Sobre o verdadeiro pecado!

Sobre o verdadeiro pecado!
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

terça-feira, 4 de maio de 2010

Ficantes, fornecedores e namorados.

Ficantes, fornecedores e namorados.

Faltando dois dias para o "dia dos namorados" ouço anúncios dizendo que "ainda dá tempo para encontrar o seu amor", indicativo da incitação ao consumismo para que as pessoas gastem comprando presentes para seus amores num belo quadro de "romantismo capitalista". No entanto, tais "indícios" são suficientes para me provar que a maioria das pessoas deseja uma companhia, deseja um amor, ou, enfim, como a frivolidade domina o mundo e o amor verdadeiro é por desacreditado por muitos, desejam alguém "para chamar de seu" (como diria o Erasmo, ou seria o Roberto?) e com ele passar momentos agradáveis, desejam, pois, no mínimo alguém que lhes leve a "sério".
Recordo-me de uma música chamada "Já sei namorar" que era cantada nas "baladas" (reinos dos corações solitários e dos corpos "caçadores”) ecoando a frase "eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também". Creio que esta não seja uma verdade, mas apenas uma forma de pensar que temos quando somos imaturos e desejamos apenas nos divertir, beijar (ou algo mais) e ter alguns rolinhos para "passar o tempo". A partir do momento em que nos tornamos mais maduros passamos a verificar quão solitários somos e a falta que nos faz ter alguém para conversar, alguém com quem podemos contar nos momentos difíceis, e para o quem podemos ligar para contar uma noticia que veio nos felicitar. Alguém que seja mais do que uma companhia...Que seja nosso verdadeiro companheiro!
Ora, mas e os "ficantes"? Sempre digo que o ser humano adora dar nome e significado as coisas, inclusive para aquelas que nada significam. Sendo eu humana estabeleci a "Teoria das Relações Vãs" que separa as pessoas em as que "ficam", enfim aquelas que se comunicam, conversam, saem juntos para jantar, ver um filminho, e possuem uma relação carnal (sexual ou não), mas não tem entre si nenhum compromisso afetivo mais sério, nenhum comprometimento romântico, e as que "fornecem", sendo estas aquelas que não se conversam durante longos períodos, não se telefonam, não possuem vínculo pessoal, mas que, no final de mais uma noite vazia, regada a cerveja ou bebidas alcoólicas afins, quando a razão (que já é pouco utilizada comumente) esta ainda mais parca, fornecem-se "mutuamente". A mulher "dá" para o homem e o homem "dá" o que a mulher quer: Sexo. Se bom ou ruim depende do teor alcoólico ingerido e do exibicionismo particular, afinal, uma pessoa de relativa (in) competência tentará "dar" o seu melhor para não ser "mal conceituada" haja vista que a relação se resume a satisfação de necessidades físicas, ademais assim como o mendigo se acostuma a comer pão velho estas pessoas se acostumam com transas casuais, eventuais com intimidade ausente e sem aquele intenso sabor de entrega plena e despudorada.
Na relação de "fornecimento sexual", além da imaturidade e carência, ambos "fornecedores" agem demonstrando pouca auto-estima, vez que ambos se ligam de forma imediata a tal agir que de racional nada tem, afinal baseia-se na satisfação de necessidades físicas e na demonstração aos outros de que "eu conquisto mais mulheres" ou "eu atraio mais homens".
É o ser humano agindo como os irracionais. Ora, o homem não esta "conquistando" a mulher, apenas conseguindo fazer sexo com uma pessoa carente como ele, vez que, se valorizasse seu "patrimônio" físico e intelectual não iria desperdiçar tempo para transar com uma pessoa pela qual nada sente além de atração que, diga-se, é potencializada com o teor alcoólico constante no sangue. Da mesma maneira a mulher não esta "atraindo" um homem interessado nela como pessoa, como ser pensante (?), mas apenas um ser que vê nela uma presa razoável para satisfazer seus desejos. Razoável porque bonita? Nem sempre. Razoável porque fácil, afinal cada dia que passa as mulheres se vulgarizam mais. A vulgarização e a promiscuidade entre os sexos aumentam na exata proporção em que sua auto-estima e amor próprio diminuem.
Pois bem, elucidada a tese dos "fornecedores", cabe apenas dizer que os "ficantes" são os que estabelecem uma relação que "antigamente" chamava-se "amizade colorida", ou seja, uma espécie de "prévia de namoro", que poderá não fluir impedindo que a amizade continue, porém sem a coloração dada pela "expectativa de algo mais sério". O sexo não precisa ser realizado, basta a troca de beijos e carinhos com uma pessoa durante certo tempo, e que exista entre elas idéias em comum, e, portanto uma interação intelectual além de física o que é inexistente entre os que "se fornecem".
Pois bem, mas e o namoro? E a critica ao "não sou de ninguém"? Pois bem, manifesto que o tal “não ser de ninguém" cansa, é enfadonho e envelhece porque ninguém que aprenda a utilizar-se da razão (que mesmo sem fazer uso sempre afirmou possuir) desejará ser "fornecedor" toda sua vida. É bom namorar e se comprometer com alguém. Comprometer-se, afinal não é o casamento que significa compromisso, mas o namoro entre duas pessoas que se amam, posto que não existe amor sem respeito e sem fidelidade. Sempre digo que o remédio para uma mulher frívola e para um homem "mulherengo" é amar alguém. Porém, o verdadeiro amor ao outro apenas ocorre após o ressurgimento ou nascimento da auto-estima e do amor próprio, sem estes a pessoa é incapaz de amar verdadeiramente e, pois, de doar-se.
Ao contrário das demais relações fúteis o namoro implica em doação, pois, parte-se do pressuposto da existência do amor e este remete à doação de atenção, de sentimentos, e a realização de algumas mudanças, afinal aquele solitário que "não era de ninguém" passará a comprometer-se com alguém, e assim, a pensar nele e no outro, e não unicamente em si. Esta é a mudança que a maturidade e que, posteriormente, o amor traz: A abdicação do egoísmo, que logicamente ocorre gradativamente. Nem todo namoro implica em tais mudanças porque pessoas imaturas e incapazes de amar também namoram.
Enfim, como diria o poeta "bom mesmo é amar", e para amar de verdade é preciso outros atributos, dentre os quais o amor próprio e o auto-conhecimento que geram mudanças salutares na alma daquele que canta que "não é de ninguém" e que "é de todo mundo" e "todo mundo" dele é, mas na verdade não é, nem mesmo, de si próprio, porque age desprovido da racionalidade que crê possuir. Talvez, como dizem os anúncios ainda "dê" tempo de "encontrar" alguém para presentear na data dos namorados, mas, para encontrar um amor de verdade o tempo pode ser curto sendo importante que a pessoa se dê alguns dos maiores presentes que o ser humano se pode dar e que nada custa: A reflexão, a solidão pensativa e a valorização de si mesma.

Cláudia de Marchi

Passo fundo, 10 de junho de 2005.

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