Direito de não parir.
Quando eu tinha 19 anos, antes de me graduar em
Direito eu queria ser mãe antes dos 30. Após os 30 eu não quis ser mãe e,
passado um pouco tal idade, eu não quero ser mãe. Eu não sou obrigada a ter um
filho.
Bebês são lindos, mas choram, crescem, ocupam nosso
tempo, nossos deveres, nossa vida. “Ah, você fala isso, porque não chegou aos
40!”. Aos 40 eu quero viajar meu amigo, conhecer o mundo, tomar vinhos caros, fazer
lipoaspiração, colocar silicone, ter o carro que eu quiser e puder (mas que
seja “top”), as bolsas que eu gosto, visitar New York e toda a Itália sem precisar
fazer continha no meu orçamento, sem poupar para comprar fraldas, para pagar
escola e coisas assim.
“Ah, mas você não vai se sentir completa assim!”. Amiga,
eu sou completa. Sou completa no silencio do meu quarto, com meus pensamentos,
estudos, leituras, risadas, programas, com as pessoas com as quais eu convivo e
até sozinha, assistindo seriado num sábado a tarde, lendo um livro num feriado
quente na beira da piscina.
Sou completa com meu amor próprio, com minha cara
refletida no espelho, com minha liberdade e forma de pensar, ser e viver.
Completude você dá para si, não encontra parindo! Parindo você deve, sim,
encontrar um amor e uma grande responsabilidade.
Amor e responsabilidade que eu não sou obrigada a
querer! As pessoas me olham assobradas quando eu falo isso. São preconceituosas
e chamam o (meu) “não querer ter filhos”, o (meu) não querer ter um bebê
chorando a noite e uma criança de 5 anos me fazendo mil perguntas sobre “tudo” (até
quanto estou com milhares de coisas na cabeça) de “maldade”.
Amiguinho, maldade é julgar os outros, porque eles
pensam diferentemente de você. Você que, 9 em 10 vezes, não pensou muito (nem
pouco) antes de ter filhos. Minha vida, meu útero, minha liberdade, meu
comando, meu jeito e, sobretudo, minha felicidade. Está incomodado? Vai atrás da
sua e desapega da vida alheia, criatura!
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 17 de abril de 2015.
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