Constituição, aborto e impotência.
Eu já fui uma pessoa muito intransigente. Quando jovem
e na minha adolescência, era cheia de convicções e não tinha facilidade em ser
dissuadida delas. Todavia, a vida faz milagres com a gente!
Hoje em dia adoro ouvir pontos de vista diferentes
do meu, quando inteligentes e interessantes, acabo sendo por eles influenciada
a modificar os meus paradigmas. Mas, às vezes, meu amigo, eu ouço e leio cada
coisa que me revolta o estomago, coisas as quais, se eu respondesse,
provavelmente seria levada à Delegacia mais próxima ou seria agredida, isso,
claro, seu eu não agredisse antes.
Eu não tenho paciência nem preparo psíquico para
ideias moralistas, para ideias fruto de opiniões de mentes presas a conceitos
religiosos ou puritanos. Gosto de mentes abertas, de mentes libertas. Aborto,
por exemplo, é um tema polemico, cujas ideias de alguns, às vezes me anojam.
Ora, por favor, será que as pessoas não sabem que
mulheres e adolescentes abonadas o praticam sem que o Judiciário ou a sociedade
saibam? E, mais, o praticam em segurança, sem correr riscos. Todavia, milhares
de mulheres morrem ao tentar abortar em condições precárias, afinal, a prática
é crime e o SUS não o garante.
Será que as pessoas não enxergam que a aplicação da
lei, do jeito que ela é feita, privilegia a classe rica? Anticoncepcional. Certo,
certo. Mas, você não consegue enxergar um pouco além e saber que tem mulheres
que quiçá não sabem toma-lo? Ah, mas elas devem aprender né?! Sim, e você também
deve deixar de ser hipócrita, mas não consegue!
E o controle de natalidade constitucionalmente
garantido? Será que as pessoas não sabem que na prática as mulheres são desestimuladas,
porque o Governo não quer gastar com a ligadura? Minha nossa, a ignorância da
classe média e dos legisladores sobrevive à custa do sangue dos incultos, dos
pobres, dos desinstruídos.
Nosso País é laico, mas a Igreja Católica e seus
preceitos puritanos dominam. Por isso casamento homossexual é mal visto, por
isso as minorias são criticadas, em que pese quase ninguém faça sexo só para
reproduzir a espécie e após o casamento. Casamento religioso, diga-se de
passagem.
Será que custa muito abrir a mente? Será que custa
muito compreender que você tem o direito de crer no que quiser, de agir como
bem entender, de praticar a sua fé, mas não pode exigir que os outros façam o
mesmo. Se você toma anticoncepcional religiosamente, paga médicos caros, tem
plano de saúde, compreenda: nem todas as mulheres deste imenso Brasil têm a sua
cultura, teve as suas oportunidades, o seu conhecimento, a sua maturidade e,
sobretudo, as suas crenças.
Perante a nossa detalhista Constituição, todos somos
iguais, todavia, na prática as coisas são diferentes. A nossa Constituição
Federal é o Brad Pitt das leis: linda, competente e atraente, qualquer um a
deseja. Todavia, imagine o galã como sendo sexualmente impotente. Pois é, assim
é a nossa Constituição. Detalhe, isso é um mero exemplo, nem a Angelina Jolie
nem a nossa nação merece referida impotência. A do Brad é exemplificativa, a da
nossa Constituição, não. Infelizmente. Oh, glória!
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 03 de outubro de 2014.
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