Minhas conjeturas de uma manha nublada
de sábado em Sorriso.
Eis que na nublada manhã de sábado de ontem me peguei usando/estudando o
novo Código de Processo Civil para confeccionar duas ações: uma execução de
contrato e outra declaratória de inexistência de débito tendo como defesa do
próprio autor a exceção do contrato não cumprido. Enfim, meu cliente não
cumpriu com o pacto, porque o réu não fez sua parte de acordo com o avençado.
Entre trabalho, música, afagos nos gatos eu pensava sobre minha situação
econômica, inadimplência de algumas clientes, conta bancária, demissão injustificada e inesperada em
pleno começo do semestre, (ou melhor, justificada, segundo os inúmeros alunos
que chegam até mim, por eles terem excesso de simpatia para comigo), e, sei bem
sei, o meu modo de ser não é (e espero que nunca seja!) suficientemente arrogante
intelectualmente para ser uma professora no curso de Direito da UNIC de
Sorriso, sobretudo com sua atual direção.
Também pensava nos meus
relacionamentos amorosos, na sazonalidade da advocacia, na falta do meu salário
de professora, no machismo do interior quanto à mulheres advogadas, no meu
saldo bancário, nas injustiças do povo "cristão" que reza e vira a
cara para o pedinte afrodescendente na rua, nas cantadas toscas que ouço de
homem comprometido que vai à missa no domingo com a família e olha para o
traseiro de qualquer uma que passa.
Pensava na minha dívida para com a
Receita Federal, no quanto gasto com atualização, livros, periódicos, no quanto
estudo, leio e me responsabilizo por problemas alheios homéricos e, dentre
tantos pensamentos conclui que se eu tivesse virado puta, teria ganhado mais
grana, teria tomado no "%#^*" de forma mais prazerosa e, quem sabe,
convivido menos com seus filhos, sempre tão arrogantes, egocêntricos e
medíocres!
Sim, eu falei sério e foi uma conclusão
séria! Fato é que nos últimos dias eu tenho me sentido triste, não deprimida,
apenas decepcionada, psicologicamente cansada da raça humana. Aprendi, no
entanto, que em momentos assim você não deve querer se “curar”. Você não está
deprimido clinicamente, você só está triste.
A sua saúde está boa, você é que não
está bem. Permita-se a solidão, a companhia de poucos e bons, permita-se
formular estratégias de mudança, permita-se o sono, aceite até a insônia, a
falta de apetite, o excesso de fome, permita-se mudar, permita-se chorar e não
conviva com quem requer que você use máscaras.
Fuja de gente que irá se contentar com
seu desânimo, porque além de ser permanentemente infeliz,
é maldosa e tosca. Você é feliz, você só está triste, compreende? É um momento,
uma fase, uma má ocasião! Fases ruins passam, mas passá-las e enfrenta-las com
dignidade e brio, só depende de você!
Ah, e não se esqueça: são nos momentos de tristeza que
conseguimos, em nós mesmos, o impulso necessário para revolucionarmos a nossa
vida, são nos momentos de tristeza que descobrimos quão fortes e quão nobres
somos: fortes por, através da paciência, conseguirmos superar a dor, nobres por
não termos sido nós, o espírito de porco que cometeu uma injustiça frente a alguém.
E, entre tudo, ainda penso que a prostituição é uma opção! (Risos...).
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