Evasão
Confesso que as vezes eu sou covarde, confesso que tenho medo de magoar quem gosta de mim, confesso que ajo de forma infantil, nem sempre falo, nem sempre converso, prefiro me evadir da vida alheia a deixar o outro com palavras cortantes.
Essa covardia infantil me poupa sofrimento e me dá a ilusão de estar poupando o outro. Por que a gente precisa dizer o que sente mesmo quando isso vai magoar alguém? Por que não acreditar que o outro irá nos compreender, irá decifrar nossa evasão silenciosa?
Provavelmente, porque ele nunca compreende. As pessoas vêem o que querem ver, se elas “achassem” e presumissem menos, se tivessem uma visão realista do que acontece ao seu redor, não precisaríamos fugir de seu contato, ou, ainda que fugíssemos, elas entenderiam que não tivemos coragem para desabafar e frustrar suas expectativas.
Eu quero conseguir não ter pena de quem gosta de mim, quero, um dia, conseguir dizer para alguém que “não gosto” dele como ele de mim, que não vou amá-lo ou me apaixonar. De tudo o que quero e sei que preciso mudar, a habilidade de falar olhando nos olhos de alguém que não lhe quero por perto é essencial, é para ser adquirida “para ontem”.
Eu gostaria que as pessoas compreendessem minhas “meias palavras”, meu retraimento, meu silêncio, ainda que covarde, gostaria que aferissem minha “má vontade” em me envolver com elas, sem que eu precisasse ser taxativa e falar o que penso, mas isso não “funciona”, não acontece. Elas não entendem e se magoam com minha fuga. Lamento por mim, lamento por elas.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 20 de dezembro de 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.