Espera-se uma pessoa divertida para uma relação séria.
Eu queria ser daquelas pessoas que colocam as
pernas vagarosamente na água sem molhar os cabelos, que medem cada centímetro,
que entram devagarinho no mar, na praia, na piscina e no amor, no sentimento,
na paixão, nos seus relacionamentos. Essas pessoas devem sofrer de pouco a
nada, ah, mas será que tem emoção todo esse zelo? Eu sou tão quente de alma e coração,
esse jeito de ser, infelizmente, não me pertence, por mais que eu o deseje!
Eu queria ser comedida, ser do tipo que não se
importa com comprometimento, mas a minha cabeça tem uma logica insana que é só
dela e, na verdade, nem pretende ser compreendida ou aceita. Acho que ela
aprendeu a ser só dela e corre o risco de envelhecer assim.
Yes, eu gosto de relações sérias e não tenho
vergonha de dizer isso em era de relações “fast foda”, digo, fast food! Mas, não,
eu não as procuro, não sou uma louca procurando namorado, porque independo de
companhia para ser feliz, alegre e bem resolvida. Inclusive sexualmente (sim,
mulheres se masturbam amiguinhos, antes isso do que transar com qualquer
babaca! Aliás, este sempre foi meu lema.) Eu acho que só conseguimos ir à fundo
na vida de alguém, conhece-lo mais profundamente, na medida em que assumimos um
compromisso sério com esta pessoa.
Tem quem tenha medo da palavra “compromisso”, acha
que é um nó no pescoço (coleira, quiçá), um impedimento a sua vida, a
liberdade, um sério problema que irá cercear suas vontades, seu trabalho, sua
rotina, seus sonhos. Tem quem tenha dificuldade em se comprometer, afinal, ser
livre para beijar, dormir, sair, transar e flertar com quem bem entende é
divertido. Fazer planos sem ter que incluir outra pessoa pode ser muito
tranquilo, assim como conhecer vários e não ter nenhum!
O ser humano escolhe o que lhe dá mais prazer com o
menor esforço, é o principio do prazer já narrado pelo grande Freud, o fato é que
nem todo mundo se “realiza” da mesma forma. Todavia o meu conceito de prazer é
muito, muito diferente do da maioria das pessoas. Pessoas modernas ou, simplesmente,
receosas em demasia, não me cabe julgar, porque a exceção da história sou eu.
Eu sinto prazer em poder conversar sobre tudo com alguém,
sobre seus problemas, dores, pesares e alegrias ao termino de um dia, ainda que
por telefone, eu sinto prazer em planejar encontros, finais de semana, viagens,
passeios, jantares. Eu sinto prazer em poder saber que posso contar com alguém para
convidá-lo para o aniversário da minha melhor amiga no próximo mês ou para “fazer
terapia pelas palavras” contando-lhe o “incontável” e ouvindo o que se dispõe a
contar-me. Eu sinto prazer em fazer docinhos pra esperar a visita de alguém e
separar filmes para assistir no final de semana.
Eu sinto prazer em poder apresentar alguém para os
meus pais, em poder receber sua visita quando possível, em poder lhe visitar noutras
vezes, eu sinto prazer em ser só de alguém e ter alguém só pra mim, se
preocupando comigo e estando na minha mente diariamente e nos meus planos,
ainda que singelos. Só que, ao contrario do que parece, eu não sou obcecada ou,
sequer fã da palavra “pra sempre” e nem “casamento”.
Compromisso é do coração, da alma, independe de
distancia, de contrato, de expectativas homéricas. É simplesmente a atitude que
você toma frente ao constatar em alguém que a sua companhia lhe agrada, verbal,
intelectual, física e sexualmente. E eu sou, realmente objetiva, por mais romântica
que eu lhe pareça e, não nego, também seja.
Vejamos: num mundo em que, a cada 15 homens que me
galanteiam, 1 e meio me interessa, eu não tenho objeção em impor o tal do “ou
fode ou sai de cima” para esse ser. Tipo, é raro pra mim gostar de alguém, sei,
também, que sou uma pessoa totalmente atípica, logo, se fiquei, beijei,
transei, lá me vem a questão: ou quer se comprometer ou não quer, simples,
porque pra mim isso é questão de opção, de saber o que se deseja, nada
demasiado complexo ou assustador.
“Ah, mas tem que conhecer mais”. Querida, você
passa uma vida com alguém e nunca vai conhece-lo por completo, ademais, em relação
descompromissada você só tem a parte boa: a janta, o sexo e o “se cuida” na
despedida. Não tem o cuidado, não tem a atenção, não tem o ouvir o outro quando está triste ou
indignado com algo e, pra mim, não tem o “se aprofundar” no outro, o desvelar o
“algo mais” dele.
Ou gosta e ousa assumir, ou tchau! Sexo por sexo, a
gente consegue só de sair a noite com um vestido “sexy sem ser vulgar”, sendo
diferente em relação ao que mais se vê por aí num mundo de mulheres “uniformes”:
roupa curta, quase “ínfima”, decotada, cabelo cumprido e alisado, 1 kg de
maquiagem na cara e “caçando” elogio. É fácil para mulheres diferentes
conseguirem o que elas bem entendem, porque elas despertam curiosidade. Mas então,
é isso que eu, pessoalmente quero? Não, assim como não é uma relação baseada no
“hasta la vista, baby”.
Distancia? Idade? Tempo de conhecimento? Intimidade?
Tudo isso depende só de uma coisa: vontade! Sim, desejo de ter o outro, de se
apossar, de demarcar território, porque encontrou nele uma pessoa valorizável e
que merece um “algo a mais” do que o “até breve” ou coisa assim.
Sim, eu não nego que eu seja estranha, a leitura de
meus textos mais antigos sobre minha predileção por relações sérias deixa isso
claro. Eu acho que a base sólida para qualquer relação não é edificada apenas com
o tempo e com o “step by step”, mas com a vontade de se aprofundar na relação com
o outro e, assim, fazer dar certo. Vontade e desejo são passos essenciais,
capacidade de confiar no sentir do outro também!
Ah, mas tem que durar! Não, tem que ter confiança,
risos, afeto, cumplicidade, parceria, vontade de ficar junto a ponto de superar
toda e qualquer distancia ou impasse. Certa vez, ao terminar um namoro meu ex “da
vez” me disse que eu tinha o “coração de mármore” por estar fazendo aquilo.
Pois, eu nunca esqueci esta frase. Se apaixonar, se
comprometer, assumir um namoro não é assinar um contrato vitalício, não é como
casamento, menos ainda como ter um filho com alguém. A relação tem que ser saudável,
divertida e boa, não obrigatoriamente longa. Então, se deixou de estar boa, por
que continuar? Nada disso me faz ter coração de pedra, só que eu vivo o que me
faz bem até quando me faz bem. Sou objetiva do começo ao fim: “O sentimento é
mutuo, nos gostamos? Ótimo, vamos tentar namorar e fazer dar certo. Muitos
impasses e diferenças constatadas no convívio? Ótimo, siga pra lá que eu sigo
pra cá!”. Não carece, para namorar, sair dizendo “eu te amo” e chamando o outro
de “amor da minha vida”, isso já é doença meu filho!
Se é pra não poder confiar na vontade do outro de
ter-me, então eu fico sozinha e me proporciono paz e, quiçá, a possibilidade de
achar alguém que pense como eu. Sem busca, sem procura, sem pressão e sem
desespero, porque eu não preciso de alguém, eu só acho divertido namorar e ter alguém
no coração e na minha cama com o máximo de assiduidade que for possível.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 09 de julho de 2015.
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