Identificação.
Minha mãe era professora, meu pai caminhoneiro com
pouca instrução. Eles se deram bem em 27 anos de casados, afinal ela parou de
lecionar para me educar e viajar com ele, nunca teve amigas e em virtude do
ciúme, legou a vaidade para segundo plano, pois machista: "Seu marido
nunca está em casa, por que ela se arruma tanto?", por receio disso ela
parou de se arrumar e de usar seu extremo bom gosto consigo para fazê-lo
comigo.
Mas, de toda forma nunca alteraram o tom de voz um
com o outro antes da separação e nem após. Ela nunca discordou e, sempre quando
o fez, foi com uma classe digna de uma lady e ele, por sua vez, sempre foi
humorado e educado.
Pra que essa história? Porque apesar de fruto de
uma família constituída por um casal de cultura diversa eu acho essencial
afinidades culturais no amor, na amizade, no convívio!
Nenhuma relação sobrevive calcada em gritantes
distinções de cultura. E o que isso inclui? Valorização do teísmo,
conservadorismo, propagação de ideias patriarcais e machistas, predileções
diversas, de cinema à programas televisivos, de livros à musicas (gêneros
musicais)!
Se a gente pode conviver com os diferentes? Claro,
somos tolerantes, ou seja, os suportamos porque somos educados, não nos metemos
na vida alheia e nem temos porte de arma! Tolerar é algo parco quando se fala
em laços fortes de convívio!
Eu me tornei um ser demasiado seletivo e não trago
mais para minha doce redoma quem possui cultura e educação muito diversas da
minha. Eu gosto de admirar e não sou hipócrita para dizer que eu admiro quem
vive, pensa e cultua coisas que eu não gosto. Respeito, mas não admiro.
Assim como nas redes sociais temos o bloquear e o
excluir, na vida podemos ignorar. Eu ando com gente que pensa de forma
semelhante a minha, não sou falsa com eles, eles não de moldam a mim e podemos
passar uma noite dialogando e dando risada em paz.
Sabe a celeuma dos últimos dias, a do jornalista
que criticou a cultura dos fãs do tal sertanejo universitário e que eu me
posicionei de forma contrária ao mesmo? É pra isso que existem as afinidades culturais,
porque o pensamento exarado por ele frente a uma legião de fãs comovidos não teria
sido inoportuno se feito numa roda de pessoas afins com o ponto de vista dele! Ou
seja, quando temos afinidades culturais com alguém nossos desabafos, por mais
grosseiros que sejam aos outros, fazem sentido e não ferem. Somos compreendidos,
para dizer pouco!
Por isso valorizo pessoas que tem uma forma de ver
a vida semelhante a minha e não chamo isso de narcisismo, mas de identificação!
Com elas eu não preciso conter todas as minhas opiniões com medo de ser
tripudiada ou ofendida, porque, de uma forma ou outra, nossas ideias convergem
e, quando não convergem, a gente tem a cultura da boa educação, a cultura da
finesse que nos impõe calarmos quando nada de bom temos a dizer, que nos impõe sermos
educados e suaves com as palavras. Questão de berço, de educação e, obviamente,
de cultura, de exemplos.
Aos demais, aos diferentes educacional e
culturalmente de mim, deixo o meu respeito e, sempre, o meu "com licença,
muito obrigada". Simples assim, afinal a vida é minha e eu não conservo
uma tez jovem "forçando" minha paciência ou amizade num mundo em que
pensar além de dogmas e paradigmas culturais é exceção! Quer saber? Eu amo
exceções! A regra que me desculpe, mas eu sou gamada mesmo é nas exceções.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 02 de julho de 2015.
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