Beleza e futilidade
“No mundo atual está se investindo cinco vezes mais em remédios para virilidade masculina e silicone para mulheres do que na cura do Mal de Alzheimer. Daqui a alguns anos teremos velhas de seios grandes e velhos de pinto duro, mas que não se lembrarão para que servem.”
A frase acima, atribuída ao médico brasileiro mais popular dos últimos anos, Dr. Drauzio Varella, embora eu não tenha ferramenta que me dê certeza de sua autoria, posso afirmar que retrata a verdade de uma geração.
A geração da superficialidade e, porque não dizer, a geração da futilidade, onde você é bonito pelos músculos que tem, pelos seios siliconados e artificiais que ostenta em decotes homéricos, pelo corpo artificialmente esculpido.
Foi-se embora a noção de beleza natural, aquela que perdoa um defeitinho em prol de uma atitude natural: um jantarzinho mais farto, um vinho, um chopp, uma batatinha frita, um camarão a beira mar, uma pizza e, também, uma barriguinha, certa "celulitezinha", alguma curvinha “deslocada”.
Não, queremos corpos perfeitos e alimentação eximia. Proteína, zero gordura, zero álcool, zero açúcar, praticamente zero carboidratos e, praticamente, zero prazer. Zero divertimento, zero bom humor, zero ânimo, zero confraternização, zero festinhas, zero reuniões!
Queremos barriga zerada, bumbum liso, duro, firme, “up”, coxas torneadas, pernas desenhadas, cintura fina, seios arrebitados, tudo em ordem no corpo e na mente. Ou será que a mente, mente?
A mente engana, faz de conta que esta tudo bem enquanto se escraviza a futilidades, a necessidade de beleza externa, a necessidade de exibir-se em formas volumosas, ainda que, quando pare para abrir a boca e demonstrar o que existe dentro dela, nada saia, nada flua, nada ocorra, só um imenso vazio, um imenso nada, porém enfeitado e bem vestido.
Bem vestido, ou melhor, sensualmente trajado para demonstrar o que de melhor possui, para mostrar a que veio, para mostrar os dotes nos quais se investiu dinheiro, tempo e ânimo. Para mostrar aquilo a que se valoriza, aquilo que se estima, aquilo que tem valor real para a pessoa.
Enfim, vivemos num mundo em que a aparência tornou-se uma obsessão, em que os padrões de beleza não apenas ditam moda, mas ditam paranoias, ditam obsessões.
Outrora jovens ficavam obcecadas pela magreza das modelos, hoje elas tomam suplementos alimentares e malham aos 13 anos para ficarem com corpo sarado e torneado, estilo “modelo” de programa de quinta (sim, no meu gosto, são e sempre serão programas de quinta categoria, os que necessitam apelar a sensualidade para aumentar sua audiência.)
Enfim, as mulheres, em especial, tornam-se as principais vitimas desta onda de obsessão pela beleza, justamente porque seus padrões são volúveis e elas não se contentam com a sua própria ideia de beleza e bem estar, mas querem se adequar àquilo que as revistas, a televisão, a novela e os jornais “dizem” ser atraente.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 12 de setembro de 2013.
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