Desmistificando
a benção da maternidade.
Chega dessa
história de que ser mãe é uma benção. Benção é a vida, benção é viver num
ambiente imerso em amor, respeito e alegria. Ser mãe é uma escolha, não uma
benção do destino. Um “caso” do “acaso”.
Nem todas as mulheres
nasceram para serem mães. Todas nasceram, isto sim, com condições fisiológicas para
serem mães. A maioria, ao menos. A maioria pode ser mãe, mas muitas não podem e
outras tantas não devem.
Sabe aquela
mulher a quem você exclama: “Fulana nasceu para ser mãe!”. Na verdade não se
trata de ela ser vocacionada ou não. Essa mulher é, apenas e tão somente, um
ser humano responsável. Que assumiu com resignação e afeto a responsabilidade
que a maternidade impõe.
Vejo, no
entanto, inúmeras mães de meia tigela, afirmarem com a boca cheia que seus
filhos “são bênçãos” em suas vidas. Mães que, seguidamente, sequer criam os
filhos, mães que, não raras vezes, colocam a criança e não a si mesma em
segundo plano.
E, se tem uma
coisa que as boas mães têm em comum, é deixarem-se, costumeiramente, um pouco
de lado em prol do filho. Elas bebem menos, se divertem menos, saem menos,
dormem menos, comem menos, transam menos, gastam menos com elas, tudo em prol
de seus pimpolhos. Eu admiro!
Claro, não se
trata de um sacrifício homérico. Ao menos, não para elas. Eu não tenho tal
preparo e nem fiz a escolha de ser mãe e, em minha modesta opinião, filhos
devem ser fruto de opção, não de acidente. Mas, se assim forem, que a
responsabilidade predomine.
Que a consciência
de que o filho vai gritar mais “mamãe” do que “papai” predomine, em que pese o
ensinamento pelo “chamado” do pai deva ser imposto, afinal, mulheres não geram
uma vida sozinhas. Pais existem e devem assumir sua responsabilidade tal qual a
mãe.
Não aceito e nem
vejo com bons olhos, porém, afirmativas que dizem que um filho não limita a
vida dos pais, nem a muda. Sabe o brocardo que diz que ser mãe é “padecer no
paraíso”? É verdade. Tem-se alguém a quem amar mais que a si mesmo, alguém pelo
qual se daria a vida, mas existem inúmeras limitações, inúmeras mudanças e inúmeras
obrigações. Não admito ouvir o oposto, ou melhor, admito, mas vejo hipocrisia
estampado na cara de quem me fala.
Para mim, ter
saúde é uma benção, ter uma profissão é uma benção, ter o que comer é uma
benção, poder dormir a noite é uma benção, conforto é uma benção, internet é
uma benção, dinheiro é uma benção, amar e ser amado é uma benção. Benção essas
que dependem mais de nossas opções do que de qualquer “milagre”.
Outro dia uma
amiga sugeriu que outra, com 42 anos, corpo de 20, uma filha de 15, se
encontrasse um grande amor, deveria ter um bebê! Gente, qual o problema desse
povo!? Poder ela pode, em especial nos dias de hoje, mas que mal tem só viver o
grande amor, viajar, fazer muito sexo, tomar alguns pileques, investir em
conforto com o parceiro, sem ter um baby para cuidar, na melhor fase da vida?! Nenhum.
Sei lá, me
parece que as pessoas tem “fetiche” pela reprodução da espécie, como se ser mãe
fosse fundamental, fosse obrigação, algo rudimentar. Bebês são lindos, fofos,
encantadores! Mas eles crescem e as responsabilidades permanecem. Sejamos francas
conosco mesmas: é possível ser plenamente feliz sem ter um filho!
Logo, ser mãe
também é uma escolha. Uma opção. E não ser mãe, para quem não quer ser mãe,
também é uma benção cujos benefícios não careço enumerar. Sempre digo que a
mulher saudável pode ser mãe quando quiser, investindo o dinheiro que quiser,
talvez. Basta que deseje e seja responsável pela escolha tomada!
Se ela não tem,
é porque não quer, então não me venha com essa ostentação de “bênçãos” que eu tenho
algo a lhe dizer: poder fazer o que bem entendo quando entendo por bem faze-lo
é uma benção, poder dormir 12 horas seguidas se eu quiser sem me preocupar em
alimentar ninguém é uma benção, poder beber vinho até adormecer e namorar sem
conter gemidos e gritos é uma benção, poder falar sobre o que eu quero sem
conter verbos e palavras é uma benção, poder trabalhar a carga horária que eu
desejar é uma benção, gastar só comigo e com meus livros o quanto eu quiser, não
ter responsabilidade pela vida de ninguém, também é uma benção! Menos hipocrisia
e mais assunção de responsabilidades, certo!? Acho digno.
Cláudia de
Marchi
Sorriso/MT, 20
de janeiro de 2015.
Como eu entro em contato com a senhora feminista?
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