Há alguns anos
atrás eu procurei uma psicóloga. Eu já havia pagado dois processos de habilitação
de CNH e não tinha passado das aulas teóricas. Existiam motivos, mas obviamente
(e idiota nunca fui), com algum fundo de celeuma psicológico.
Nesta mesma
época meus pais estavam se divorciando, eu namorava o homem mais complicado que
conheci (meu ex-marido) e nutria uma série de arrependimentos. Pessoalíssimos,
por não ter encarado uma ex-sogra carrasca e causados pela minha família que
dizia que eu não pedi para meu pai ficar com minha mãe. Algo que sempre achei
muito humilhante para ela, minha mãe. E nunca fiz, na verdade. Ele me disse que
não a queria mais. E a minha mãe não merecia, nem merece esmolas de ninguém.
Mas, enfim, eu
tinha uns 23 anos neste período. Meu namorado na época tinha 40 anos. Era ele
o, hoje, meu ex-marido, 17 anos, mais velho do que eu, em excelente forma e
rosto de 30 aninhos, não nego.
Confesso que
minha competente psicóloga- o que de mais útil fiz por mim- frisava a
necessidade de “cuidado” que eu tinha. Necessidade que não era suprida. Meu pai
separou-se da minha mãe e de mim.
Uma jovem que
sempre foi criada na barra da saia dos pais, das tias, que nunca aprontou. Uma jovem
que tinha a experiência de vida sexual de uma menina de 15 anos naquela época. Só
fez estudar e se apaixonar por sujeitos errados. Que a amaram, mas eram
errados. E o pai sumiu mundo a fora e deixou a mãe e todos os seus sonhos e
planos frustrados. E ela junto, sem ter sequer uma visita! Era complexo, meio
triste, enfim!
Então, a cada
reclamação do meu ex, a minha competente psicóloga falava em “cuidado”. O fato
é que nunca admiti que eu precisasse ser cuidada. Sei lá, deitada no colo,
acarinhada, compreendida e amada. Talvez eu precisasse disso tudo, mas não sabia,
ou não admitia.
Vejo que tudo
que eu fiz na vida foi cuidar, nunca foi ser cuidada. Tive um ex-namorado que
tentava me cuidar, mas os problemas com a mãe psicótica dele eram tantos que não
dava tempo e nem tínhamos paz para ele me cuidar. E, na verdade, naquela época,
eu não me sentia só, nem desiludida. Meus pais pareciam muito bem casados, em
que pese o oficio carrasco de papai (caminhoneiro).
Tudo complicou
com a separação. Em que ninguém via minhas fragilidades, minha dor. Eu, sem
irmão, era um nada no mundo. Sentia-me quase um estorvo e namorava um homem que
via seus problemas com lente de aumento. Mas, em função do medo, eu não o
largava de vez. Largava de vez em quando, não em definitivo.
E, assim, na
fase em que mais precisei, ninguém cuidou de mim. No entanto, até hoje, existem
dias, em que ouço algumas coisas, em que converso com meu pai, verifico Concluo
que sentir-se só é precisar de cuidado. Eu sei que nunca baixei a guarda e que
nunca fui cuidada. Tive beijos, orgasmos, algum carinho, mas nunca tive alguém que
me fizesse crer que eu poderia lhe contar tudo sobre mim, tudo sobre minhas
dores, e contar com sua presença sem tédio, sem vontade de fugir.
Afinal, é fácil
se atrair por alguém, bem fácil dizer que adora, que sente saudade. Sabe o que
é difícil e complicado mesmo? Adorar e sentir saudade! Se importar, se
preocupar, pensar se a pessoa está bem, se ela não precisa de um abraço, de uma
ligação.
Seguidamente não
queremos consolo, não queremos solução, queremos, apenas, nos sentir abraçados.
Ver que alguém neste mundo se coloca no lugar da gente, tem empatia, vê nosso
esforço, valoriza nossa boa vontade.
Enfim, às vezes
tudo o que a gente precisa é se sentir valorizado. É ter alguém que diga:
“Minha querida, você se esforça muito, fica tranquila que a vida será justa com
você”. Sem mais, sem menos. Um abraço dado em palavras e outro dado
pessoalmente, isso pode bastar. Isso é cuidar!
Enfim, era de
cuidado! Era disso que eu carecia e a minha psicóloga sabia bem! Estar com alguém,
ouvir, conhecer, compreender, acarinhar, beijar, conversar, por mais triste que
seja o assunto, por mais “nada a ver” que tenha conosco é o tal do “cuidado”. Sem
previsibilidade, mas um afeto sincero e despretensioso. Algo que, enfim, pouco
conheço. Mas sei dar, infelizmente. Ou não.
Cláudia de
Marchi
Sorriso/MT, 18
de fevereiro de 2015.
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