Só as mães.
Eu fui criada em meio a adultos. Não à toa nunca me
relacionei com homens da minha faixa etária, quando eu era nova e estava na
faculdade. Aqueles papinhos de carro, pai rico, festinha e taradices não me
apeteciam. Pois é, fui criada ouvindo rock dos anos 80, dentre os quais, o
Barão Vermelho e o Cazuza.
Este, uma figura ímpar, complicada, desregrada,
mas, verdade seja dita, inteligente e sensível. Sabem o que ele quis dizer com “só
as mães são felizes”? Os filhos, equivocados, creem que a mãe nunca se deprime,
a mãe nunca tem vontade de encher a cara ou cortar os pulsos, a mãe não tem
como ser triste, as mães estão um passo adiante no quesito tranquilidade e paz
de espirito.
Quem não “santifica” a mãe? A maioria, certo?!
Então, foi isso que o poeta maluquinho quis dizer. Eu desconheço tudo a
respeito da maternidade, mas eu sei que as coisas não são perfeitas. Nada é
perfeito.
Todavia, a apologia à maternidade, me parece uma
hipocrisia sem tamanho. Já escrevi sobre isso, mas o faço novamente: filhos são
bênçãos, mas ninguém é obrigado a querê-los como se fossem a bolsa da moda. Apologia ao trabalho, à independência financeira,
à independência emocional, poucos fazem. Mas dizer que a maternidade é
necessária, é comum.
Outro dia me falaram que a gente só trabalha pelos
filhos que tem. Ah, sério? Dá muito bem para usar o cartão de crédito, fazer
contas e adotar um gato. Se for só por isso que a gente se mata trabalhando,
está resolvido. Bolsas, sapatos, roupas, viagens, carros, tudo isso custa caro!
Invista neles e pague!
Então você deve
estar pensando que eu não gosto de crianças e nem tenho sensibilidade, certo?
Acontece que eu adoro e sim, sou muito sensível. Justamente por isso acho a pílula
anticoncepcional a melhor invenção do mundo! Filhos precisam de amor, de uma
família estabilizada, de um pai que seja admirado pela mãe e vice e versa,
filhos precisam de um lar harmônico, onde o pai goste de voltar para casa, onde
a mãe faça questão de estar.
Filhos carecem de pais felizes! Então, se eu nunca
encontrei o pai que eu gostaria de dar aos meus filhos, nem, tampouco, tive uma
relação maravilhosa, por que ter filho? Para evitar a separação? Ora, essa.
Filhos não são coisas ou objetos que você possa usar. Filhos você tem que ter,
porque o casamento esta excelente, não porque está ruim. Ademais, nunca
precisei manter meus relacionamentos de forma alguma, vez que eu debandei
deles.
Fato é que existe felicidade fora da maternidade,
mais, existe a liberdade de não amar ninguém mais do que a si mesmo. A Lucinha
Araújo está completa de razão: mãe só é feliz se o filho é. A minha mãe se
arrasa frente as minhas dores e decepções. Ela não merece passar por isso, mas
passa, é mãe! Logo, essa apregoada perfeição da maternidade não me convence, não
me cativa.
Ser mãe é uma dádiva, mas não “padecer no paraíso”
também é. Não ter que perder o sono, porque a filha está triste e frustrada,
com certeza é uma dádiva também. Se alegrar com sua alegria também é, claro. Enfim,
nem sempre as mães são “só” felizes. Nem sempre ninguém é “só” algo, a gente “está”,
e não “é”. Respeitar, porém as opções alheias é essencial!
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 03 de setembro de 2014.
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