Sobre o verdadeiro pecado!

Sobre o verdadeiro pecado!
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

terça-feira, 21 de junho de 2011

As sementes mal plantadas

As sementes mal plantadas

Lembro-me que, na minha adolescência, ouvia uma música do Cazuza chamada "Blues da Piedade" e que, em meus momentos de reflexão e revolta, conseguia nela adequar a forma de pensar e de agir do pai, da avó, de algumas tias e de amigas. Muitos, como minha sábia mãe jamais mereceriam ouvi-la em uma rádio brega no estilo "esta vai para você", no entanto, no decorrer destes mais de 12 anos aprendi que, infelizmente, muitos fazem jus à cafona dedicatória do "Blues".
Transcrevo trechos desta música que jamais esquecerei e que, lamentavelmente é suscitada em minha mente com freqüência posto as atitudes das "sementes mal plantadas" que existem no mundo e é, mais ou menos assim que a letra se inicia, num misto de doçura e rispidez: "Agora eu vou cantar pros miseráveis que vagam pelo mundo derrotados, pra essas sementes mal plantadas que já nascem com cara de abortadas, pras pessoas de alma bem pequena remoendo pequenos problemas querendo sempre aquilo que não têm, pra quem vê a luz mas não ilumina suas mini-certezas [...] Vamos pedir piedade Senhor, piedade pra essa gente careta e covarde, vamos pedir piedade Senhor, piedade lhes dê grandeza e um pouco de coragem" e lá pelos últimos estrofes dizia :"Quero cantar só para as pessoas fracas que tão no mundo e perderam a viagem...Vamos pedir piedade, Senhor...[...] Mais lamentável do que a pobreza, do que a miséria, do que a falta de estudo e cultura é a pobreza do espírito, é a pequenez da alma, é não ter a luz na mente para simplificar a vida e vê-la como ela realmente é: descomplicada, sendo que a vida feliz é como uma fruta doce que nos foi dada, mas que apenas cortando-a com a faca da coragem poderemos saborear seu sumo. É a coragem provinda da grandeza da alma que propicia o entendimento real de que não existe complicações na vida e nas situações cotidianas.
Quem complica a vida colocando empecilhos, fazendo de pequenas questões, de situações simples motivo de desespero e angústia somos nós, afinal o que é realmente difícil é a morte fora dela nada é um celeuma insolúvel e complicado, tudo depende de nossa ação e humildade de espírito. Muitos são, realmente, caretas e covardes que passam a vida (ou o que resta dela) remoendo pequenos problemas, não valorizando os bens que possuem: a saúde, a situação financeira regular, os amigos, os filhos, o namorado, o marido, enfim, imersos em suas pequenas questões esquecem-se de valorizar o que possuem e assim, serem felizes e contentes de forma que terminam por aniquilar com a tranqüilidade de quem lhes cerca.
As pessoas "sementes mal-plantadas" sabem que poderiam ser mais felizes se agissem de outra forma, enfim, como diria a música, eles vêem a luz, que, no entanto, não os faz mudar, não é suficiente para que superem suas "mini-certezas", suas convicções egoístas normalmente justificadas pela mais vil das alegações das almas pequenas: "Eu sou assim, ninguém pode ser perfeito”, ou, “nesta fase de minha vida não mudo mais". Ora, nunca é tarde para fazer com que a luz da sapiência incida tornando forte e corajosa a alma covarde e pequena de forma que evoluamos de acordo com o mundo mas continuemos firme em nossas convicções morais, afinal uma coisa não é incompatível com a outra.
Nunca é tarde para simplificar a vida, para "ganhar a viagem" feita ao mundo. Para passar a tirar o peso que é colocado onde não há, para parar de dificultar o que é simples e de superestimar o que é ínfimo. Nunca é tarde para fazer a dádiva da vida valer a pena, para excluir o que é inútil, os sentimentos negativos, os pseudoamores frustrados que existem na memória, as pequenas e injustificáveis implicâncias, a insegurança que gera o ciúme que só leva à infelicidade pessoal e alheia.
Muitos merecem a dedicatória do "Blues da Piedade", mas, se quiserem podem deixar de merecê-la. Basta querer mudar, evoluir, tendo a ciência de que nosso nascimento é como uma passagem que ganhamos para uma viagem que não sabemos quando termina, mas que, enquanto não finda temos a possibilidade de mudar o rumo, de ver novas paisagens e passar a admirar o que, durante muito tempo não tínhamos sensibilidade para assimilar.
Cabe a nós unicamente pedirmos piedade pela nossa ignorância, pela pequenez de nosso egoísmo, pela mesquinhez fruto de nosso orgulho tosco.Quem é humilde o suficiente para isso demonstra possuir um espírito livre, sabe que é um errante no mundo, mas que, se desejar crescer aprendendo com o que a vida ensina, e passando a vê-la além de "seus" pequenos problemas irá superar-se e supera-los, rompendo com os entraves que impõe à sua própria alegria e felicidade, afinal quem vive remoendo pequenas coisas, quem complica a vida demonstra pequenez de espírito e covardia de forma que, infelizmente, irá perder a viagem da vida.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 20 de abril de 2005.

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