Problemáticos.
Eu já tive uma fase problemática. Na verdade, o suprassumo
do ser problemático é a autodestruição. Aquela fase em que a pessoa se imerge
nela mesma e, meio sem fé, não acha solução para sua vida e se entrega ao que,
sabe, não faz bem.
Fuma, bebe, mistura remédios com álcool, sai à
noite imoderadamente, e, em alguns casos, recorre a drogas ilícitas e fere a si
mesmo. Acredite, tem de tudo neste mundo. Eu, sempre notei algo: pessoas em má
fase psíquica e emocional emanam uma energia que repele as pessoas.
Pessoas deprimidas, por exemplo, são as que mais
precisam de atenção e amor, mas, não raras vezes sua auto piedade é tamanha,
que ninguém consegue sentir-se bem ao seu lado. As pessoas lhe suportam, mas não
curtem a sua companhia.
Enfim, acabei de assistir a um filme denso, muito
denso, chamado “Cisne Negro”. É um filme que instiga alguma curiosidade, mas não
deixa nenhuma lição muito plausível, se não uma: pessoas borderline, psicóticas
e afins precisam de tratamento ou, não importa o seu talento, elas terminarão
mal. Por sua própria vontade.
Dizem que toda pessoa com vocação artística é
problemática. Sei lá, eu acho que o auge da sabedoria é conseguir simplificar a
vida, é aceitar o que ocorre com o máximo de bom humor possível e não ter
demasiada pena de si mesmo.
Se você está no auge, está conseguindo quase tudo o
que deseja, me responda: o que justifica a sua raiva de si mesmo? O marido não lhe
quis? A mãe a domina? O pai é chato? A namorada é ciumenta? Simples, você não é
grudado neles. Aja! Suma, separe!
Existiram inúmeros artistas que se autodestruíam na
fase em que a AIDS era popular e a camisinha não, outros se terminaram na inconsequência
das drogas, álcool e da promiscuidade que surge como consequência de tais
excessos.
Ótimo, mas muitos outros conseguem viver bem,
muitos outros, como qualquer outro ser humano de criatividade parca ou anônimo,
fuma, transa, dorme, come e usa tudo o que pode dentro de certa normalidade. Ou
de uma anormalidade não perniciosa, no máximo.
Eu gosto de gente que gosta de si. Eu gosto de
gente que se resolve, que cresce, que deixa de ser um adolescente que se sente
vitima da humanidade injusta, eu gosto de quem assume a responsabilidade pelos
seus atos e que escolhe a felicidade e não a tristeza.
Simplifique! Ser feliz é uma questão de escolha. O mesmo
fato que lhe frustra, pode lhe fazer crescer. Quanto àquilo que lhe macula a
alegria? Desde que você esteja vivo e com saúde, poderá dele se desvencilhar.
A minha frase de ordem é “não reclamar do que a
gente permite”. Não reclame do marido se está ao seu lado, não reclame dos
pais, se mora com eles, não reclame do salário, se você aceitou o emprego.
Enfim, por uma vida com menos reclamações, auto
piedade, pedantismo, vitimismo e reclamações. Sou por uma vida de gente bem
resolvida, altruísta e que, artista ou não, privilegia seu equilíbrio psíquico,
ainda que precise procurar ajuda médica. Sou a favor de quem, mesmo com motivos
para ser infeliz, busca melhorar, busca se aprimorar, busca sorrir, busca a luz
e não o escuro.
Ou daqueles que, infelizes, se matam, são objetivos,
agora gente que não é decidido nem para bem viver nem para mal morrer e fica só,
fazendo volume no mundo e chateando quem lhe ama, eu não curto. Franqueza a
parte, mas a vida requer que a gente tome posições, ficar em cima do muro e
incomodando quem lhe preza é covardia.
Eu gosto de complexidade, eu gosto de tentar compreender pessoas difíceis e complicadas, mas já passei da fase de "insistir" nelas, de desejar salvá-las, de me encantar por elas. Primeiro, não sou graduada para tanto, segundo, as pessoas só se "curam" quando desejam. Todo ser humano é um pouco louco, só que eu prefiro os loucos felizes. Loucos tristes me fazem mal, infelizmente.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 30 de outubro de 2014.