O estar e o ser
Se existe uma característica que define uma boa forma de viver ela se chama intensidade. A vida é como um mar. Um belo mar de surpresas, nem sempre belas, mas que sempre deixam boas lições, um mar onde só é passível de conhecer suas maiores riquezas aquele que não tem medo de ir ao fundo, de enfrentar alguns riscos.
Como num mar, nada na vida é permanente. As ondas levam para longe o que outrora lhe fazia parte, e, da mesma forma, trazem coisas novas, assim a vida e o mar fluem numa bela cadência, às vezes forte, brusca, às vezes calma, vagarosa, mas sempre com seus encantos. No mar da vida é feliz aquele que goza intensamente seus sentimentos e momentos.
Aprecia sua beleza o individuo que ama intensamente, que curte os bons momentos com intensidade, mas que também goza intensamente da dor, do sofrimento, porque muitas das mudanças que nos fazem crescer e nos tornam mais fortes e, quiçá, mais sábios, costumam nos causar um aperto no peito e fazer brotar lágrimas em nossa face. Muitas mudanças requerem nosso sofrimento por mais que sejam benéficas.
A gente se acostuma com os sonhos e ideais antigos e se sente desamparado diante do novo. É a vida. Alguns sonhos acabam, algumas expectativas e anseios restam frustrados, mas sempre fica a experiência, o aprendizado. Basta que criemos novos sonhos, busquemos novas metas e não percamos a esperança. A vida não acaba com nossos sonhos, nós é que nos acovardamos e desistimos de inovar, de buscar novas belezas no mar de nossa existência. É sábio o marinheiro que não cansa de navegar, ainda que para isso precise inventar canções, sozinho, em alto mar, ainda que faça poemas para as estrelas.
Ser feliz, ser triste e ser alegre são coisas diferentes. A felicidade é um estado de rejúbilo com as pequenas coisas, no dia a dia, no quotidiano. A alegria é um sentimento forte que nem sempre é constante, ela diminui quando os espinhos da inveja, do orgulho, da ganância, da mentira nos espetam, ela se abala diante da falsidade, da ignorância e da maldade que existem em nosso caminho como provações à nosso equilíbrio, esperança e fé na vida.
A tristeza, por mais que alguns achem absurdo, coincide com a felicidade. Só não fica triste nunca quem não é feliz, somente quem não possui sensibilidade para sorrir, para amar, não possui, também, para chorar, para se frustrar, para recordar do passado e se emocionar com as doces lembranças do que já passou e se eternizou na memória.
É preciso, pois, ficar triste quando o coração pede, nos momentos em que ele se sente angustiado, magoado, ferido. A tristeza, ao contrário do que diria o poeta em sua melancolia boêmia, tem fim, a felicidade é que não deve ter, no entanto, somos criados numa sociedade que incita ao descontentamento, que nos incita a ver o lado ruim da vida para que gastemos mais, comamos mais, para que os jovens se tornem adultos embriagados ou entorpecidos por outras drogas. O infeliz sente-se vazio e se torna mais consumista do que deveria ser.
Não é a vida como é, e sim as coisas como estão. Contrario Renato Russo que disse que "as coisas como são". Nem tudo "é", quase tudo "esta". A vida não é ruim, nossa condição financeira não é péssima, nossa vida afetiva não é vazia, nós não somos sozinhos, não somos carentes, não somos infelizes. Nós podemos estar numa má fase, sem amor, sem muito dinheiro, um pouco carentes e decepcionados com o ser humano. Mas não somos decepcionados ou frustrados (estamos, apenas), um dia nos surpreenderemos com a bondade que resta a algumas pessoas.
O que é não muda jamais, o que esta, por sua vez, é passível de mudança. E a vida é mudança, ela sempre esta, nunca "é", apenas o que "é" - o que não muda - é a morte. Só "é" aquele que esta morto. Que é morto. Por isso podemos estar tristes agora, chorando e lastimando, e estar rejubilados depois. É preciso sofrer para assimilar a dor e a frustração, refletir e, depois, voltar a sorrir, voltar a sentir a felicidade que, apenas os marinheiros possuem e a tranqüilidade anímica que sentem.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 15 de janeiro de 2007.
Se existe uma característica que define uma boa forma de viver ela se chama intensidade. A vida é como um mar. Um belo mar de surpresas, nem sempre belas, mas que sempre deixam boas lições, um mar onde só é passível de conhecer suas maiores riquezas aquele que não tem medo de ir ao fundo, de enfrentar alguns riscos.
Como num mar, nada na vida é permanente. As ondas levam para longe o que outrora lhe fazia parte, e, da mesma forma, trazem coisas novas, assim a vida e o mar fluem numa bela cadência, às vezes forte, brusca, às vezes calma, vagarosa, mas sempre com seus encantos. No mar da vida é feliz aquele que goza intensamente seus sentimentos e momentos.
Aprecia sua beleza o individuo que ama intensamente, que curte os bons momentos com intensidade, mas que também goza intensamente da dor, do sofrimento, porque muitas das mudanças que nos fazem crescer e nos tornam mais fortes e, quiçá, mais sábios, costumam nos causar um aperto no peito e fazer brotar lágrimas em nossa face. Muitas mudanças requerem nosso sofrimento por mais que sejam benéficas.
A gente se acostuma com os sonhos e ideais antigos e se sente desamparado diante do novo. É a vida. Alguns sonhos acabam, algumas expectativas e anseios restam frustrados, mas sempre fica a experiência, o aprendizado. Basta que criemos novos sonhos, busquemos novas metas e não percamos a esperança. A vida não acaba com nossos sonhos, nós é que nos acovardamos e desistimos de inovar, de buscar novas belezas no mar de nossa existência. É sábio o marinheiro que não cansa de navegar, ainda que para isso precise inventar canções, sozinho, em alto mar, ainda que faça poemas para as estrelas.
Ser feliz, ser triste e ser alegre são coisas diferentes. A felicidade é um estado de rejúbilo com as pequenas coisas, no dia a dia, no quotidiano. A alegria é um sentimento forte que nem sempre é constante, ela diminui quando os espinhos da inveja, do orgulho, da ganância, da mentira nos espetam, ela se abala diante da falsidade, da ignorância e da maldade que existem em nosso caminho como provações à nosso equilíbrio, esperança e fé na vida.
A tristeza, por mais que alguns achem absurdo, coincide com a felicidade. Só não fica triste nunca quem não é feliz, somente quem não possui sensibilidade para sorrir, para amar, não possui, também, para chorar, para se frustrar, para recordar do passado e se emocionar com as doces lembranças do que já passou e se eternizou na memória.
É preciso, pois, ficar triste quando o coração pede, nos momentos em que ele se sente angustiado, magoado, ferido. A tristeza, ao contrário do que diria o poeta em sua melancolia boêmia, tem fim, a felicidade é que não deve ter, no entanto, somos criados numa sociedade que incita ao descontentamento, que nos incita a ver o lado ruim da vida para que gastemos mais, comamos mais, para que os jovens se tornem adultos embriagados ou entorpecidos por outras drogas. O infeliz sente-se vazio e se torna mais consumista do que deveria ser.
Não é a vida como é, e sim as coisas como estão. Contrario Renato Russo que disse que "as coisas como são". Nem tudo "é", quase tudo "esta". A vida não é ruim, nossa condição financeira não é péssima, nossa vida afetiva não é vazia, nós não somos sozinhos, não somos carentes, não somos infelizes. Nós podemos estar numa má fase, sem amor, sem muito dinheiro, um pouco carentes e decepcionados com o ser humano. Mas não somos decepcionados ou frustrados (estamos, apenas), um dia nos surpreenderemos com a bondade que resta a algumas pessoas.
O que é não muda jamais, o que esta, por sua vez, é passível de mudança. E a vida é mudança, ela sempre esta, nunca "é", apenas o que "é" - o que não muda - é a morte. Só "é" aquele que esta morto. Que é morto. Por isso podemos estar tristes agora, chorando e lastimando, e estar rejubilados depois. É preciso sofrer para assimilar a dor e a frustração, refletir e, depois, voltar a sorrir, voltar a sentir a felicidade que, apenas os marinheiros possuem e a tranqüilidade anímica que sentem.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 15 de janeiro de 2007.
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