Advogados e concursados.
Lembro-me da minha primeira semana de aula na tradicional
Faculdade de Direito da Universidade de Passo Fundo. Os colegas comentavam a
respeito do que desejariam fazer pós-conclusão do curso. A maioria queria
concurso, em especial da magistratura e Ministério Público.
Eu, devem se lembrar bem os meus colegas, sempre
quis advogar. Em momento algum, por nenhum dia eu pensei em fazer outra coisa.
A maioria que queria fazer concurso e entrou na faculdade comigo, no
emblemático “ano 2000”, conseguiu o seu intento. E eu o meu.
Mas daí a gente conversa com pessoas leigas, num
restaurante, por exemplo, e percebemos que o povo crê que advogado é juiz
frustrado. Que o sujeito “tem” que advogar pra depois chegar num “grau” mais
elevado. Ledo engano ou infeliz acerto: alguns advogados, realmente não se
esforçam, não estudam e acham que a desonestidade é a melhor forma de aferir
altos rendimentos.
Alguns sujeitos, desde a minha época, fazem
Direito, sem ter noção de onde estão e do que querem. E estes não se tornam nem
advogados, nem promotores, nem juízes. Mas existem exceções. Assim como, o povo
não sabe o perrengue que advogados competentes enfrentam com magistrados que
estudam anos para passar num concurso e, depois, com seu montante fixo por mês,
esquecem-se de estudar. Não confunda advogados razoáveis com advogados bons.
A advocacia, meu caro, constrói jurisprudência,
constrói teses, constrói o Direito. Juízes julgam com base no que os advogados
lhes “levam”, do contrário não fariam nada. Eles são imparciais. É graças aos
bons advogados que a tão esperada justiça, que também é muito dissonante das
leis, tende a, eventualmente, aparecer em alguns processos. Sem advogado, meu
amigo, não existe Justiça, existe arbitrariedade.
Não menospreze o profissional, porque a classe dele
está cheia de rábulas, cabe ao povo valorizar os bons. Cabe a você que critica
a advocacia separar o joio do trigo dentro dela, sem o preconceito
brasileiresco de que só é bom quem é “concursado”. Concursos públicos dão
estabilidade, mas só animam e fazem feliz quem passa porque tem amor ao cargo
que vai exercer.
Ademais, não olvidemos que bons advogados gostam do
risco, dentre os quais aquele de poder ganhar num mês o que um concursado não
ganha num ano, em alguns casos, numa vida. Acredite, bons advogados não amargam
frustração alguma. Estão aonde estão por vontade própria. Assim como bons
juízes, bons promotores e etc.. Competente é o sujeito que faz o que ama, não por
necessidade, mas por gosto. Literalmente.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 23 de julho de 2014.
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