Sobre o verdadeiro pecado!

Sobre o verdadeiro pecado!
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Desmistificando a benção da maternidade.

Desmistificando a benção da maternidade.

Chega dessa história de que ser mãe é uma benção. Benção é a vida, benção é viver num ambiente imerso em amor, respeito e alegria. Ser mãe é uma escolha, não uma benção do destino. Um “caso” do “acaso”.
Nem todas as mulheres nasceram para serem mães. Todas nasceram, isto sim, com condições fisiológicas para serem mães. A maioria, ao menos. A maioria pode ser mãe, mas muitas não podem e outras tantas não devem.
Sabe aquela mulher a quem você exclama: “Fulana nasceu para ser mãe!”. Na verdade não se trata de ela ser vocacionada ou não. Essa mulher é, apenas e tão somente, um ser humano responsável. Que assumiu com resignação e afeto a responsabilidade que a maternidade impõe.
Vejo, no entanto, inúmeras mães de meia tigela, afirmarem com a boca cheia que seus filhos “são bênçãos” em suas vidas. Mães que, seguidamente, sequer criam os filhos, mães que, não raras vezes, colocam a criança e não a si mesma em segundo plano.
E, se tem uma coisa que as boas mães têm em comum, é deixarem-se, costumeiramente, um pouco de lado em prol do filho. Elas bebem menos, se divertem menos, saem menos, dormem menos, comem menos, transam menos, gastam menos com elas, tudo em prol de seus pimpolhos. Eu admiro!
Claro, não se trata de um sacrifício homérico. Ao menos, não para elas. Eu não tenho tal preparo e nem fiz a escolha de ser mãe e, em minha modesta opinião, filhos devem ser fruto de opção, não de acidente. Mas, se assim forem, que a responsabilidade predomine.
Que a consciência de que o filho vai gritar mais “mamãe” do que “papai” predomine, em que pese o ensinamento pelo “chamado” do pai deva ser imposto, afinal, mulheres não geram uma vida sozinhas. Pais existem e devem assumir sua responsabilidade tal qual a mãe.
Não aceito e nem vejo com bons olhos, porém, afirmativas que dizem que um filho não limita a vida dos pais, nem a muda. Sabe o brocardo que diz que ser mãe é “padecer no paraíso”? É verdade. Tem-se alguém a quem amar mais que a si mesmo, alguém pelo qual se daria a vida, mas existem inúmeras limitações, inúmeras mudanças e inúmeras obrigações. Não admito ouvir o oposto, ou melhor, admito, mas vejo hipocrisia estampado na cara de quem me fala.
Para mim, ter saúde é uma benção, ter uma profissão é uma benção, ter o que comer é uma benção, poder dormir a noite é uma benção, conforto é uma benção, internet é uma benção, dinheiro é uma benção, amar e ser amado é uma benção. Benção essas que dependem mais de nossas opções do que de qualquer “milagre”.
Outro dia uma amiga sugeriu que outra, com 42 anos, corpo de 20, uma filha de 15, se encontrasse um grande amor, deveria ter um bebê! Gente, qual o problema desse povo!? Poder ela pode, em especial nos dias de hoje, mas que mal tem só viver o grande amor, viajar, fazer muito sexo, tomar alguns pileques, investir em conforto com o parceiro, sem ter um baby para cuidar, na melhor fase da vida?! Nenhum.
Sei lá, me parece que as pessoas tem “fetiche” pela reprodução da espécie, como se ser mãe fosse fundamental, fosse obrigação, algo rudimentar. Bebês são lindos, fofos, encantadores! Mas eles crescem e as responsabilidades permanecem. Sejamos francas conosco mesmas: é possível ser plenamente feliz sem ter um filho!
Logo, ser mãe também é uma escolha. Uma opção. E não ser mãe, para quem não quer ser mãe, também é uma benção cujos benefícios não careço enumerar. Sempre digo que a mulher saudável pode ser mãe quando quiser, investindo o dinheiro que quiser, talvez. Basta que deseje e seja responsável pela escolha tomada!
Se ela não tem, é porque não quer, então não me venha com essa ostentação de “bênçãos” que eu tenho algo a lhe dizer: poder fazer o que bem entendo quando entendo por bem faze-lo é uma benção, poder dormir 12 horas seguidas se eu quiser sem me preocupar em alimentar ninguém é uma benção, poder beber vinho até adormecer e namorar sem conter gemidos e gritos é uma benção, poder falar sobre o que eu quero sem conter verbos e palavras é uma benção, poder trabalhar a carga horária que eu desejar é uma benção, gastar só comigo e com meus livros o quanto eu quiser, não ter responsabilidade pela vida de ninguém, também é uma benção! Menos hipocrisia e mais assunção de responsabilidades, certo!? Acho digno.


Cláudia de Marchi

Sorriso/MT, 20 de janeiro de 2015.

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