A “culpa” do professor.
Já fui aluna de graduação, pós-graduação e outros
cursos. Agora sou professora, apaixonada pelo meu oficio e vejo pequenas falhas
na conduta dos “recebedores de conhecimento”, os alunos, e comumente lhes chamo
a atenção a respeito: o professor está ali para ser “usado”. Tem mais experiência
prática e teórica que os alunos e está em sala para ensinar.
Mas, infelizmente, os alunos pensam sobre a morte
da bezerra, o velório da andorinha, a doença da pulga e fica em sala, a grande
maioria, apenas de corpo presente. O professor pede para fazerem
questionamentos, eles cruzam os braços, dizem que compreendem quando, na verdade,
estavam pensando no que tem na geladeira em casa para comer, na depilação que
precisam fazer, nas calorias do kiwi, no tamanho dos peitos da professora, se o
professor usa cueca ou não usa.
Eu já fui aluna e meu namorado, 18 anos mais velho
que eu, ocupava meus pensamentos. Só não ocupava as “mãos”, porque há 14 (ou
mais) anos não existia whatssap, facebook e afins!
Todavia, depois de “mil viagens” mentais as
reclamações dos alunos são várias, afinal, mesmo sem “dever” e por ter ouvidos,
ouço reclamações de colegas: “fulana não prende a atenção, porque usa slide”, “sicrana
é devagar”, “beltrano é muito ligeiro” e o tradicional “profe a sua matéria é
muito teórica, chata”. Ouço essas reclamações de alunos de 2º e 3º semestre,
apenas.
Primeiramente, como uma pessoa que está sendo
iniciada no mundo jurídico vai saber o que é “muito teórico” e o que não é? No
direito, amiguinho, teórico mesmo é a “história” disso, a “história” daquilo e,
ainda assim você precisa estudar a história! Direito, criatura é a Medicina da
vida civil das pessoas.
Ah, você não quis fazer Medicina para não ter que
estudar? Então, escolheu o curso errado. Errou, errou feio, errou “rude”! Estudante
de Direito em nível inicial adora aquela coisa de programa jornalístico sensacionalista:
“fulano matou beltrano com dois tiros”, “sicrano roubou fulano e deu uma facada
ferindo-lhe gravemente”. Para acadêmico de Direito, isso é “pratico”.
Só que a universidade forma bacharéis em direito
voltados à advocacia e não promotores de vara criminal, por exemplo. Para chegar
a tal “ponto” a sua história precisará de muitos outros capítulos e, sabe bem
qualquer advogado em inicio de carreira, será necessário entender como nascem
os direitos civis, como se formam as relações jurídicas de pessoa para pessoa,
de pessoa para com “coisas”, como surgem as obrigações e os contratos, assim
como o dever de indenizar e uma série de relações civilistas complexas.
Ninguém é obrigado a gostar desta e daquela
matéria, mas, para reclamar de algum professor ou disciplina, primeiramente é
necessário ser aluno de corpo e mente presente em sala de aula, porque essa
conversa de que a “culpa é do professor” não convence nem formiga em coma.
É preciso ter afinco e prestar atenção dentro e
fora da sala de aula e, sobretudo, é preciso estar “maduro” no Direito, para
saber o que é “pratico” e “necessário” e o que não é, afinal, nos primeiros
semestres de faculdade o que “nunca foi ouvido”, ainda que seja juridicamente
prático, parecerá distante e teórico. E é por isso que se estuda e, mais, é por
isso que trabalhar na área ao longo da faculdade ajuda.
Não reclame, pois, se você não “dá” de si. Empenho e
concentração são fundamentais, em qualquer curso, em qualquer estudo. E o tal
do “mea culpa”, enfim, a analise da sua responsabilidade em relação aquilo que
você reclama, é necessário em todos os aspectos da sua vida, jurídica, afetiva,
emocional, profissional e psíquica. Pense nisso!
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 15 de abril de 2015.
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