Beleza e
segurança: o ensinamento da cena de “Felizes para sempre?”
Quando eu falo
em coisificação da mulher, me refiro à supervalorização do belo que leva
inúmeras criaturas do sexo feminino a focar unicamente na estética, em ficar
cada vez mais belas. Belas no conceito da maioria a respeito de belo.
E, assim, esteticamente
lindas, se tornam dependentes de olhares, se amam fisicamente e ao mesmo tempo
desejam ser amadas, mas, não raras vezes, colocam outras virtudes em segundo
plano. Sei lá, cultura, inteligência, senso de humor, leveza, alegria de viver!
Atraem, abrem a boca por mais de 20 minutos e repelem.
Todo mundo,
creio, goste de ser admirado, goste de “causar” impressão positiva. E, antes de
alguém chegar até nós e ouvir o que temos para dizer, vai, invariavelmente,
olhar o que temos para mostrar, obviamente.
Eu, no entanto,
sou meio avessa a extrema valorização da aparência, desde jovem, 99,9% dos meus
relacionamentos, longos ou curtos, se iniciou por alguma forma de interação
virtual. Eu gosto de conquistar pelo que tenho de diferente, não pela beleza,
não pelo corpo. Bunda dura e peito firme, quem não pode ter?
Sempre fui assim
e sempre fui ciente de que pessoas que entabulam relações virtuais, de regra,
são pouco belas, ou se acham pouco belas. Nunca foi o meu caso. Na verdade
desde criança tive um corpo de menina mais velha, nunca gostei de olhares
pecaminosos na minha direção, me sinto constrangida, ou sei lá.
Eu gosto de
poder escolher quem vai me olhar com desejo! Tipo, não gosto que quem não me
interessa fique me “secando”, me chamando de “gostosa” e outros adjetivos
vulgares afins. Eu sou um ser humano esquisito ao extremo, mas, uma coisa eu
noto, eu gosto de mim, não sinto inveja da aparência alheia, por exemplo.
Algumas eu acho linda, outras eu não acho, tenho o meu gosto e estilo de
corpos. Gosto de simetria, elegância, e algo de esguio, Julia Roberts “style”.
O que tanto
lamento com a paranoia da aparência, é que para alguns, ela esta virando tudo!
Ter um corpo atraente (e quando falo em atraente falo a olhares, mormente o do
sexo oposto, esse papo de ficar bonito só pra si é conversa pra boi dormir), às
vezes se torna a meta máxima da vida do individuo. “Eu quero ficar assim,
porque meu marido gosta assim”, dizem algumas.
Ontem uma amiga
virtual me falou que, no salão, ouviu uma mulher dizer “ai, eu acho tão lindo
cabelo curto, queria cortar”, ela disse, então, pra mulher cortar e ela
respondeu que o “marido gosta de melenas longas”, então, a minha amiga disse:
“Então diz pra ele deixar os cabelos crescerem”. Se eu fosse uma pessoa
demasiado mansa e de personalidade muito maleável, possivelmente não estivesse
solteira.
Terminei um
noivado, logo após cometer uma loucura para agradar ao noivo: ele queria que eu
ficasse morena. Pois eu, na época, menos segura e mais romântica, fiquei. Odiei-me.
Já havia ficado morena antes e sempre me amei, mas aquela fez, talvez por ter
feito para agradar, me senti péssima, quase estuprada! Pois gastei quase dois
mil reais em três dias e voltei a ser loira.
Quinze dias
depois terminei o noivado, mais alguns meses depois decidi mudar de cidade e de
Estado e, desde então, percebo em mim uma total ausência de tendência a agradar
aos outros. Se, agradando o outro, eu me agrado, ótimo! Faço! Se não, não faço.
Preocupo-me em agradar a empresa na qual trabalho, ser responsável e competente
profissionalmente.
Todavia, não me
importo em tentar agradar com minha aparência quem deve gostar de mim como sou,
sabe por quê? Porque eu não cobro de namorado que ele emagreça ou engorde, que
ele malhe ou durma mais, eu deixo livre!
Esse é meu jeito
de me relacionar, não estou ligando para o corpo do cidadão, estou ligando para
o que ele sente, como ele me trata e como me agrada entre quatro paredes, se
isso amornar, ele pode estar saradíssimo que eu não vou querer. E, para mim,
essa coisa de tesão não tem muito a ver com a boa forma do parceiro, mas com
algo de “caliente” que está muito além da aparência, está no ato, no beijo, na
pegada.
Enfim, se ter um
corpo forte e definido lhe faz bem, tenha! Se ser magra lhe faz bem!
Mantenha-se ou “seque”! Se ser gordinha e cheia de curvas lhe faz bem, ótimo!
Não deixe, porém o mundo lhe mudar, os conceitos de belo lhe fazer sentir-se
feia, porque conceitos, são só conceitos.
Já tivemos época
em que ser redondinha era sinônimo de lindeza, outras em que ser magérrima se
tornou “moda”, conceitos mudam, o seu autoconceito é que deve lhe fazer bem e
feliz. O que digo, então?! Impossível fugir do anseio pela beleza, eu só desejo
um mundo onde homens e mulheres se sintam mais belos do que anseiem a beleza de
forma doentia e cheia de sacrifícios.
Essa valorização
demasiada do corpo está se tornando algo inatingível como a “felicidade” é para
a maioria, todos falam em ser feliz, em querer ser feliz, mas poucos se sentem
felizes! Certo?! Logo, porque não aceitar suas imperfeiçoes, valorizar seus
pontos fortes e sentir-se belo, sentir-se lindo?!
Sinto que as
pessoas correm atrás de algo que se torna inalcançável, porque quanto mais a
pessoa coloca empenho em ser belo, mais ela tenderá a valorizar demais a beleza
e, consequentemente, a comparar-se com outros e, assim, nunca se sentir
perfeito. Perfeito nos termos da moda, perfeito de acordo com a televisão e
revistas. O que temos é um mundo de artificialismos, onde a beleza natural está
sendo soterrada. Sei lá, eu me confundo com essa história, só acho que exageros
não são saudáveis. E eu não tenho paciência para eles.
Sabe o que a
cena da série com a lindíssima Paolla Oliveira deveria nos ensinar? Não só como
uma bunda linda nos agrada, mas como é sexy e essencial sentir-se segura, se
despir e sair andando na frente do outro. E isso, meu amigo, não depende só do
que você vê no espelho, depende de como você se sente consigo mesmo.
Segurança, ainda
é muito atraente e as pessoas estão carecendo dela, esquecem-se de se amarem,
enquanto buscam o corpo perfeito. Uma coisa, no entanto, é o que você vê
refletido no espelho, outra é como você se sente. Não precisa ser leitora da “Nova”
para saber que existem mulheres lindas e inseguras sobre a própria beleza e
mulheres fora dos padrões seguras de si, ousadas, despudoradas entre quatro
paredes. Essa segurança, aí, na hora da cama faz toda a diferença e, falando
por mim, o homem não precisa ser fisicamente perfeito e ser lento, travado,
amedrontado, pode ser gordinho ou “sequinho”, tendo atitude e segurança, pra
mim esta ótimo! Logo, não basta ter a bunda linda da Paolla, tem que ter a
atitude e autoconfiança da Danny, daí sim a sedução é perfeita. Ah, mas ela é “prosti”?!
E daí?! entre quatro paredes e com quem você confia você pode agir como quiser,
ser quem quiser.
Cláudia de
Marchi
Sorriso/MT, 29
de janeiro de 2015.
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