A clínica.
Se eu acho que casamento tem que durar para sempre?
Obviamente que não. O para sempre é o tempo existente entre o ser feliz e o
deixar de ser. Se a companhia do outro não lhe faz mais bem o seu “para sempre”
acabou. Se, no entanto, durar até o final da vida, você foi abençoado!
Agradeça! Todavia, cuidar de um casamento dá trabalho, requer dedicação
constante, afeto e criatividade.
Acontece que terminar casamento, assim como começar
um, carece de motivos nobres. Quem casa por interesse está fadado à
infelicidade, assim como quem separa, unicamente, porque quer “zoação”, porque
quer encontrar alguém muito melhor que o ex.
Sei lá, depois que um casamento termina a gente
sofre, mesmo que a separação tenha sido ideia nossa. Primeiramente, você sai de
uma zona de conforto que, de regra e na maioria das vezes, era boa. Ninguém casa
se não ama, certo?! Nem permanece junto por anos se não curte a companhia do
outro.
Acontece que o amor às vezes muda de roupa, muda de
cara e a gente não consegue levar adiante na crença de que merece algo mais
agitado, mais quente. Não raras vezes a situação amorna, porque nós permitimos,
mas como o ser humano gosta de passar a bola adiante, nos imergimos em revolta
e ficamos de olho em “volta”.
São muitas opções! Muitos homens bonitos,
charmosos, maduros, disponíveis. Ou muitas mulheres belas, elegantes e alegres
por aí. Só que não, meu amigo. Só que não, minha amiga! Ser lindo, culto e
inteligente é uma coisa, ser boa companhia é outra, muito diferente.
Então você entabula uma relação, posteriormente a
sua separação. Não raras vezes é decepção na certa! Seu inconsciente está muito
cheio do resto daquele que você dispensou. E dispensou na crença de que “nunca
mais” ia deseja-lo de novo. Mas, ora, ora, veja só: acaba desejando.
Talvez, por motivos íntimos, você não se renda a
essa excêntrica sensação. Essa saudade inoportuna. Se você teve motivos idôneos
para se separar, você não irá voltar atrás, se não teve, porém, você volta! Ah,
com certeza volta!
Ao conhecer outra pessoa você descobre que ela
também tem defeitos! Que ela não é aquele suprassumo de maravilhas que você desejava
para si. Na real, a gente se separa e sai para o mundo com altas, com altíssimas
expectativas. E conquista. Conquista uma enorme frustração!
São várias razões que irão lhe remeter ao ex. São
os papos, são os carinhos, é o sexo (que no começo da relação nova costuma ser
muito “mais ou menos”), é a comida, os assuntos, o trabalho, os defeitos,
enfim! Em primeiro lugar, quando você está casado, há anos dormindo com uma
pessoa, você já está em tal grau de intimidade que nem repara mais nas falhas. A
mesma rotina que amorna o sexo, aumenta a indulgência, a cumplicidade, então,
até o que outrora poderia nos irritar, deixa de fazê-lo até o fim de um
casamento.
Em segundo lugar, quando você se separa e conhece
alguém está super, hiper, mega critico! Analisa até a forma com que o outro
respira, a forma com que dorme! Um suspiro pode ser o suficiente para
estranhar! “Meu ex não expirava assim, aff!”. E, acredite, isso acontece. O sexo
pode ser bom, mas leva tempo para andar no prumo e virar excelente. Intimidade de
verdade não se conquista em meses, não quando você foi casado e esteve anos ao
lado de alguém.
Lembro-me que quando eu queria me separar meu
ex-marido dizia para tentarmos, que era “melhor lutar do que enfrentar a solidão
e começar tudo de novo com alguém” já que, segundo ele, não faltava amor. Eu achava
isso um absurdo, algo totalmente “no sense”. E continuei achando, por certo tempo.
Até começar um namoro. Daí eu dei razão para o
cidadão! É dose, é brabo. A paixão que a gente sente por alguém após um divórcio,
nem sempre é capaz de nos afastar de velhos hábitos, daquilo com o qual nos
acostumamos. Então, não raramente, a gente se arrepende. Sim, se arrepende!
Depende, no entanto, da nobreza de nossos reais
motivos para a separação, concluirmos se devemos voltar atrás em nossa decisão
ou não. Se tivermos razões idôneas para nos separarmos, mesmo sofrendo, mesmo
em meio a um turbilhão de emoções confusas, a gente não volta.
Mas, se nos separamos para encontrar alguém mais
quente, para encontrar alguém melhor ou unicamente para aproveitarmos a nossa
vida, com certeza a volta será um anseio, porque você cansa de sair à noite, de
viajar sozinha, de sair beber sem uma companhia e logo a empolgação vira um
tédio. Você se entedia por não ter alguém para assar carne para você, para usar
a banheira com você e para cortar o seu pedaço de carne preferido no churrasco
de domingo.
Leva-se tempo para nos acostumarmos com o nosso
novo estado civil. Eu sempre consegui ter certa inveja daquele povo que se
separa e já está apaixonado por outro! Não que eu ache certo ser infiel, mas
essa gente não sofre tanto. Simplesmente, sai de um casamento e meio que emenda
com outro.
Por incrível que pareça, mas os infiéis e
apaixonados sofrem menos. Já os que pretendem ter relacionamentos após findar
um casamento, de regra e imersos no hábito que tinham com a outra pessoa,
quebram a cara num primeiro momento.
Logo que me divorciei um amigo me apresentava às
pessoas dizendo que eu havia “saído da clinica”. Outro ele dizia que havia saído
do presidio. E, comparação esdruxula a parte, mas a sensação de estranhamento do
mundo que costumamos ter após um divórcio é semelhante a que tem quem fica anos
internado numa clinica psiquiátrica ou preso.
Não que o casamento seja uma prisão, mas ele nos
leva um pouco para longe do que está ausente dele. A forma com que as pessoas
se portam, a forma com que elas vivem, o que fazem de seus dias, o que desejam
da vida. Num casamento estamos numa casa com alguém, dormindo, namorando e
vivenciando tudo por anos! Elementar estranhar quando nos separamos. A questão
é se pediremos internação novamente ou se seguiremos nos acostumando com a
vida. Uma vida muito mais louca do que a da “clinica” da qual saímos.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 02 de setembro de 2014.
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