Sobre o verdadeiro pecado!

Sobre o verdadeiro pecado!
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

sábado, 1 de outubro de 2011

Pacto

Pacto


Eu já fui muito disciplinada com os cuidados com minha saúde, em especial com meu corpo. Fazia musculação todos os dias, caminhava religiosamente aos domingos e, quando ansiosa, pedalava numa ergométrica que sempre tive em casa, mas a vida foi passando, e outras batalhas passaram a ocupar meus dias, trabalho, mudança de rotina, e restou a ergométrica e uma plataforma vibratória de última geração.
Sempre que possível, mais de 3 dias por semana, ao menos, eu as utilizava, até descobrir que a discopatia degenerativa que tenho há anos praticamente terminou por “secar” quase meus discos intravertebrais, logo, antes que uma vértebra encoste na outra, o melhor foi trocar a vaidade pela fisioterapia e um certo remédio caríssimo para dor crônica. São os ônus da genética tacanha e da vaidade demasiada.
Hoje em dia, no entanto, eu fiz um pacto com a verdade, com a sinceridade na minha vida, porque, sem elas, a existência humana não tem valor algum. Uma pessoa mentirosa não vale o que defeca, com o perdão de minha peculiar franqueza. Então o meu pacto é simples: eu não minto por mim e não mentirei por ninguém, pode alguém se ferir, podem me magoar, posso perder clientes, mas eu não minto.
A mentira além de abjeta é cara e exigente: requer uma série de outras invenções para ser mantida, ela nunca vale a pena, apenas para aqueles que se acostumaram a ser “atores” na vida, cuja existência, a meu ver, vale “tanto” quanto a de um personagem de um filme que morre no final (ou no meio, ou no início): de fato, no mundo real, nem morto ele faz falta.
A gente amadurece e muda de foco, de idéias, aprimora a personalidade. O corpo dos 20 talvez eu não tenha mais, nem mesmo a saúde, mas para ambos existem médicos, intervenções cirúrgicas, remédios, cremes e as benditas cirurgias plásticas, mas para uma alma deteriorada, não existe conserto, não existe solução, nada pode dar nobreza ou beleza a uma alma vil e feia, usando um pouco, mas dando o meu toque ao final do “Poema em Linha Reta”
[1], meu preferido de Fernando Pessoa: feia no sentido mais esdrúxulo e ridículo da feiúra.
[1] “Poderão as mulheres não os terem amado,Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?Eu, que venho sido vil, literalmente vil,Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.”
Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 01 de outubro de 2011.

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