A honra na vileza
Não pretendo fazer apologia aos sentimentos vis, não pretendo elevar os defeitos e fraquezas humanas à categoria de "maravilhas". No entanto não deixo de perceber que, cada vez mais, as pessoas agem de forma a parecer venturosas aos olhos alheios. As pessoas desejam ser notadas, desejam ser julgadas como "espertas", ao mesmo tempo em que querem a "tarjeta" cor-de-rosa do "este ser é bom de coração".
Ainda que os instintos, que o caráter penda para uma atitude menos nobre aos olhos alheios, as pessoas agem conforme a "nobreza" que a sociedade exige. Perdem o valor de seu agir "valoroso" porque a ação adequada não proveio de sua essência.
Nenhum ser humano é sempre nobre, nem possui a alma livre de impurezas. Ninguém é excelente em tudo. As pessoas não confessam suas vilezas, mas elas sentem inveja, sentem ódio, têm desejo de serem superiores, de serem o centro do universo, têm ganância, orgulho e desejam que as circunstâncias lhes favoreçam, elas são vingativas, ainda que em pensamento. São humanas!
O ser humano é uma antinomia em si mesmo, posto que consegue justificar suas vilezas e falta de autocontrole, (enfim sua natureza errante), alegando que é "instintivo", e que "é humano perder o controle diante de estímulos físicos", sendo que, na maior parte das vezes pretende agir como um "príncipe no mundo", com condutas perfeitas e adequadas. Quando age de forma "adequada" e virtuosa os outros é que são reles e errados, ele é forte e especial.
Lembro-me de Pedro, aquele indivíduo que Jesus perdoou, mas a maioria dos seres humanos não, posto que lhe impingiram os piores julgamentos, como se nenhum de nós fosse agir como ele. Pedro negou Jesus Cristo. Reflito: Será que nenhum de nós, diante do medo da morte, diante da circunstância amedrontadora e incerta, seria fiel a ponto de morrer por causa de alguém?
Creio na "lei" do respeito ao próximo e na convicção pessoal do "viver deixando viver, sem fazer mal para ninguém", enfim, na "lei" do não fazer ao outro o que não se deseja para si, que é a maneira mais fácil de adequar a vida humana à divina e perfeita ordem: "Amai-vos uns aos outros.".
Enfim, talvez se Pedro imaginasse que, se tivesse afirmado Jesus teria se tornado "famoso" pela atitude nobre, tivesse escolhido esta opção. Mas, onde estaria a nobreza de tal ação se Pedro agisse apenas para "ganhar a fama" de "bom"? Não haveria nobreza, e, como em todas as relações humanas imperaria a hipocrisia que faz da caridade algo grotesco.
Dar afeto, fazer filantropia, e ser caridoso são gestos nobres se feitos com a alma, e não com a mão estendida e o sorriso nos lábios mascarando o pensamento: "Vejam, como sou bondoso!".
Pedro quis viver, ele sofreu com o pesar de sua consciência, mas o amor se manteve no coração daquele que, em determinado momento, como humano e errante que era, agiu pensando em se salvar, afinal não era a ele que queriam, era ao Profeta, que no coração trazia o perdão, que a humanidade desconhece, porque, no recôndito de suas almas todos se julgam como se fossem "senhores" da verdade e donos da pureza.
Se os seres humanos fossem menos hipócritas, se assumissem suas fraquezas, afirmassem-se como errantes compreenderiam melhor a conduta alheia, e o amor imperaria de verdade entre as pessoas.
A incompreensão é a maior falta de compaixão que o ser humano manifesta. Não compreendendo o agir alheio o ser demonstra seu orgulho. Colocar o dedo na chaga alheia é fácil, difícil é limpar a sua própria ferida.
Reconhecendo suas fraquezas, e que é capaz de agir de forma baixa, e de demonstrar condutas torpes o ser humano cresce espiritualmente, porque, apenas com a humildade para constatar seus erros é que poderá, após cogitá-los, seguir o caminho da evolução, aprendendo a conter-se. Enquanto passa sua vida julgando os outros, fingindo-se ser um "semideus" o homem estará aparentando grandeza, e confirmando a pequenez de sua alma.
Cláudia de Marchi
Passo fundo, 20 de abril de 2004.
Não pretendo fazer apologia aos sentimentos vis, não pretendo elevar os defeitos e fraquezas humanas à categoria de "maravilhas". No entanto não deixo de perceber que, cada vez mais, as pessoas agem de forma a parecer venturosas aos olhos alheios. As pessoas desejam ser notadas, desejam ser julgadas como "espertas", ao mesmo tempo em que querem a "tarjeta" cor-de-rosa do "este ser é bom de coração".
Ainda que os instintos, que o caráter penda para uma atitude menos nobre aos olhos alheios, as pessoas agem conforme a "nobreza" que a sociedade exige. Perdem o valor de seu agir "valoroso" porque a ação adequada não proveio de sua essência.
Nenhum ser humano é sempre nobre, nem possui a alma livre de impurezas. Ninguém é excelente em tudo. As pessoas não confessam suas vilezas, mas elas sentem inveja, sentem ódio, têm desejo de serem superiores, de serem o centro do universo, têm ganância, orgulho e desejam que as circunstâncias lhes favoreçam, elas são vingativas, ainda que em pensamento. São humanas!
O ser humano é uma antinomia em si mesmo, posto que consegue justificar suas vilezas e falta de autocontrole, (enfim sua natureza errante), alegando que é "instintivo", e que "é humano perder o controle diante de estímulos físicos", sendo que, na maior parte das vezes pretende agir como um "príncipe no mundo", com condutas perfeitas e adequadas. Quando age de forma "adequada" e virtuosa os outros é que são reles e errados, ele é forte e especial.
Lembro-me de Pedro, aquele indivíduo que Jesus perdoou, mas a maioria dos seres humanos não, posto que lhe impingiram os piores julgamentos, como se nenhum de nós fosse agir como ele. Pedro negou Jesus Cristo. Reflito: Será que nenhum de nós, diante do medo da morte, diante da circunstância amedrontadora e incerta, seria fiel a ponto de morrer por causa de alguém?
Creio na "lei" do respeito ao próximo e na convicção pessoal do "viver deixando viver, sem fazer mal para ninguém", enfim, na "lei" do não fazer ao outro o que não se deseja para si, que é a maneira mais fácil de adequar a vida humana à divina e perfeita ordem: "Amai-vos uns aos outros.".
Enfim, talvez se Pedro imaginasse que, se tivesse afirmado Jesus teria se tornado "famoso" pela atitude nobre, tivesse escolhido esta opção. Mas, onde estaria a nobreza de tal ação se Pedro agisse apenas para "ganhar a fama" de "bom"? Não haveria nobreza, e, como em todas as relações humanas imperaria a hipocrisia que faz da caridade algo grotesco.
Dar afeto, fazer filantropia, e ser caridoso são gestos nobres se feitos com a alma, e não com a mão estendida e o sorriso nos lábios mascarando o pensamento: "Vejam, como sou bondoso!".
Pedro quis viver, ele sofreu com o pesar de sua consciência, mas o amor se manteve no coração daquele que, em determinado momento, como humano e errante que era, agiu pensando em se salvar, afinal não era a ele que queriam, era ao Profeta, que no coração trazia o perdão, que a humanidade desconhece, porque, no recôndito de suas almas todos se julgam como se fossem "senhores" da verdade e donos da pureza.
Se os seres humanos fossem menos hipócritas, se assumissem suas fraquezas, afirmassem-se como errantes compreenderiam melhor a conduta alheia, e o amor imperaria de verdade entre as pessoas.
A incompreensão é a maior falta de compaixão que o ser humano manifesta. Não compreendendo o agir alheio o ser demonstra seu orgulho. Colocar o dedo na chaga alheia é fácil, difícil é limpar a sua própria ferida.
Reconhecendo suas fraquezas, e que é capaz de agir de forma baixa, e de demonstrar condutas torpes o ser humano cresce espiritualmente, porque, apenas com a humildade para constatar seus erros é que poderá, após cogitá-los, seguir o caminho da evolução, aprendendo a conter-se. Enquanto passa sua vida julgando os outros, fingindo-se ser um "semideus" o homem estará aparentando grandeza, e confirmando a pequenez de sua alma.
Cláudia de Marchi
Passo fundo, 20 de abril de 2004.
aprecio seu modo de pensar, grandiosas palavras, frases, ótima expressão.mas sera que isso é posto em pratica? ou sera apenas mais um marketing pessoal !
ResponderExcluirSe eu não colocasse em prática não escreveria a respeito. Ao menos me esforço para colocar em prática caro Cordeiro!
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