Saudade III
É meu povo, tem gente que sente fome, tem gente que sente inveja, tem gente que sente calor, tem gente que sente frio, tem gente que sente orgulho, eu sinto saudades! Sou um poço de sensibilidade e, também, um mar profundo e infinito de saudades.
Sinto saudades de coisas que passaram despercebidas para quem convivia comigo, sinto saudades de cheiros, de sabores, de abraços, de toques, de expectativas que foram frustradas, tenho saudades, inclusive, de criar grandes expectativas!
Tenho saudades da época em que eu achava que o encontro da semana seria com minha “cara metade”, que seria agradável, respeitoso e tudo aconteceria natural e saudavelmente.
E eu que pensava que o que era ruim não pioraria! Vivo numa época amoral, em que a mulher é praticamente constrangida a transar com o homem quando ele quer, em que ela é chantageada emocionalmente para isso no primeiro encontro!
A carência, inerente a qualquer ser humano que vive só, é usada contra ele por predadores afetivos. Enfim, eu sinto saudades de quando eu acreditava do fundo do coração nas pessoas e esperava o melhor delas achando que isso se tornaria real!
Tenho saudades da época em que ler era mais importante do que falar sobre o que se desconhece, saudades da época em que quem ia à Igreja no domingo, tentava, ao menos, policiar a própria língua na segunda-feira. Sinto saudades de gente curiosa, gente que procura informação sobre assuntos diversos em livrarias, bibliotecas, revisteiras ou internet.
Portanto, sinto saudades de gente que tem sobre o que falar, de quem tem assunto! Da mesma forma, sinto saudades do tempo em que pessoas mais velhas e mais vividas recebiam mais respeito e consideração, afinal, não se vive e não se chora em vão. A idade traz amadurecimento ou, no mínimo, experiência de vida.
Enfim, sinto saudades de pessoas que estão distantes dos meus olhos, embora perto e dentro do meu coração, sinto saudades de sonhos e desejos que deixei para trás, tenho saudades da pessoa que eu fui um dia, da energia que tinha, do meu ânimo, da minha inocência e da minha esperança.
A saudade me acompanha tal qual o calor daqui do Mato Grosso. Eu acordo e durmo com ela, creio que façamos uma bela dupla, estou aprendendo a viver com ela, porque muito pior do que viver com a saudade é aprender com a vida que amanha, eu posso sentir falta do hoje, porque o hoje é o que importa. Felizmente? É, eu acho que sim!
Cláudia de Marchi
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