Teleguiados.
Eu estou cansada da hipocrisia desse mundo que faz
de um fato uma guerra e acaba, por consequência, terminando com a dignidade de
uma pessoa. A guria que chamou o tal de “Aranha” de macaco, por exemplo.
Sinceramente, eu cansei de ouvir coisas piores de torcedores na hora da raiva,
aposto que a menina falou empolgada.
Claro que isso é errado, mas volto a dizer: ela não
foi a única, só que está pagando porque foi filmada. Logo, caindo uma história
nos olhos da mídia, está feita a “condenação” popular.
O povo é teleguiado, literalmente, tanto que, nesta
hora, todos se esquecem das piadas racistas que contam, daquela tradicional
imbecilidade do “não faz na entrada, faz na saída”, e todas essas historinhas
racistas que, como gaúcha, conheço bem.
Se eu concordo? Não, obviamente, mas discordo muito
mais dessa hipocrisia reinante, partindo, inclusive da RBS/TV (filiada da Rede
Globo no Rio Grande do Sul). A mídia destruiu com a vida dessa moça e fez do
tal “Aranha” o mártir da semana, a vítima, o “coitado” que, diga-se, é tão
orgulhoso que se negou a receber as desculpas da garota pessoalmente.
Será que o povo poderia recobrar o senso critico? A
capacidade de pensar por si mesmo e não pelo que a mídia impõe? Se aquela
criatura abobada quiser ter uma vida razoavelmente digna ela se muda do Estado,
do País, e, ainda assim, o nome dela estará no Google, envolvida num caso emblemático
no esporte brasileiro. Se essa criatura não entrar em depressão agora, não entra
nunca mais!
A mídia condena, meu povo, ela acaba com a
dignidade de um ser humano, elege os maus, condena os bons e faz o que bem
entender, tudo, obviamente, porque a nossa sociedade não reflete. A guria não presta
né?! Sim, mas então pense no teu pai, na tua mãe, nos teus parentes, namorados
e amigos que já fizeram alguma descriminação racial em mesa de bar ou num
churrasco. Pensou? Pois, então eles não “prestam”!
Agora ninguém é racista, agora ninguém nunca chamou
afrodescendente de negro, nunca olhou torto para pessoas de outra raça, nunca
chamou a mulher afrodescendente de “preta”, agora todo o País é correto,
perfeito e desprovido de racismo. Ora, essa! Não engulo isso.
Minha saudosa avó paterna perguntava se os netos
eram racistas e, ao ouvir o nosso não, perguntava se casaríamos com um afrodescendente.
A maioria dizia que não, não fazia o nosso tipo. Eu sempre gostei de homens
brancos, sou bronzeada e gosto do meu oposto, todavia, se eu me apaixonasse
casaria com a pessoa que tivesse qualquer cor. A beleza não está na cor da
pele. Todavia, se você, de fato não casaria com um negro, você é racista!
Vivemos num País com cotas raciais. Temos um histórico
de racismo e querer se rebelar contra isso agora, afetando essa infeliz
bobinha, é cruel, é trágico, é triste. Que saibamos que o que ela fez foi
errado, mas que não nos esqueçamos de que, às vezes, pessoas que amamos ou são próximas
a nós fazem a mesma coisa. Poderíamos entrar em guerra contra a descriminação,
sem, no entanto, achar que, por isso somos santos e essa moça é o demônio. Porque
não, ela não é, mas está sendo demonizada.
Eu sempre disse que, não raras vezes, o que afasta
o ruim do bom é a sorte, enfim, se ninguém tivesse visto ou filmado a suposta injuria
racial, essa mulher continuaria a vida, como todas as pessoas que eu já vi
fazerem o mesmo, todavia, ela foi vista e é aí que está a desgraça da sua vida.
A mídia quer, a mídia condena e o povo bate palmas. Eita, Brasil véio! Eita
povinho medíocre, que se acha perfeito quando o assunto é julgar aos outros!
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 06 de setembro de 2014.
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