ESSA É DO "FUNDO DO BAÚ", MAS O TEMA NÃO DEIXA DE SER "ATUAL". Infelizmente: ANO 2006.
Barriga Chapada
Sábado ao meio dia procuro uma revistinha de assuntos tolos na rodoviária de Porto Alegre para ler e me distrair na viagem de regresso à Passo Fundo. Semana cansativa, aula da especialização, não queria saber de literatura jurídica ou culta. Confesso que não tenho o hábito de ir a revisteiras, e me imergir no universo de Nova, Caras, Boa Forma, Marie Claire, Cláudia e companhia.
Surpreendente. As revistas continuam com as mesmas reportagens. As femininas em especial: dicas de sexo repetidas, dietas e mais dietas, "o que os homens pensam", como "conquistar um namorado em 7 dias" e, agora, um jargão pobre: barriga chapada. Em mais de quatro revistas havia reportagens sobre a tal “barriga chapada” como se malhar e definir o abdômen fosse levar as ladies à realização completa, a felicidade constante.
Barriga chapada. Esta palavra não me sai da cabeça. Não me preocupo com a minha porque sei que além de barriga definida, coxa sarada e peito firme uma mulher deve ter muito mais a oferecer (mas "muito" mesmo!). Todavia na época em que a bulimia, a anorexia e outros distúrbios vêm se tornando comuns creio que a futilidade seja o mal do momento.
O mal do novo século, aquele mal latente que leva ao descontentamento pessoal e físico, que finda relacionamentos, que torna as pessoas cada vez mais tolas e o mundo um local onde sobram mulheres em números e falta em qualidade, onde existem muitos homens- muitos mal amados, muitos infelizes, solitários que fingem alegria com mais de 20 cervejas forçando o seu pobre fígado. Um mundo onde pessoas passam fome e outras comem e provocam o vômito.
Outrora se dizia que a depressão era o mal do século. Não, não é. Acho, na verdade, que nunca foi.
O mal do século, o mal da vida e do mundo é a futilidade, a banalização de corpos, a vulgarização do sexo e das relações afetivas, estas três nitidamente ligadas à superficialidade - irmã gêmea da futilidade. E relações superficiais, vidas banais, crenças frívolas levam à solidão e a tristeza depressiva.
Tempos modernos, tempos de crise. Crise de valores, crise de atitudes, crise de pensamento.
Quem tem dinheiro, um carrinho legal, um bom estilo de vida acha que pode tudo, quem tem uma barriga sarada e cabelo comprido acha que não precisa ter mais nada por baixo. O segredo da felicidade?A "arma" da conquista?O "sonho de consumo"?Uma barriga definida!
Dane-se o cérebro, a inteligência, a educação, a forma de bem tratar, o saber ser amigo, ser fiel, ser parceiro. Viva às coxas, as bundas, e, logicamente, as barrigas chapadas.
Tenho certeza que eu preciso me "chapar" de algo que nunca provei para agüentar esta futilidade imbecil, ou melhor, como fico bêbada fácil, o melhor é tomar umas tacinhas de champagne e não ver mais nada, não tentar entender pelo menos.
Às vezes, realmente dá vontade de ser cego e surdo.
Mudo não, para poder gritar para que parem de gesticular e mostrar suas barrigas, costas, e coxas "chapadas", e deixar claro que coisas perecíveis e superficiais não me interessam. E a revista, será que eu comprei? Sim, a revista homônima à autora deste mês esta excelente. E não fala de barriga chapada. Ufa! Uma revista para quem quer distração sem se entorpecer de frivolidade.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 27 de novembro de 2006.
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