Contar algo e “falar sobre”: significativa
diferença.
Em que pese, por conta da minha veia de cronista
amadora, eu poste bastante nas redes sociais tento não colocar nada com
demasiados detalhes a respeito da minha vida, das minhas “vergonhas” e
chateações demasiado subjetivas. Não conto meus tropeços no Facebook, se as
pessoas acham que estou sendo muito detalhista, e que elas estão tendo a “honra”
de saber detalhes a respeito da minha vida, lhes aviso: a situação “presumida”
é muito mais complexa!
Enfim, as pessoas é que tem o hábito de subentender
demais, de deduzir demais, de achar que porque a gente está falando de amor,
levou um fora ou está apaixonado, se a gente tá falando de mentira, foi
enganado, se a gente está falando de relacionamento é porque está com problema
ou está caindo de amores por alguém.
Sei lá, como uma pessoa que escreve sobre quase
tudo relacionado à afetividade, que observa demais, já escrevi sobre desamor
quando eu estava amando e sobre amor quando eu estava sem amar ninguém além de
eu mesma. Aliás, na Wikipédia, crônica, que é o que eu escrevo e posto no blog
e, com o fito de divulga-lo remeto ao Facebook, vem assim conceituada:
“Na literatura e no jornalismo, uma crónica
(português europeu) ou crônica (português brasileiro) é uma narração curta,
produzida essencialmente para ser veiculada na imprensa, seja nas páginas de
uma revista, seja nas páginas de um jornal. Possui assim uma finalidade
utilitária e pré-determinada: agradar aos leitores dentro de um espaço sempre
igual e com a mesma localização, criando-se assim, no transcurso dos dias ou
das semanas, uma familiaridade entre o escritor e aqueles que o leem”.
Capiche? Eu retrato algum aspecto do que penso
sobre o mundo, sobre as pessoas, sobre relacionamentos, sobre profissão, sobre
quase tudo, enfim, com a intenção de criar afinidades com quem lê, em que pese,
por não ser jornalista, o sucesso desta “empreitada” não seja meu objetivo
maior.
Filmes me inspiram, artigos em revista me inspiram,
conversas com amigos me inspira, meu trabalho me inspira, gente chata também me
inspira. (Quem dúvida que a indignação não cause inspiração? Eu sei que causa!)
Enfim, o povo faz de um limão várias limonadas. E limonadas azedas, sem açúcar,
sem gelo e com água de privada, de preferência.
Falam demais, pensam pouco. Deduzem demais, nos
conhecem pouco. Presumem mais do que devem para ter o “gosto” de falar de
pessoas que vivem bem suas vidas sem precisarem sentar suas bundas quadradas em
frente de um computador para reparar na vida alheia. De regra os que não estão
“nem aí” pra nada e para os “críticos” são os criticados. Não por isso a
palavra “recalque” ganhou fama nas redes sociais.
Mas, desabafo a parte, eu venho deixar uma
sugestão: tente não contar para ninguém os porres que você toma, os tombos que
você cai, os beijos que você dá, porque, meu amigo, as pessoas lhe “embebedam”
depois que lhe viram tomando Coca-Cola, lhe “derrubam” por terem lhe visto
andando de salto alto, lhe “colocam” na cama de quem só pegou na sua mão.
O que não for demasiado sério e sóbrio não merece
divulgação, o povo já lhe critica mesmo quando você não faz nada, não lhe dê
uma razão para falarem mais e, ainda dizer: “Ele contou isso no Facebook”.
Falar nas redes sociais é uma coisa, contar é outra. Contar é algo que se faz
para poucas pessoas e, de regra, quando elas são confiáveis.
Conte para sua mãe, para sua amiga, para seu
namorado, para seu psicanalista, para sua cabeleireira, até! Mas não conte em
redes sociais nada íntimo ou meio “vergonhoso”. Se quiser escrever, discorra
sobre um assunto, não especifique demais, não dê “nome aos bois”, não dê, pois,
ensejo a incômodos desnecessários, a fofocas tolas, dando detalhes do que lhe
ocorre, afinal, como dizem por aí: a imaginação dos outros já é suficientemente
difamatória.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 31 de julho de 2014.