Minhas razões para não parir.
"Claudia você não tem coração! Que tipo de
mulher não quer um bebê!?". Sei lá, eu! O estranho é que já fui apaixonada
e até já pensei em engravidar quando jovem! Como a vida é sábia! Nenhuma paixão
momentânea, irresponsabilidade juvenil e egoísmo justificaria uma
responsabilidade eterna!
Eu quero uma vida cheia de gargalhadas incontidas,
um casamento quente, gemidos altos, domingos de sono sem hora ou motivos para
sair da cama! Eu quero risadas, sorrisos e mordidas, simplesmente porque hoje
eu escolho!
E não, obrigada, se eu quiser alguém dependente de
mim compro um cão ou mais alguns felinos fofos e super independentes com sua
higiene (volto a dizer: cadê os gatos que limpam as suas caixinhas de areia?
Falta pouco para serem perfeitos!). Assim, pelo menos eu salvaguardo minha
liberdade sexual em casa com quem eu venha a chamar de “meu”. Licença, mas ao
quesito “parir” eu pulo, muito obrigada!
As pessoas cercam as mulheres de mitos: se não
tivermos longas melenas, não somos mulheres, se não tivermos filhos, não somos
mulheres, se não casarmos, não somos mulheres, (somos vadias), se não nos
preocuparmos com a aparência de forma (quase) insana, também não somos
mulheres.
Na visão de muitos, as mulheres são objetos ao arbítrio
dos anseios dos homens, de realiza-los na cama, satisfazer-lhes os fetiches,
fingir orgasmos para não lhes ferir ao ego e dar-lhes um filho para justificar
sua gana por trabalho e dinheiro: enfim, dar-lhes um herdeiro oficial para
justificar seus esforços homéricos e constante preocupação com o montante de
dinheiro e bens amealhados.
Vejo pessoas jovens apregoando a maternidade,
pessoas jovens e mal educadas que não sabem, sequer educar os filhos que tem e
sentem um enorme alivio quando alguém deles cuida para poderem transar
insanamente com o namorado ou caçar um sujeito por aí. Quem não gosta de ter
prazer, né?! Sei lá, talvez alguém, enfim.
“Quando você conhecer o homem da sua vida você vai
querer dar um filho pra ele.” Hellllllllllllllllllllllllllllllllo?!!!! O que
uma paixão tem a ver com meu útero e minha capacidade de parir? Há alguns anos
eu achei que tinha encontrado o “homem da minha vida” e era só um cara sexy e
mais velho do que eu com quem me envolvi (inclusive, porque eu tinha “20 e
poucos” e não era balzaquiana). A minha, na época, “paixão da minha vida” teria
sido um péssimo pai, pois nem dele mesmo ele cuidava com maturidade.
Hoje eu seria representante legal de um menor de
idade e, quiçá, nem poderia ter me mudado do RS para o bem do meu filho que
teria o direito de conviver com o sujeito que, sei lá, se seria responsável quando
das tradicionais visitas.
Filhos cerceiam liberdade, cerceiam sono, cerceiam
noites de sexo, tardes de sexo, jantares regados a vinho ou espumante, transas
quentes em “alto volume”, tardes na cama ou na banheira, sexo sem hora pra
acabar, gargalhadas numa noite, “overdose” de filmes, viagens inusitadas,
noitadas com amigos.
Ah, mas sexo e diversão com o marido não é tudo
numa relação! Baby, “nada é tudo”! Você acha que trocar fraldas, perder noites
de sono, mudar sua rotina, amornar sua relação sexual, viver em prol de um
pequeno ser que precisa de você pra comer, se limpar, caminhar e aprender é “tudo”?
“Ah, mas ele vai cuidar da gente na velhice”?! Ah, vá, vá, vá! E os idosos nos
asilos, meu bem!
Caramba, você já reparou como sexo tem se tornado
um assunto vulgar? A maioria vem achando normal “ménage”, troca de casais,
suruba e sei mais o que, mas ninguém coloca a cabeça para pensar o quanto uma
criança amorna uma relação entre um casal e, consequentemente, a leva a tal
ponto de tédio que qualquer “loucura orgiastica” vem a chamar a atenção do
casalzinho de pais. Ah, isso porque “crias” são sagradas, transar com 3 ou 4
pessoas não é rompimento com a lealdade, a fidelidade ou nada que, deveria ser “sagrado”
numa relação a dois.
A filhos você deve amar e dar o seu melhor. Sim, se
você optou por tê-los você deve fazer de tudo para que eles tenham uma vida
boas, imersa em amor, cultura, instrução e felicidade, ciente de que nada disso
irá lhes obrigar a ser reciproco. Você é responsável pelo melhor que fará,
pelos ensinamentos a serem passados, mas não tem, da vida, garantia alguma de
reciprocidade.
Ame, simplesmente ame a seus filhos, mas não os
tenha com o intuito de deles exigir algo. Ter filhos é um ato altruísta, não pode
ser egoísta. “Egoísta é você que não quer ter filhos”, pensa você do alto de
sua bestialidade. Eu já digo que egoísta é parir para não “morrer só”. Eu garantirei
minha clinica, minha vida intensa e feliz, sem precisar trazer ao mundo quem
sequer pediu para nascer com o intuito de escraviza-lo quando eu for a hipossuficiente
da história.
Eu quero viver bem a minha vida com quem venha nela
se inserir. Gastar meu dinheiro comigo, comprar viagens, roupas, cirurgias plásticas
se necessário eu achar para me sentir sempre “atraente”, gostosa e de bem com a
vida. Eu quero ter liberdade para viajar, para ir e vir aonde eu quiser sem ter
que cercear a minha liberdade por alguém.
“Ah, mas este será o alguém mais importante da sua
vida!”. Sim, mas eu não quero ter ninguém mais importante do que eu, minha
felicidade, meus orgasmos, meu corpo e minha felicidade na minha vida. No máximo
um parceiro para viver comigo bons momentos, o resto eu não preciso enquanto
mulher.
Sou uma mulher plena, não preciso parir para me
sentir mulher e, francamente, mas atualmente nem casar eu preciso, alguns gatos
me fazem bem. Homem para ficar comigo tem que ser muito melhor do que “bom” na
cama e fora dela, do contrário, eu sou autossuficiente e, ainda, me “banco”.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 15 de julho de 2015.