A ilusão falsa e o realismo impiedoso.
Eu sinto saudades da minha infância. Não nasci em berço de ouro, mas meus pais fizeram o possível para “folhá-lo”. Criança alegre, sorridente, ansiosa, com mil idéias na cabeça e pouquíssimas possibilidades de realizá-las. Sinto falta, unicamente, da minha pequena família unida, do meu pai comprando cigarros para minha mãe e pantufas para o inverno, brincando de esconde-esconde comigo. Eu sinto falta do que via, dos simples detalhes, e às vezes careço de tais ilusões porque, na verdade, o mundo adulto, machuca, dói.
Então, meu caro, não seríamos nós, seres humanos, realmente complexos? Choramos e lastimamos perdas reais, de emprego, de relacionamentos, da morte do bichinho de estimação, do avô que já estava senil, dentre outras situações compreensíveis. Todavia, são as doces lembranças e pequenas ilusões, que nos cortam a alma, que sangram nosso coração e estraçalham com nosso ego,( nosso “falso eu”).
Você, minha cara adolescente, não chora porque teu namoradinho ficou com outra, você chora porque estava iludida e achava que o jovem que mal saiu das fraldas era um “bom partido”, porque filho de família abastada (logo, poderia casar com a senhorita) afora isso, apenas lhe fazia sorrir e tinha um abdômen sarado (atributo típico, na maioria das vezes, dos que nada fazem, dos preguiçosos e vaidosos).
As pessoas choram por vários motivos, mas por trás de suas lágrimas esta ela, a altiva, a elegante, cheia de jóias, perfume e beleza: a ilusão. Com sua estirpe e docilidade ela lhe ajuda a, com base em seus sentimentos e pensamentos irreais (ou seriam “devaneosos”?), erguer castelos, erigir o jovem maconheiro a categoria de príncipe, e menosprezar os pais devotos a categoria de serviçais.
A vida é feita para quem vive com os dois pés no chão e o olhar adiante, não para quem olha somente para dentro de si (corrijo: “dentro, não” fora, para seu umbigo), buscando esperança onde ela não pode ser encontrada, paz onde só existem turbulências, acreditando no implausível.
A “realidade”, salva tudo e a todos os homens lúcidos, apesar de não se vestir com roupas chiques e adornos, ela “é o que é”, ela tem poder mesmo em sua simplicidade, tem energias, não trai, não ilude, não engana, não esnoba. Somente o homem devoto e forte é capaz de aprimorar sua realidade, desde que não caia nas unhas postiças da ilusão e suas comparsas: a vaidade, a arrogância e o orgulho,
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 18 de junho de 2011.
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