Desapego

Desapego 

 Enquanto boa parte das pessoas insiste em praticar o desapego, eu gostaria de ter alguém decente, inteligente e humorado a quem me apegar. Essa coisa de “desapegar-se” tem mais haver com medo da decepção do que com o outro e suas fraquezas e você com sua independência emocional e psíquica. 

Se você não se envolve, então não de decepciona, não sofre, não se frustra, todavia, deixa de amar e de viver uma relação por completo e, quiçá, com grande oportunidade de lhe fazer feliz e contente. 

Eu gosto de quem não tem medo de se apegar ao outro, eu gosto de quem não tem medo de amar, eu gosto de quem não sofre por antecipação, de quem sabe se doar por inteiro sem medo dos percalços que o convívio com outra pessoa possa ter. 

Mas, estamos na era do “desapego”, porque estamos na época do “humanizar” coisas e “coisificar” pessoas. Carro, dinheiro e poder tornaram-se mais importantes do que seres humanos. Você usa as pessoas e se envolve com as coisas. 

Você quer ter mais poder, mais dinheiro, melhor status, o carro de ultima geração, mas tem medo de ter a quem amar, tem medo de se apaixonar, de se envolver com alguém e estar envolto por essa pessoa. 

Então se desapega dos seres humanos de forma que, cada vez mais, as pessoas vão se cercando de gente e ficando mais sozinhas. Você tem muitos companheiros para festas, mas quase nenhum amigo, você pode ter muitos parceiros sexuais, mas não tem a quem amar. 

Infelizmente a realidade atual é essa: as pessoas vivem rodeadas de pessoas, enquanto padecem solitárias em seu meio. Não se apegam, não correm o risco de se decepcionar, mas, também não são amadas, valorizadas e bem quistas, realmente. Não conhecem ao outro, mas também não são por eles, realmente, conhecidas. 

São, isto sim, um bando de gente infeliz e frustrada em meio a multidão que lhes acompanha por algum interesse e motivo escuso, mas não lhes ama, porque eles não se deixam amar, porque, da mesma forma, têm medo do amor, por receio de virem a sentir dor. 

Sofre-se por antecipação e terminam sofrendo, posteriormente, por solidão. Não importa se hoje elas não se sentem sozinhas, chegará um dia em que o desapego lhes levará ao sofrimento, a dor e a desilusão. 

Se entregar não é ruim, é algo para pessoas corajosas, para quem não tem o que esconder e possui maturidade suficiente para se apaixonar sem perder-se de si mesmo, para se encantar sem perder o amor próprio. Apegar-se é mérito de poucos: apenas dos que sabem amar sem perder a estima por si mesmos. 

 Cláudia de Marchi 

 Sorriso/MT, 15 de junho de 2013.