O estranho reino da superficialidade.
Vivemos na era em que as pessoas riem quando alguém
lhes manifesta apreço, desconfiam demais, se entregam de menos e perdem excelentes
oportunidades. Tudo porque ter compromisso é temeroso. Podem-se as mais
incríveis intimidades, sexo de todas as formas, prazer a rodo, mas, ah, falou
em coração, falou em sentimento, paixão, bem querer, ah não, ah, daí é demais,
daí da “medinho”!
Vejo que o medo das pessoas em pegar uma DST ou de
engravidar de um estranho ou a uma estranha são menores que o medo de criar
apego, de ir além das vestes, de desvelar a alma. Para o amor, mil desculpas!
Ocupação, distancia, prioridades, tempo, para o superficial, tudo pode, pode
tudo!
A intimidade dos corpos virou comum, banalizou-se,
mas o sentimento não. As pessoas são felizes com a superfície, eu não. Existe
medo de envolvimento e desconfiança, mas só no que diz respeito ao que é sério,
como é o caso do apego, do sentimento.
Eu não nego, fujo do que é superficial, por
conhecer-me. Para chegar ao ponto de eu me envolver de corpo é porque sei que o
resto não será difícil, motivo pelo qual a minha “modernidade” é contida. Não
saio “ficando” por aí, porque não quero me irritar por pouca coisa, digo, por
parco sentimento e pouco coração. Por “pessoa pouca”.
Gosto de entrega, de confiança, de compromisso,
mas, realmente, não procuro quem não me procura, não por pensar que a pessoa é
dessas bestas masoquistas que valoriza o que é difícil ou inacessível, não
menosprezo o ser humano a tal ponto, mas porque acho que, se o outro me conhece
e me deseja, ele tomará atitude.
Na verdade, se eu tenho um “tipo” de homem é aquele
que toma posse, que “chegam chegando”, consciente do que quer e ciente do que
encontrou. Aquele que vê com facilidade o ser especial que conheceu, aquele que
valoriza e, conhecendo o mundo, quer para “si”, quer exclusividade.
Afinal, ao contrário de muitos, eu gosto de quem
gosta de mim e me entrego diante da entrega, do contrário, eu fujo ou não deixo
o sentimento prosperar, porque a vida é muito curta e eu sou muito bonita e
inteligente para nutrir sentimentos de forma unilateral. Existem dias em que
sentimos falta de dar e receber amor! Dias em que queremos ser compreendidos,
acarinhados e cuidados.
Dias em que a gente deseja alguém que se importe,
que pergunte se estamos bem, alguém que diga o quanto curte nossa existência e
não apenas nossa aparência, enfim que não nos diga o que qualquer pedreiro de
pau duro possa nos dizer como sendo "elogioso".
Tem dias que a gente quer ter significado para
alguém, em que queremos considerar e sermos considerados, envolver e sermos
envolvidos, admirar e sermos admirados e não meramente olhados e desejados.
Existem épocas em que desejamos demais e o mundo costuma oferecer o "de
menos". Eis a vida e, sempre, vale o tal de antes só, porque eu, ao menos,
me nego a cair nessa superficialidade toda que tornou a intimidade do corpo tão
banal.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 27 de julho de 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.