Desculpas II
O ato de pedir desculpas é "relativamente nobre", porque, embora a primeira vista indique que aquele que pede fez mea culpa e reconheceu o seu erro, ele pode se tornar um ato mecânico, banal.
Existem pessoas que não pensam antes de falar, que confundem grosseria, falta de educação e de “tato” no convívio humano com sinceridade. Ser sincero é falar educadamente a verdade quando é necessário, ser “grosso” é falar brutalmente o que se tem como “certo” sem que ninguém peça ou queira saber.
Existem muitas pessoas “grossas”, estúpidas e brutas, mas raríssimas pessoas sinceras, educadas e inteligentes. Poucas pessoas sabem dizer a verdade sem perder a razão. Aliás, a tal “razão” é algo muitíssimo delicado, você pode estar “cheio” dela, mas uma palavra a mais, excesso ou exagero na sua afirmação a coloca por água a baixo. Razão, uma vez perdida, dificilmente será recuperada, a menos que o outro erre novamente e, nesta vez, você aja com sabedoria.
Alguns indivíduos brutos e aqueles que falam e agem sem pensar no efeito de suas ações e palavras, vivem contando com a bondade alheia, com a indulgência e com a mansuetude da alma do outro, que lhe faz relevar e, mesmo magoado, tentar compreender e perdoar, enfim.
Nada volta a ser como antes após um pedido de desculpas, mas quando uma pessoa ama ou é apaixonada pela outra, ela encontra motivos para justificar os atos de quem lhe feriu, isso se chama indulgência, num sentido simplista. Obviamente ela é mais complexa e divina que isso, mas o seu efeito é sempre o de abrandar o julgamento do outro, seja ele o ofendido ou não.
Enfim, perdoar é divino, mas viver magoando e solicitando “desculpas” é estúpido, é vil, é vão. Você pode magoar e pedir desculpas uma vez, mas viver errando, ofendendo quem não merece e contando com sua bondade para ser perdoado não é humano, é triste, é desumano e ultrajante para a inteligência alheia.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 1º de janeiro de 2012.
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