Carta aberta à minha futura paixão.
Os homens que costumam apresentar-se a mim, por
simpatizarem comigo esteticamente, costumam dizer que eu só “posso” estar solteira
por ser demasiado exigente. Como se beleza fosse suficiente para cativar corações
e como se exigência pudesse ser medida por ausência ou não de parceiro afetivo.
Ou será que pode?
Primeiramente, existe dentro de mim algo muito,
muito mais cativante que um corpo, lábios carnudos ou olhar “penetrante”, (olhar
de Capitu, para os que gostam de “galantear” usando literatura brasileira). Eu tenho
uma alma e uma mente muito mais interessante que minha aparência e um coração muito
mais pulsante que meus constantes sorrisos.
O problema disso? É alguém chegar até eles. Até a
alma, ao coração e, claro, a mente! Não gosto de dizer que minha exigência é
demasiada, porque não é. Também não gosto de dizer que eu sou complicada. Eu sou
complexa, imprevisível talvez, mas não complicada.
Eu acho que o mundo, na verdade, está muito
superficial, muito raso, muito “aparência” e pouco essência, muito sexo e pouco
afeto e eu sou intensa, sou profunda e sou perfeccionista em absolutamente tudo
o que faço. Eu não gosto de ser “mais” uma no mundo ou “mais” uma para alguém. Eu
gosto de ser a “Cláudia”, aquela que não é perfeita, mas que, no mínimo, marca.
O que a superficialidade mundana tem a ver com a
minha aversão à caracterização de excesso de “exigência” a justificar minha
solteirice? É que eu vejo as pessoas se contentarem com pouco, se contentarem
com o parceiro razoável, com o namorado que não agrada, com o “sexo” eventual,
com o trabalho mal e parcamente vivenciado.
As minhas exigências não são muitas e, agora, passo
a falar diretamente a você, minha futura paixão. Primeiro, convém saber que eu
nunca vivenciei uma fase tão seletiva quanto a presente, logo, se você estiver
lendo este texto tenha certeza de que eu lhe escolhi e, claro, por um lapso do
universo, também fui escolhida, afinal, eu nunca cultivei nenhum sentimento platônico.
Consequentemente, nos admiramos mutuamente, tenho certeza.
Acho que você pode, sem julgar-me arrogante por
dizer-lhe isso, se considerar uma pessoa especial e interessante por ter
ultrapassado a barreira da minha seletividade que vai do cérebro à cama, das
mãos à segurança e confiabilidade. Eu não sou nenhuma perola negra e nem
pretendo ser.
Sou só perfeccionista, daquele tipo que pretende
ser a melhor no que faz o que inclui em ser-lhe a melhor namorada, a melhor
companheira e a melhor esposa. O meu maior defeito talvez seja este, o perfeccionismo,
mas, fazer o que? Afinal, de defeito isto passou a ser um vicio: enquanto eu puder,
eu tentarei ser e fazer tudo com perfeição, isso me alimenta o ego, me faz bem,
me faz pulsar e, principalmente, me faz feliz. “Isso”, portanto sou eu!
Você, minha futura paixão deve ser um homem seguro
de si, decidido, que trabalha com o que lhe faz bem, que faz o que gosta, que
pega firme nas minhas mãos, que me faz rir, suar e me soltar, que me faz pensar
e refletir, que tem uma personalidade meio “enigmática”. Você é serio, tem uma aparência
de pessoa responsável, dá para ver em seus olhos a sua seriedade. Você não é
obvio, você tem um “que” de impenetrável que se revela aos poucos e se você
assim o quiser.
Você não é uma pessoa que fala demais, aposto que
nunca me disse o que não sentiu e nem “arrotou” seus talentos e “superações” em
nossos encontros iniciais. Você, definitivamente não se gaba! E isso, confesso,
chega a ser tão atraente para mim que me excita!
Ademais, posso apostar que não me mandou mensagens “melosas”
para conquistar meu apreço, que nunca quis enaltecer meu ego para ter o melhor
de mim, porque, com certeza, você sabe que eu não preciso de massagens no ego,
de elogios a minha aparência. Você sabe que é a sua sinceridade quase ácida que
me cativa, assim como seu silencio sedutor que me estremece e que, mal sabe
você, mas me disse muito do que eu queria saber a seu respeito.
Você não fala o que não sente, aliás, você,
provavelmente, fica assustado com minha facilidade com as palavras! Com essa
minha intensidade quase insana que fala o que pensa e que fala o que sente como
se fosse imune a decepções, não é?! Você não é igual a mim e é por isso que eu
confio em você.
Agora você já deve saber que eu sou confiável, mas
já deve ter percebido que, apesar do meu feminismo arraigado, eu não acho que
homens e mulheres sejam idênticos, afinal a criação machista não nos “construiu”,
infelizmente, de forma igual! Logo, em se tratando de homens, para mim, confiável
é o que fala pouco, faz e sente muito.
Homens demasiado galantes, homens que falam que
amam rapidamente, homens que lambem minha alma de forma insana e imediata me
despertam desconfiança, quiçá pavor, quiçá desprezo! Conquistar-me o corpo não é
tão difícil quanto cativar-me a alma e isso, ah isso, você deve ter certeza que
conquistou se, ao chegar aqui, ao termino deste texto, enfim, você se
identificou com as palavras nele escritas. Portanto, faça-me um favor: dê-me um
beijo e largue o computador!
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 04 de julho de 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.