Sobre o verdadeiro pecado!

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"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Das garrafas descartáveis às relações humanas



Das garrafas descartáveis às relações humanas

Estava me recordando das garrafinhas de vidro de refrigerante que eu segurava com todo cuidado quando criança para não quebrar porque elas tinham valor pecuniário. Não era só o liquido gostoso que a gente usufruía, nós precisávamos cuidar do material sólido e caro: a embalagem. Com o passar do tempo inventaram as embalagens de plástico - basta tomar e arremessar no primeiro lixo que encontramos. Não corremos o risco de quebrá-las, e nem precisamos guardá-las. Assim como os vidros dos refrigerantes foram substituídos por embalagens descartáveis, os relacionamentos duradouros e com uma seqüência lógica e saudável foram substituídos por relações fulminantes, desorganizadas e frágeis.
As pessoas tornaram-se descartáveis. A falta de auto-estima e a carência transformaram os relacionamentos humanos que, certa vez eram sólidos como o vidro em algo leve e insignificante como o plástico. Nós aproveitamos o melhor de uma relação e depois terminamos, pois no fundo não temos paciência para vivermos os bons e maus momentos com alguém, assim quando começamos a conhecer melhor outro e seus defeitos findamos a relação, que, inclusive, pode ser considerada "evoluída" se chegar a tal ponto afinal, na maioria das vezes são tão baratas que começam e terminam em camas desconhecidas numa única noite, como a garrafinha de refrigerante jogada ao lixo após bebermos.
Se em relação às embalagens de refrigerante a invenção das de plástico demonstrou "evolução", o aumento de relações frívolas demonstra uma regressão do ser humano que se julga “racional”, mas parece incapaz de refletir. Afinal, se o ser humano cria relações descartáveis, desde relacionamentos sexuais fugazes até casamentos relâmpagos torna-se, de igual forma, descartável, e, admita ou não, o que é descartável não merece ser valorizado.
As amizades não são mais reais, nós não possuímos amigos verdadeiros, posto que nem mesmo nós somos amigos de nós mesmos, vez que, para que exista amizade e amor é preciso auto-estima e a nossa anda muito "em baixa". Enfim, existem "pseudo-amizades": mantemos um círculo de pessoas que desejam apenas divertirem-se em nossa companhia, e quando temos problemas despistam, pois não desejam "nem saber". Fecham-se para nossos problemas e fecham os deles para nós. Não querem comprometer-se, mas apenas ficar na superficialidade de conversas inúteis e reuniões e jantares fartos de comida e pobres de sinceridade e envolvimento. São amizades "descartáveis" e, diante de companhias mais "agradáveis" (fúteis?), um dispensa o outro e termina a "diversão".
Para que uma relação não se torne substituível, enfim, descartável, é preciso que nos valorizemos a ponto de não desejarmos despender nossas boas energias com algo que constatamos ser vão. É preciso que, nos estimando, passemos a respeitar o que é valoroso e não fútil, o que pode ser duradouro e sério e não perene e vazio. Porém, graças ao nosso pouco amor próprio nos imergimos em um jogo de futilidades, aumentando a quantidade de relacionamentos que entabulamos, sem notarmos que somos tão vazios como eles. Não temos coragem para nos auto conhecer e para nos deixarmos conhecer de forma que, aceitando-nos, passaremos a aceitar o outro se algum (bom) sentimento ele nos despertar.
Infelizmente agimos como se tivéssemos pressa de viver e nos esquecemos do brocardo: "A pressa é a inimiga da perfeição". Tornamos-nos descartáveis, porque frágeis e com pouco valor como o plástico das embalagens de refrigerante. Queremos o sabor doce, mas não a responsabilidade de zelar pela relação que adoça nossa vida, logo a culpa pelos resultados infelizes advindos disso é toda nossa.
Cláudia de Marchi

Passo fundo, 13 de junho de 2005.

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