Muita saudade!
Como é bom ter uma família unida. Como é boa a idéia de que nossos pais se amam, são felizes e, conosco, formam uma família feliz. Que saudades eu sinto desta idéia que me deixava tão contente e plena de boas esperanças!
Existem coisas nesta vida com as quais a gente se acostuma, mas não gosta. Coisas que a gente aceita por obrigação, não de bom grado. Coisas que nos fazem mal, mas que a gente junta forças para enfrentar.
Exemplo disso é passar anos pensando que sua família é unida, feliz e sólida e, de repente, ver tudo se modificar. Mas você já é adulto e sua família se dissolve, então você não deve sofrer, certo? Errado. Na prática, muito errado.
Talvez não “deva”, mas pode sofrer. E sofre. Talvez muito mais do que se, desde a infância você já estivesse acostumado com a “mamãe” de um lado e o “papai” de outro.
Época de páscoa e Natal, principalmente, me causam uma saudade enorme dos tempos em que eu, meu pai e minha mãe íamos colher marcela, época em que meu pai trazia chocolate para mim, minha mãe fazia cestinha, meu pai assava peixe na sexta-feira santa e churrasco no domingo
Como eu era feliz em tal época! Era feliz e sabia que era, só não previa que tais momentos jamais se repetiriam. Não previa que minha mãe iria dormir sozinha e frustrada para sempre, não previa que meu pai ia formar uma nova família e só iria me visitar a cada oito meses ou mais.
Era bom sentir aquele amor entre os familiares, era bom ver que meu pai, apesar do trabalho, se esforçava para estar presente na minha vida. Agora, felizmente, ele esta bem e com saúde. Mas longe, muito longe.
Nunca me viu chorar, não acompanhou minhas frustrações, minhas quedas, tampouco soube ver como eu consegui me reerguer. Eu sinto saudades do pai que eu tinha e da alegria da minha mãe quando ele chegava em casa. Sinto saudades da família feliz que eu, ao menos, achava que tinha.
Hoje nem sei se meu amado pai me conhece. Pela distancia que se criou entre nós, creio que eu seja uma estranha para ele. Uma estranha que ele não julga muito bem. Uma estranha que o ama, mas que, no fundo, ele desconhece os motivos pelos quais se lamenta, pelos quais chora, pelos quais cai, pelos quais batalha e, apesar dos pesares, se levanta e se mantém viva. Mas nem sempre feliz.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 27 de março de 2013.
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