Obrigações femininas.

Obrigações femininas.

Sei lá, ando tão revoltada com essas obrigações que as mulheres andam se impondo para serem bem vistas pelos homens, para serem desejadas e mais sexys que a concorrência que meu nojo, daqui a pouco, vai me levar a raspar a cabeça!

As mulheres que sempre lutaram por seus direitos, independência e etc., porém chegaram ao novo século impondo-se algumas obrigações que subentendem necessidade demasiada de agradar aos homens, sei lá, algo meio retrogrado e incoerente para o meu gosto.

É preciso engrossar as coxas, aumentar a bunda, afinar a cintura, deixar os lábios mais carnudos, o cabelo mais longo e claro, os seios maiores, a pele mais bronzeada, o rosto mais maquiado e tudo isso em evidencia. Gritante evidencia.

Tudo, inclusive, sob pena, de ser deixada pelo marido aos 45 ou 55 anos por uma moça mais jovem e com tudo em cima. Ops, em cima do que os homens fantasiam e desejam de tanto ver revistas cheias de mulheres corrigidas por programas de computador e programas com garotas que vivem do corpo para se sustentarem.
Vi uma reportagem/crônica que fala sobre a esposa do galã Pierce Brosnan que engordou com o passar dos anos. Os “tabloides” o chamam de corajoso e a esposa de “controversa”, porque não segue padrões. É gorda, enfim. Achei um absurdo revoltante que me atirei numa panela de molho de cachorro quente para amenizar meu asco.
E se o homem e não a esposa engordar? E quem disse que ser gordo é ser feio? E quem disse que só os magros são felizes e tem orgasmos? E quem disse que é impossível amar quem foge dos padrões de beleza impostos pela mídia e afins? Quem disse que amor é descartável e com prazo de validade correlacionado a magreza e idade do parceiro?

E quem disse que o amor precisa de um corpo novo e lindo para se manter? Quem disse que a gente não ama mais o que ouve e o que sente do que aquilo que enxergamos?
Quem disse que a mulher também não nota que até as partes intimas do parceiro tendem a cair, mas, mesmo assim, se mantem encantada por ele em virtude de outros “atributos”, mormente os afetivos e mentais? Sei lá, acho bom refletir.

Conheço muita gordinha feliz e mais carinhosa, afetuosa e sexualmente bem resolvida do que muita rata de academia, com corpo lindo, cérebro atrofiado e afetividade nula. Sei lá, quem disse ser magro é o melhor que podemos ser? Eu não. Com certeza. 
Ademais, por que só eles podem nos trocar quando envelhecemos e engordamos e nós não? Devemos aceita-los barrigudos e sexualmente desprivilegiados? Ah, somos objetos, lembrei!

Quem disse que precisamos ser gostosas, que precisamos ser turbinadas, loiraças, bronzeadas, com pernas grossas e saradas? A gente é e pode ser muito mais do que isso e se, assim, não tocarmos o coração de quem desejamos ou de alguém do sexo oposto é porque, apesar da nossa inteligência e cultura, estamos escolhendo mal nossos pretendentes. Homem fútil, merece mulherzinha fútil. Nada além.

Cláudia de Marchi

Sorriso/MT, 20 de janeiro de 2015.