Ferida.
Dos vários episódios do seriado House, um que me
tocou fundo foi o que a Cudy pergunta para o House como ele se sente, e ele
responde: “Como eu me sinto? Eu me sinto ferido.”
O ferimento no coração rasga a alma da gente.
Cortar-se dói, mas ser ferido emocionalmente dói mais ainda. A alma rasga,
perde a paz, o sossego, entristece. Amar e se decepcionar é o pior que pode
acontecer com um ser humano sensível. O pior no que tange a relacionamentos,
claro.
Pior pode ser a morte, a amputação de um membro,
uma doença grave, a perda de alguém que amamos. Mas a verdade é que a decepção
amorosa queima, arde, como se algo dentro de nós morresse aos poucos ou nos
fosse tirado sem anestesia.
E, de tudo, o pior é estar numa vibração alta e, do
nada, ser derrubado. Enfim, estar vivendo intensamente a relação e, de repente,
virar tudo ao avesso. De repente é tudo romance, afeto, juras de sentimentos
profundos, paixão ensandecedora, de repente são planos, sorrisos dados em
silencio, e, de uma hora para outra é desprezo, rompimento, ausência da
companhia que tanto nos fazia bem. De repente a paixão dorme e não mais acorda.
E você fica sem chão e sem fé. É um misto de
revolta com dor, uma angústia que parece que vai nos matar. Mas não mata,
Benzadeus! Só tortura, só judia, só arrasa, só faz sofrer. E esse “só” é usado
sarcasticamente, porque, diante da tortura a morte não parece má ideia.
Dizem que a gente não pode se permitir entristecer
por nada, nem por ninguém. Todavia, para isso ocorrer a gente precisa, como
diria o House noutro dos episódios, se trancar num calabouço e engolir a chave.
As pessoas vão nos desapontar, as pessoas irão nos ferir, nos magoar, desde
que, é claro, nos arrisquemos a nos relacionar com elas. Mais, desde que
assumamos o risco ao nos envolver e gostar delas!
Sei lá, eu estou achando a ideia do calabouço
excelente. A dor de uma desilusão afetiva não mata, mas nos dá sensação de
morte e, o que é pior, nos tira a capacidade de confiar no outro e isso é uma
segunda etapa da tal sensação. Sem confiar a gente perde a vontade de começar
de novo, de seguir adiante, de conhecer outras pessoas, de se apaixonar
novamente. A gente perde a fé no ser humano.
Uma decepção forte é tudo o que precisamos para
desistir do amor. Para desistir de buscar um novo amor. Eu não desejo desilusão
amorosa para ninguém, não odeio ninguém a tal ponto, nem mesmo para quem dizia
que me adorava e não agiu como quem adorasse.
Existem outras formas de sofrer, a justiça divina
se realiza de outra forma e eu não desejo mal a quem não soube me amar. Aliás,
eu não desejo nada para essas pessoas, se tiverem consciência ela os fará
sofrer, se não tiverem, nada nem ninguém os fará passar pelo que passei.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 1º de setembro de 2014.
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