Arrependidos

Arrependidos 

Eu tenho medo de pessoas muito crentes, de pessoas que acham que se ajoelhar e pedir perdão a Deus pelos seus erros lhes deixa imunes ao resultado de seus atos equivocados. 

Existe muita gente que passa a semana fazendo intriga, falando mal de quem pouco conhece pelas costas, criticando a vida alheia, traindo quem lhe cerca e, porque no domingo vai à missa, sente-se liberta do mea culpa que devia ter feito. 

Não raras vezes as pessoas demasiado crédulas não sentem culpa pelos seus erros por muito tempo. Elas contam com a misericórdia divina e, num passe de mágica, estão alegres e de bem com a vida. 

Eu tenho fé. Eu acredito em Deus, todavia, antes de tudo eu acredito que eu devo tomar as melhores decisões e que não basta contar com o perdão de uma entidade invisível. 

Eu acredito que é preciso ter o perdão de quem a gente magoa ou, ao menos, o nosso próprio, mais especificamente eu creio que a gente deveria pensar mil vezes antes de falar ou fazer algo que venha a magoar uma pessoa. 

Todavia, tem gente que peca, que erra feio, que magoa seriamente aos outros e sente-se bem apenas, porque pediu perdão a Deus. Na verdade tem gente que mata, pede perdão e acha que tudo fica bem depois disso. 

Ocorre que eu prefiro gente que sente culpa, gente que se arrepende, gente que chora e se sente mal quando erra, eu prefiro gente que sofre quando age errado ainda que peça perdão ao seu Deus, eu prefiro quem teima em ficar com pesar na consciência. 

Porque só pesa a consciência de quem tem consciência e não de quem tem uma fé cega que lhe permite fazer o que bem entende e sair ileso disso, inclusive interiormente. Mais vale um ateu que pensa antes de agir e se coloca no lugar do outro do que um cristão que não sabe respeitar ao próximo e vive contando com o perdão divino para dormir em paz. 

 Cláudia de Marchi 

 Sorriso/MT, 05 de agosto de 2013.