Vou lhes contar...
Não sou o tipo de pessoa que tem paciência para acompanhar novelas. De alguns anos para cá privilegiei tal horário para leituras, conversas, estudo, ou, simplesmente para ouvir uma boa música e pensar em algo bom.
Porém, mesmo assistindo poucas vezes consigo “captar” a moral das tramas, aliás, isso não é privilégio meu com o decurso do tempo as novelas são previsíveis em especial aquelas cujo conteúdo é mais “real”, menos estúpido por assim dizer, afinal, a vida real pode ser surpreendente, mas não é imprevisível.
Pois bem, acompanhei o final de “Páginas da Vida”, e achei extremamente interessante. Um final carregado de realidade, com, obviamente, algum romantismo para não perder a graça.
Outro dia um desconhecido me contou que o “índice” de realização de casamentos havia diminuído após o início da trama. Não sei se a informação é verídica, mas se for demonstra um absurdo. E, infelizmente, absurdos são cada vez mais comuns no nosso País em que o pensar e a cultura se tornaram inatingíveis como as nuvens do céu para boa parte do povo.
O amor é a força motriz da vida humana. O amor, não necessariamente o matrimônio. Existem casamentos fadados ao insucesso, fadados ao fim. Pessoas diferentes que se unem em prol de interesses, casais demasiado jovens e impacientes, casais que se unem por uma paixão insana que lhes cega por completo a racionalidade.
Uma união para dar certo não precisa de papel, de consentimento de padre ou juiz. Precisa, isto sim, do consentimento de duas almas dispostas a se tornarem mais complacentes e pacientes em prol do que sentem uma pela outra. Duas pessoas afins e dispostas a abdicar do egoísmo para construir uma relação sólida.
O amor de verdade não surge em torno de nenhuma “necessidade” (financeira ou emocional) a única necessidade que os verdadeiros amantes têm é pela terna presença do outro, é a de ver nos olhos do amado o reflexo de carinho e do amor que indica a correspondência de sentimento. E é por ser rara tal realidade que nas tramas televisivas ou fora delas, os casamentos estão indo à falência.
Na verdade, muitos já nasceram com um “déficit” que apontava à bancarrota futura, mas, por um motivo ou outro, os indivíduos preferiram ignorá-lo, talvez, como no caso das mulheres para “realizar um sonho”- O sonho de ter um “casamento de princesa”, olvidando, que o futuro de rainha não lhes é garantido pela pompa da cerimônia.
Eu sou aquela que tem fé no amor, não no casamento. Tenho fé que o amor ilumina a vida das pessoas, acalma, ensina a perdoar, a ser paciente, a ser indulgente, a ser compreensivo e é isso que uma união precisa ter para “dar certo”. Não é de um papel ou de uma festa de mais de quarenta mil reais - é de harmonia, muitas afinidades, maturidade e muito, muito amor e respeito.
De resto, eu fico com o Tom Jobim, compositor sempre homenageado pelo Manuel Carlos: “Vou te contar, os olhos já não podem ver coisas que só o coração pode entender. Fundamental é mesmo o amor é impossível ser feliz sozinho”. Quem duvida disso, provavelmente nunca amou, ou nunca encontrou alguém legal de verdade para gozar o amor em todos os seus aspectos. Ou, quiçá, deixou o coração de lado em prol do uso constante de preservativos em relações tão fugazes quanto um puxar de descarga de banheiro.
“É impossível ser feliz sozinho”, disse Antônio Carlos Jobim. É sim. Mas isso não implica em ser infeliz consigo mesmo, ninguém deve precisar do outro para ser alegre, para ser ele mesmo, pena de criar relacionamentos, como os citados, destinados à confusão e à ruptura. Há de se ser inteiro, confiante em si mesmo, para, assim, poder compartilhar emoções e momentos ao lado de quem se ama com muita maturidade e cumplicidade.
Nós somos inteiros, não somos metades procurando nossa outra parte. Todavia, ainda que sejamos completos a verdade é que o amor enaltece nossa alma, o amor faz de um dia nublado, alegre, quente e iluminado, simplesmente porque temos a companhia de quem nos faz bem. De quem nos faz muito bem, e sem tal presença a gente sente quão sem graça é a felicidade do solitário se comparada com a felicidade do casal de amantes em plena sintonia de corpo, pele, cheiro, alma e mente.
Vou “lhes” contar: É impossível viver sem amar, é impossível ser plenamente feliz sozinho, sem uma boa parceria, sem, até mesmo, os naturais embates entre pessoas de sexos opostos. Tudo ensina, faz crescer e fortalece a relação quando o amor esta presente. Eu conto que só quem ama sabe a graça e a doce plenitude que existe num simples olhar entre enamorados, num aconchegante abraço numa manha fria, e, como bem diria Cazuza, num belo saciar de sede com saliva. Aquela saliva abençoada pelo amor, pela química, pelo desejo de não ser apenas hoje o dia do prazer e do carinho, mas sempre, quanto mais, melhor.
Cláudia de Marchi
Marau, 04 de março de 2007.
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