A perigosa bondade dos bons.
Agostinho Ramalho Marques Neto
indagava: “Quem nos salva da bondade dos bons?”. Dos julgadores, no caso. As
pessoas, de fato, convictas de sua decência, de sua bondade e de sua
integridade, convictas, pois, de sua bondade e retidão de caráter criticam e julgam
os “menos” bons ou, na sua visão rigorosa, os “maus”.
Pois eu não sei muito da vida,
como, quando mais jovem e arrogante, acreditava que sabia, mas a vida me
ensinou muitas lições, dentre as quais a de que ninguém é tão demasiado bondoso
e exímio que nunca possa cometer um ato de maldade.
O problema, porém, são os bons
que se acham bons, os que se dão ao direito de julgar sem conhecer, sem ter
estado na pele do outro, no seu coração, na sua alma e é da “bondade” desses
bons que todos devemos ser protegidos, inclusive eles mesmos, porque não
tardará o dia em que a consciência que eles possuem de sua bondade lhes
mostrará o que a vida mostra a todos: ninguém, absolutamente ninguém acima da
terra e abaixo do céu é melhor do que o outro a ponto de poder criticar sem
conhecer as suas dores.
Não digo que ninguém possa
fazê-lo, mas acho que isso só deve ocorrer quando conhecemos bem alguém, quando
nós conhecemos e não nossos pais, nosso marido, nosso filho, afinal, sempre e
em todos os casos, o julgamento e a critica alheia traz mais a personalidade do
julgador do que do julgado, mais daquele que critica do que de quem é
criticado.
Nunca se esqueça da projeção,
enquanto mecanismo de defesa do ego: nas criticas de Paulo a Pedro, se descobre
mais de Paulo do que de Pedro. Portanto, todo cuidado é pouco na hora de usar a
sua imensurável bondade para criticar o outro, afinal, a vida dá voltas e hoje
o bondoso julgador, a pessoa de personalidade eximia e desprovida de erros
colossais é você, amanha, porém, você será o julgado. E, conforme a oração, o
será com a mesma rispidez com que julgou. Só lamento.
A gente evolui nessa vida quando
aprende que até mesmo boas pessoas erram, mas que perigosas mesmo são aquelas
que não reconhecem seus erros, que não fazem mea culpa e que atribuem tudo que
lhes ocorre ao outro ou aos outros. Ser incapaz de sentir culpa, de agir mal,
se arrepender e sofrer é, sim, um indicio de malvadeza espiritual.
Meu amigo, ser mau, todos
podemos, todos somos capazes, inclusive, de matar um semelhante em dadas
situações, me assusta, porém os “bons” que agem de forma maldosa e egoísta e não
conseguem se arrepender, sofrer ou sentir vergonha, me assusta aqueles que são os
bondosos, os santos, os coitados, as vítimas, em toda e qualquer situação. Estes
sim, me apavoram.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 07 de outubro de
2014.
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