Convicções perigosas.
Nada pode ser mais inútil do que
tentar abrir os olhos de gente convicta. Se a pessoa tem certeza de algo, ela
não vai mudar de ideia e tudo o que você lhe contar terá um efeito reverso:
certo do que pensa o outro vai usar as suas próprias palavras contra você.
É assim que se estabelecem
governos durante anos, menosprezado o seu oposto, fazendo uma lavagem na mente
de todos de que ele é o mais justo, o mais correto. Como, pois, lutar contra
uma tendência humana? Creio que seja impossível! Não raras vezes as pessoas só
abrem seus olhos quando querem, quando, por elas mesmas, percebem que o seu ídolo
não é tão perfeito e o outro, quiçá, nem seja tão algoz ou maquiavélico como ele
fora convencido.
Pessoas apaixonadas, de regra,
são assim, ignoram tudo, ignoram todos os fatos, argumentos e indícios contrários
a seus sentimentos, pessoas obstinadas, enfim, se tornam de tal forma parciais
e aguerridas em suas convicções toscas que, desconfio, sua mente se atrofie. É lastimável,
mas é a maior prova de que, a ouvidos surdos, não se fala.
Afasta-se e espera, afinal mudar
de ideias é como mudar de conduta, as pessoas só o fazem por elas mesmas, por
sua experiência e não por sugestão ou anseio de pessoa alguma. E, para isso,
nada melhor do que um dia após o outro (quiçá anos), com boas noites de sono no
meio. Um dia a verdade sempre vem à tona, ainda que seja a de que você foi mero
joguete em mãos astutas.
Num processo judicial, por
exemplo, a verdade só pode ser aferida após o contraditório, vez que todos têm
direito a ampla defesa. E assim deveria ser na vida. Quando tapamos os ouvidos
para uma das partes corremos o risco de errar, errar feio e, assim, sermos
injustos. Todos têm suas razões. Toda ação gera uma reação, logo, nos
equivocamos muito quando analisamos a reação sem ter ideia da ação que a
impulsionou.
Todavia, o certo é que a justiça Divina se
concretiza com o decurso do tempo, quando a nossa cegueira passa, quando tudo
vai aos seus lugares e quando aquilo que olvidamos (a narrativa do outro) se
mostra verossímil, se desvela, pois ao nosso olhar.
Ninguém é perfeito neste mundo,
nem você, logo, carregar consigo a certeza de que até seus julgamentos podem
estar errados evitará maiores frustrações em seu caminho. Não menospreze
ninguém que você não tenha convivido, que você não conheça com sua própria
experiência. Pessoas são o que sentem, o que foram, pessoas são os seus
próprios porquês e não os porquês que lhes atribuem. Ah, mas isso, meu amigo,
só com muita experiência pra se aprender. Todavia, quem viver, verá. Ah, e se
verá!
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 07 de outubro de
2014.
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