Suicidas e outros “pecadores”.
Durante boa parte da minha existência eu critiquei os suicidas. Provavelmente pela influência religiosa de minha educação. A religião que, por um lado nos ajuda nas intempéries da vida, por outro, limita nossa compreensão acerca do “alheio”, nos torna, portanto, hipócritas, capazes de crer no “invisível”, apregoar belas palavras e não compreender seu semelhante.
Os conceitos religiosos acerca de sexualidade, reprodução da espécie, sexo, aborto, casamento e morte são os principais culpados pela existência de nossos preconceitos. Por que, afinal, você quer um filho heterossexual? Por que, mesmo diante da alegria de seu filho gay, você, como pai, se entristece? Por que não aceitar a felicidade do outro, sendo ele quem é e como é? Provavelmente porque, praticamente todas as doutrinas que as pessoas conhecem, desprezam o homossexualismo, o aborto e o suicídio.
Onde esta o “individuo cristão” quando ele, se sentindo Deus, condena homossexuais, suicidas e a mulher que, desolada, aborta? Frise-se que nem só a religião católica cerceia a liberdade de pensamento, de perdão e de análise do homem. De uma forma ou outra, todas as religiões criam no ser humano, quase sempre carente de consolo, inúmeros preconceitos.
“Isso é errado”, “isso é normal”, “isso vai contra a lei de Deus”, enfim, uma série de afirmativas que, tentando moralizar o homem e torná-lo alguém “melhor”, criam infames preconceitos a respeito do justo e do injusto, do correto e do incorreto que, seguidamente, se tornam responsáveis por atritos entre as pessoas. Ao invés de instalarem a paz, instalam a discórdia, o desatino, o orgulho, a prepotência e a arrogância.
Por que um suicida, segundo as doutrinas religiosas, é fadado a ir para o inferno? Por que, por uma série de razões pessoais, ele desistiu da vida? Por que, então, Deus permitiu que ele perdesse a esperança, o amor e a confiança em sua vida, em sua sorte? Deus perdoa tudo, certo? É o que as doutrinas religiosas que legam o inferno aos suicidas afirmam. Por acaso não existe uma notória redundância entre o perdão divino e o inferno “garantido” a estes ou àqueles “pecadores”?
Acredite no que quiser, eu prefiro crer no perdão divino. Prefiro crer que, se existe um Criador, ele entende e perdoa suas criaturas. Crer em algo que avilte minha visão sobre indulgência, é descrer, é acreditar na crueldade de um Ser no qual quase todos acreditam, mas desampara a maioria. Se for para ter fé, que seja no Deus do amor e do perdão, do contrário, prefiro não crer em nada, apenas no arbítrio do ser humano diante de dores que só ele conhece.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 13 de janeiro de 2012.
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