver a vida e o mundo com outros olhos. Mas, ainda assim, cada vez que olho para a decepção do olhar de uma mãe sinto compaixão.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 23 de novembro de 2008
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sábado, 22 de novembro de 2008

A paz no amor

A paz no amor

Todos podem dizer o que desejam de um relacionamento, paixão, parceria, cumplicidade, companheirismo, mas, o essencial de tudo, é se relacionar com paz, com quem lhe dá paz.
O bom é ter uma relação linear, baseada no respeito, no diálogo, no “colocar-se no lugar do outro”. Só amar não basta, é preciso querer ficar com o outro, é preciso querer ter paz entre quatro paredes e fora delas.
Ter paz é poder saber que você pode dizer o que deseja, falar de teus sentimentos e quiçá lamentos e que o outro vai ouvir, mesmo sem precisar concordar, vai entender, quem sabe te dar um braço, compreender seus anseios, desejos.
Ter paz é não sair gritando, ofendendo, magoando quando se pode ponderar, se colocar no lugar do outro, ter paz é poder dormir cansado, exausto, mas de mãos dadas e pernas entrelaçadas com que se ama.
Todo mundo quer amar, quer um amor, mas um amor em paz, um amor com paz, com carinho, com confiança mútua, com respeito mútuo, com admiração entre amos, e, principalmente, ponderação na hora da ira, porque existem palavras que machucam indelevelmente a alma alheia.
Todos, como Cazuza, querem “a sorte de um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida”, um amor em paz, sem guerra, sem desrespeito, sem pequenas implicâncias ou desconfiança, uma relação madura, saudável, agravável. Felizes dos que tem uma relação assim, esperança aos que ainda não a encontraram.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 22 de novembro de 2008.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Das garrafas descartáveis às relações humanas


Das garrafas descartáveis às relações humanas

Estava me recordando das garrafinhas de vidro de refrigerante que eu segurava com todo cuidado quando criança para não quebrar porque elas tinham valor pecuniário. Não era só o liquido gostoso que a gente usufruía, nós precisávamos cuidar do material sólido e caro: Da embalagem. Com o passar do tempo inventaram as embalagens de plástico - basta tomar e arremessar no primeiro lixo que encontramos. Não corremos o risco de quebrá-las, e nem precisamos guardá-las. Assim como os vidros dos refrigerantes foram substituídos por embalagens descartáveis, os relacionamentos duradouros e com uma seqüência correta e lógica foram substituídos por relações fulminantes, desorganizadas e frágeis.
As pessoas tornaram-se descartáveis. A falta de auto-estima e a carência transformaram os relacionamentos humanos que, certa vez eram sólidos como o vidro em peças leves e insignificantes como o plástico. Nós aproveitamos o melhor de uma relação e depois terminamos, pois no fundo não temos paciência para vivermos os bons e maus momentos com alguém, assim quando começamos a conhecer o outro e ver seus defeitos findamos a relação que pode ser considerada evoluída se chegar a tal ponto vez que, na maioria das vezes são tão baratas que começam e terminam em camas desconhecidas. Nós desejamos apenas o liquido saboroso não queremos saber da fórmula do conteúdo.
Se em relação as embalagens de refrigerante a invenção das de plástico demonstra evolução, o aumento de relações frívolas demonstra uma regressão do ser humano que julga-se racional, mas parece incapaz de refletir. Afinal, se o ser humano cria relações descartáveis, desde relacionamentos sexuais fugazes até casamentos relâmpagos como os da tosca patuléia artística, torna-se de igual forma descartável, e, admitam ou não, o que é descartável não merece ser valorizado.
As amizades não são mais reais, nós não possuímos amigos verdadeiros posto que nem mesmo nós somos nossos amigos vez que, para que exista amizade e amor é preciso a auto-estima e a nossa anda muito "em baixa". Enfim, existem "pseudo-amizades": mantemos um círculo de pessoas que desejam apenas divertirem-se em nossa companhia, e quando temos problemas despistam, pois não desejam "nem saber". Fecham-se para nossos problemas e fecham os deles para nós. Não querem comprometer-se, mas apenas ficar na superficialidade de conversas inúteis e reuniões e jantares fartos de comida e pobres de sinceridade e envolvimento. São amizades "descartáveis" que, diante de companhias mais "agradáveis" (fúteis?), um dispensa o outro e termina a "diversão".
Para que uma relação não se torne substituível, enfim, descartável é preciso que nos valorizemos a ponto de não desejarmos despender nossas boas energias com algo que constatamos ser vão.
É preciso que, nos estimando passemos a respeitar o que é valoroso e não fútil, o que pode ser duradouro e sério e não perene e vazio. Porém, graças ao nosso pouco amor próprio vamos nos imergindo em um jogo de futilidades trazidas de nossa vida material para nossa vida pessoal, e assim aumentamos o numero de nossas relações sem notarmos que somos tão vazios como elas. Não temos coragem para nos auto-conhecer e para nos deixarmos conhecer de forma que, aceitando-nos, passemos a aceitar o outro se algum (bom) sentimento ele nos desperta.
Infelizmente agimos como se tivéssemos pressa de viver e nos esquecemos do brocardo : " A pressa é a inimiga da perfeição". Nos tornamos descartáveis porque frágeis e com pouco valor como o plástico das embalagens de refrigerante. Queremos o sabor doce mas não a responsabilidade de zelar pela relação que adoça nossa vida. Queremos algo sério, mas não possuímos a maturidade necessária para deixar o tempo passar conhecendo e deixando o outro nos conhecer sem enfeites, sem maquiagem, sem vestes belas, para que, talvez, dele passemos a cuidar, pois, ainda que imperfeito como nós, ele merece ser valorizado.


Cláudia de Marchi

Passo fundo, 13 de junho de 2005.

Óbvio?



Óbvio?

Ontem eu havia acordado após um salutar sono vespertino, e, acompanhada de algumas pessoas assisti por breves instantes em um canal televisivo uma mulher que se tornou conhecida no País inteiro por dar palestras sobre como uma mulher deve agir para seduzir um homem, sentir-se bela e competente, e algumas maneiras para reforçar a autoconfiança de algumas para, com isso, sentirem-se "destemidas" em seus relacionamentos afetivos, ou meramente sexuais.
Obviamente a existência daquela mulher, morena, porém sem muitos atrativos físicos, sem um corpo exuberante, sem lábios carnudos e, aparentemente, sem ter se entregado a dupla "silico-lipo" suscitou comentários negativos nas mulheres presentes no ambiente. Diziam que ela falava o "óbvio", e "como seria possível alguém ganhar tanto dinheiro" (como se soubessem o quanto a dita conselheira ganha por mês) falando o "óbvio"? Bem, eu ora silenciei, ora erigi-me em defesa da simpática mulher que não tem beleza marcante, mas tem a marca que as poucas pessoas fortes possuem: Auto estima e inteligência emocional.
O "óbvio" para alguns é um tesouro escondido no mais recôndito da alma de outros e, quiçá dos petulantes que chamam aquilo de "óbvio" porque nunca vivenciaram determinada situação, porque falar algo na teoria é bem diferente de vivê-lo na prática, assim como os romances narrados em livros ou no cinema são bem diferentes dos romances reais. Assim aquele "óbvio" é algo difícil de se encontrar, e aquela mulher deixou para os que lhe pediam conselhos, (desde como esquecer alguém até como potencializar o orgasmo) frases que servirão como setas indicando o caminho da mudança que certas mulheres precisam (inclusive aquelas que criticaram a "existência" da "Sra. viva a auto-estima").
No entanto, afirmo que cada pergunta que lhe era feita quer fosse como fazer um strip-tease, quer como esquecer uma antiga paixão, enfim, todas as questões vinham envolvidas pela "fera" que assombra 8 entre 10 mulheres (e homens também): A insegurança.Não adianta, se o mal da maioria dos homens é o egoísmo e a falta de perspicácia para reparar pequenos fatos, o mal das mulheres é a falta de segurança em si mesmas, provinda, via de regra, da carência, que é a "filha única mimada" da falta de amor próprio.
E, lamentavelmente, esta "família desconstituída" atormenta as mulheres. Não há prozac, frontal, lexotan, pamelor, plástica, lipoaspiração, polifenóis de alcachofra, botox (na testa, na boca, ou onde precisar), silicone nos seios, no glúteo, que curem a insegurança (ainda não se ouviu falar de "cirurgia para aumentar a capacidade mental”). A auto imagem pode melhorar, o sono aumentar, a necessidade de chocolate e doces diminuir, mas a insegurança e a carência só terminam com uma mudança efetiva na forma de se "auto projetar", na forma de pensar, e de encarar a vida.
Para isso existem pessoas como a mulher que aparecia na televisão (só lembro que o sobrenome era Penteado o nome esqueci). Pessoas que auxiliam as desprovidas do que ela possui (auto-estima) a crescer mentalmente e a se gostarem, posto que muitas mulheres se exigem muito por se compararem com as demais.
É possível ser a melhor amante, a melhor esposa, a melhor mãe e cozinheira, mas, para isso não se pode comparar é preciso fazer o seu melhor dentro da própria vida e das possibilidades que ela propiciou, ver o que nela se pode fazer de melhor, qual o caminho para o aprimoramento pessoal, ignorando que a outra faz uma massa melhor, que tem a bunda menor e o seio mais firme, que é mais bronzeada ou menos flácida, é preciso, (agora eu digo o "óbvio") se aceitar como é, amar o que tem e desejar evoluir, sem comparação depreciativa com os outros, mas tendo como "margem" o que melhor se pode ser dentro das próprias limitações..
Esse é o "óbvio" que a "não bela", mas sábia instrutora emocional-sexual possui em mente e que muitas donzelas, muitas musas, muitas crentes, enfim, muitas mulheres (e homens também) não possuem, e é isso que faz dela uma mulher especial e, inegavelmente, bem amada, afinal, apenas quem se ama pode ser bem amado, apenas quem se prioriza efetiva seus ideais, pois quer acompanhado, quer só, esta de bem consigo.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 11 de fevereiro de 2005.

A saudade, o passado, o presente e o futuro.

A saudade, o passado, o presente e o futuro.

O passado é aquele tempo que deixou de existir, o futuro é o tempo que não existe e trás consigo todos os mistérios e dúvidas do mundo, enquanto o presente é a vida, é o tempo da ação, é o tempo do sentir, do agir. O hoje é a vida, o amanha é a possibilidade, é a hipótese, a incerteza e suas dúvidas, que, para o covarde, ou seja, para aquele que não vive o presente, é "o tempo de ser feliz".Deixando para o amanha a vida, se desculpa por ignorar a possibilidade de aproveitar as chances, armar-se de coragem e ir lutar pelos seus sonhos.
Os sonhos são como um comandante severo que manda o homem para a o campo de batalha, se ele não for irá safar-se por covarde, mas não receberá congratulações, se for poderá ganhar e alcançar metas. Para auto-realizar-se é preciso arriscar, para viver é preciso arriscar, quem não arrisca esta vivo apenas, mas não esta vivendo: Vegeta calmamente no silêncio de seu marasmático ambiente de alienação.
O passado, o presente e o futuro são como barcos interligados por uma corda de aço que os junta a uma só âncora: Ela se chama saudade.Não sentimos saudade apenas do que passou, não sentimos falta apenas dos amores antigos, dos amigos que se mudaram, do pai que se foi, da mãe ausente, da esperança que a perda da inocência levou.Sentimos saudade do futuro!
Sim, sentimos saudade dos sonhos cujas sementes guardamos para semear no futuro e que, por algum fato do presente (ou do passado) perdemos, e nos faz ter que ignorar o sonho antigo para mudar de metas.Sentiremos saudade daquele sonho.Os sonhos futuristas distraem a alma e alentam o espírito que, enquanto sonha, pressiona as sementes com os dedos contra o chão, fugindo do hoje, ignorando a terra seca do presente, pensando que no amanha ela estará fértil.
A mulher que desejava ter um filho em 1 ano,tem seus planos frustrados ao saber que necessitará de tratamento para engravidar e que tal levará muito tempo.O futuro almejado mudará, e ela terá saudade dos planos e da idéia que fazia de si com 14 quilos a mais e um ser amado no ventre em poucos meses. O homem apaixonado que desejava fazer uma viagem com a namorada dentro de 6 meses, terá que mudar os planos diante do falecimento da mãe da moça, e em meio à lágrimas e lamúrias sentirá saudade da idéia que tinha em mente, de ambos na praia, se amando e conversando.O acadêmico que tinha os papéis adequados para o ingresso em uma pós-graduação em São Paulo, terá saudade dos planos e de sua imagem de "pós-graduando" dedicado na capital paulista, ao ser reprovado na defesa do trabalho de fim de curso. A jovem que marcou um encontro com um rapaz que não apareceu, sente saudade da esperança de alegria e envolvimento que tinha antes da frustração, e da idéia que fazia se ocorresse atração entre ambos.
Enfim, a saudade não é de algo concreto, sente-se saudade de sonhos, de pensamentos e de "idéias" que, sem serem concretizados traziam a idéia de felicidade, e é desta possibilidade, de alegria, paz e venturas que se sente saudade.
Sente-se saudade, também, de paz, de igualdade social, de amizade, de fidelidade, de companheirismo, de respeito humano, de afeto, de compaixão, de compreensão, de humildade, de partilha, de carinho, de humanidade.Faz falta, a inexistência de amor e respeito entre os homens, por isso temos saudade destes sentimentos e realizações, porque se fossem concretos ou concretizados muitas vidas, situações e atos seriam melhores, mais fecundos e grandiosos.
A música é algo que para todos trás lembrança, e toda lembrança remete à sentimentos e todo sentimento bom suscita saudade. Saudade de nossa alma na época em que a ouvimos, de nosso estado de espírito esperançoso, ainda que iludido, apaixonado ainda que por tempo curto (posto que passou), de nossa agitação pela espera de algo ou alguém, enfim, a maior saudade que uma canção trás é dos sentimentos que tínhamos e que, sendo nossos, notamos que é de nós mesmos que temos saudades (!).
Temos saudades de nós no passado, temos saudades da idéia que fazíamos de nós no futuro que ainda não chegou e que o presente já mudou. .Antes a esperança, a meta, o sonho, a empolgação, a música...Aquela música! Hoje, a frustração, a realização conforme a possibilidade do momento, a calma de quem controlou a ansiedade enfrentando as agruras da vida, a música do momento, para fugir das lembranças das quais, por mais que nos esquivamos não as afastamos.
Não nos afastamos das lembranças porque, elas são como as cicatrizes na pele que não saem do corpo: elas são as cicatrizes da alma. Como as marcas no corpo, podem ter sido adquiridas com uma queda lamentável, podem ter sido adquiridas em uma alegre escalada em uma macieira que se mostrou perigosa, pode ter sido adquirida em um escorregão no banheiro quando nos apressávamos para abrir a porta para a visita de alguém, independente, pois de terem sido adquiridas por bons ou maus motivos as cicatrizes no corpo marcam, assim como as lembranças, cicatrizes da alma.
Elas não saem de nosso espírito, contudo não provirem de motivos agradáveis. Ao nos lembrarmos de algo sentiremos saudade do que fomos naquele momento, ainda que a cicatriz tenha provindo de uma desilusão, podemos ter certo saudosismo da inocência que tínhamos antes daquele fato.
Porém, é no hoje que vivemos, e a saudade não pode tornar-se melancolia, porque quando lembramos e exprimimos um suspiro de "que bom era", devemos suscitar a certeza de que o dia de hoje esta acabando e que amanha é por ele que iremos suspirar, porque é humano regozijar-se com o que lembramos e não valorizarmos nosso hoje, e principalmente à nós mesmos e à nossos sentimentos presentes.
Se no ontem tínhamos ilusões e sonhos, hoje temos realizações e marcas de luta e maturidade, se antes tínhamos esperança hoje temos novos motivos para enfrentarmos novas batalhas, e conhecemos melhor o caminho da realização. O ontem, porém, será lembrado, pois algumas circunstâncias e sentimentos se eternizam na alma do homem que se constitui do que viveu, do que sentiu, do quanto se doou e amou. Lembrar é reviver a si mesmo, lastimar , no entanto não é sentir saudade.Lastimar-se é se afogar no poço da melancolia, abdicando de novos sonhos, novas lutas e nova vida, pois a vida se renova diariamente para quem a aprecia com atenção e a deseja, feliz, com ardor.
Quem lastima demais desistiu de mudar e de avançar na vida, quem sente saudade relembra com sorriso o que foi, mas anima-se para que, no barco do futuro, tenha boas lembranças do presente, do que foi, como agiu e quão intensamente o gozou..

Cláudia de Marchi

2005.

A ficção do "tarde demais"


A ficção do "tarde demais"

O decurso do tempo que faz uma fruta perecer faz o sabor do vinho se acentuar. O mesmo tempo que trás rugas na face dos pais chegará para os filhos, trazendo maturidade e as responsabilidades. O tempo que relativiza a beleza jovial engrandece e enobrece a alma do individuo que amadurece.
Na vida humana não existe o "tarde". Nunca é tarde para mudar, nunca é tarde para pedir perdão, nunca é tarde para amar e para entregar o coração que se manteve em silêncio quando o "tarde" era cedo, ou era, simplesmente o "momento inadequado".
Realmente as oportunidades passam, as oportunidades não voltam. Mas, esta no livre arbítrio do homem a busca para concertar os lapsos do passado, distante ou próximo e criar novas chances, novas oportunidades.
Como na culinária, na vida humana nada se perde porque o tempo transcorreu. É possível engrossar o molho, é possível suavizar o sabor salgado da comida, é possível fazer omelete dos ovos, é possível fazer geléia com as uvas maduras, rabanadas com o pão envelhecido, basta certa inteligência e criatividade.
Para o homem bastará sensibilidade e coragem para agir e mudar a situação que, possivelmente tenha criado. O que é inaceitável é a afirmação de que não pode fazer nada para mudar as circunstâncias, ou a si mesmo, afirmando, ao tratar de seu gênio, por exemplo que "sempre fui assim, é meu jeito".
Se a pessoa justifica sua forma de agir é porque possui ciência que pode ser diferente e, quiçá, melhor, o problema é que a tarefa de evoluir requer que responsabilidades sejam assumidas, e muita coragem para correr riscos.
O homem é "Deus" para sua vida, as chances lhes são dadas, depende dele mudar, agir e assumir a imensa responsabilidade que tem pela sua felicidade. Nunca é tarde para ser feliz, o tarde não existe, é apenas mais uma barreira que o negativista impõe-se: "Tarde demais", por que, na vida, é muito mais fácil cruzar os braços, chorar e se conformar do que ir adiante, agir, forçar a cicatrização de feridas enquanto se tenta recuperar o que foi "perdido". A situação implica em não lamuriar pelo leite derramado, mas em limpar a sujeira sem reclamações inúteis.
Com garra e vontade nada jamais será perdido. Abaixo do céu e acima da terra sempre haverá formas de conseguir o que se deseja.A impossibilidade só existe para o corpo sem vida, para o qual não há mais possibilidade de amar, de perdoar e de ser perdoado.Se o "tarde demais" existe é apenas uma vez na vida, que se dá no momento pelo qual, quem sentiu e passou jamais pode contar - a morte.
A vida é um mundo de oportunidades, um mundo de chances em que, para o velho e para o novo, sempre será cedo se as intenções forem boas, porém o mudar, o agir posteriormente à oportunidade em que se manteve inerte, requer o mais difícil dos atos: O de perdoar a si mesmo.
Uma das maiores aflições do ser humano consiste na dificuldade ou incapacidade para perdoar-se. De um ponto de vista "antimetafísico" nenhuma opinião, nenhum amor, nenhum perdão, é tão importante quanto o do homem para consigo, e para com os outros somente tais sentimentos e atos serão sinceros se existirem na alma de quem os sente. É necessário autocompreensão, e ausência de autopiedade para que, com a constatação da necessidade de mudança, o homem se encoraje para ir à luta, para mudar a si mesmo, para mudar suas contingências, enfim, para mudar sua vida e realizar seus desejos.
Sonhos não existem para figurar no imaginário, se assim for, se tornarão ilusões. O sonho deve ser o prelúdio da conquista, que não afasta a necessidade de luta, abdicação e perseverança.Para quem sonha, não existe "tarde", tampouco oportunidade "perdida", quem sonha esta vivo, e quem esta vivo ressuscita oportunidades e chances que apenas não emergem com a morte de quem as desejou.

Cláudia de Marchi

2005