A difícil arte de ouvir: o ser humano e a ausência de empatia.
A pior parte de passar por maus bocados
quando se é maduro e não imaturo ou iludido, é que você vê como as pessoas
curtem a pratica do refrão daquela música da tal da Luka: "Tô nem
aí"! A maioria não quer saber das suas agruras, pois estão focados nas
próprias celeumas e o problema delas é sempre pior e maior que os seus. O fardo
delas é o único "insuportável". Outros, por sua vez, mais pérfidos,
infelizes e medíocres, se sentem bem ao ver que você não está legal: a sua
"maleza" será um remédio para a baixa estima e crueldade de alguns
seres de alma pequena, muito pequena, basicamente, rastejante.
Ser adulto é aprender a viver com
companhias nos momentos de alegria e a sós consigo mesmo nas dificuldades,
porque, dificilmente haverá alguém que se importe, que lhe ouça sem,
necessariamente, lhe dar sugestões vãs, criticar ou julgar. E, assim, você se
torna perito em solidão, porque, na real, o ser humano ainda não sabe nada de
empatia.
Logo, para se curar, você paga alguém
para lhe ouvir, um psicólogo, por exemplo, ou você faz catarse por outros
meios, afinal, enquanto você é só prazer, gargalhadas e alegrias, existirão
muitos companheiros, mas quando você for pesar, frustração e desânimo a única
pessoa capaz de lhe tirar do buraco é você mesmo: pé por pé, minuto por minuto,
dia por dia. E em silêncio, porque você sabe que, no fundo (e, às vezes até no
raso), ninguém quer lhe ouvir.
Certa vez assisti a uma reportagem em
que acompanhantes muitíssimo bem sucedidas em seu trabalho em grandes capitais
contavam os fetiches de seus clientes, a sua rotina, a sua história e tal. De tudo,
o que mais me chamou a atenção foi que muitas delas frisaram o quão importante
é o ouvir, o quanto os seus clientes gostam de serem ouvidos.
E assim é a vida: orgasmos, sacanagem,
despudor, perversão e prazer são ótimos, mas são do corpo, não da alma. Ter um
bom ouvinte, ter alguém que demonstre e que, de fato, se interesse pelas suas
agruras, pelas suas histórias, dores e alegrias é do coração. E, confesso, é
bastante assustador vivermos num mundo em que prostitutas e até garçons ouvem-nos
melhor do que esposas, amigos, pais, filhos, colegas.
E o que significa “ouvir bem”? Ora! É ouvir
com o coração, é ter uma curiosidade bondosa, saudável sobre o que se ouve e não
aquela pseudo-ira que deseja dar soluções, opinar a qualquer custo para que o interlocutor
se cale e para que o ouvinte possa voltar aos seus afazeres e a remoer os seus
problemas, afinal, eles são muito mais “sérios” e “importantes” do que os do
parceiro, amigo, pai, irmão, filho que lhes desabafa.
A realidade é incontestável: são raras
as pessoas que tocam a alma do outro sem muito dizer. São raras as pessoas que estão
ao nosso lado quando, por algum motivo, nós estamos passando por qualquer espécie
de dificuldade. Uma de minhas queridíssimas tias sempre me falava que os
gatinhos se escondiam quando pressentiam que iam morrer. Hoje eu sei que a
gente precisa se afastar dos “amigos” para sofrer, porque a nossa dor lhes é
inconveniente. Mais, hoje eu sei que a gente tem parceiros, dificilmente
amigos.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 15 de março de
2016.
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