Do machismo ao feminismo.
Hoje pela manha assisti um pedaço do programa “Encontro”
na Rede Globo. Foi apresentado, pelo que vi, pela segunda vez, o caso de uma
jovem molestada dentro de um ônibus a caminho da escola que, corajosamente,
pediu ajuda ao pai e foi socorrida.
A apresentadora narrou que dentre as inúmeras manifestações,
as quais, confesso, não acompanhei, muitas indagavam a respeito da roupa que a
jovem estaria usando para tal ato acontecer. Tive uma criação machista, não nego.
Meu pai, caminhoneiro, gaúcho, turrão como a
maioria dos homens da geração dele. Seguidamente, quando ouvíamos alguma noticia
ele se referia as roupas das vitimas. E dizia para mim que tinha que me vestir “decentemente”
para evitar determinadas ocorrências, que não podia “dar sopa para o azar”. Eu sempre
comentava com minha mãe: “Mãe, se o pai pensa assim ele tem a mente suja.” Ela
dizia que ele era homem e que a maioria dos homens pensa assim: “A culpa é
sempre das mulheres.”
Cresci e custei a me desapegar do machismo. No
Direito Penal, a primeira paixão de todo acadêmico de Direito, me tornei uma fã
de vitimologia, uma ciência que estuda o comportamento das vitimas. Tenho um
livro inclusive, feito por um juiz cujas sentenças são pérolas do machismo.
Acredite, minha monografia de final de curso na UPF
foi sobre isso, mas mais “light”, apenas sobre relativização da presunção de violência
nos casos em que a vitima, menor de idade, tinha relações voluntárias com um
homem.
Hoje em dia o Código Penal evoluiu e a
interpretação jurisprudencial a respeito, tanto quanto, porém não como deveria.
Todavia, fato é nos casos em que não há consentimento, eu não aceito que roupa,
falta de roupa, cumprimento de roupa, embriaguez ou o que for justifique um
comportamento depredador da sexualidade feminina.
Na real, eu acho nojento até um “oh, gostosa” na
rua. Quem tem que me chamar de gostosa é meu namorado, meu marido, não um
desconhecido qualquer. Eu não estou à venda, não sou uma coisa e nem comida
para ser apreciada vulgarmente por quem não é de mim intimo, porque eu não quero
que seja! Por quem não consegue conter a própria libido, o próprio instinto
animal ou sei lá eu o que!
Isso tudo não é mero machismo, é covardia, é doença
e enquanto eu existir não aceitarei. “Não” é e sempre será não! “Para” é e
sempre será para! Não importa se a “ocasião” esteja permissiva, se a mulher não
quer, é estupro. Se ela diz não, é estupro. Se ela chora, é estupro. Se ela está
bêbada é estupro, se ela está adormecida é estupro. Pronto. Não tem
justificativa, existe crime. Chega de a mulher ser culpada por exercer seu
direito de se vestir como bem entende, de rir, de se divertir, de dançar.
Chega de mulheres julgarem as outras mulheres que
são mais livres como quem julga um criminoso, isso só faz, diga-se de passagem,
fomentar o machismo, fomentar atos abusivos de homens irracionais, incluindo
crimes, incluindo o próprio “mau julgamento” que eles fazem de todas as
mulheres que tenham uma conduta independente.
Sinceramente? Cheguei a um ponto em que eu até
relevo homem com ideias machistas, mas mulheres? Arre, passem longe de mim, por
favor! Ou então, se aproximem, mas tenham a consciência que, se eu fosse Deus,
ia fazer vocês passarem por uma situação vexatória e usurpadora de si mesmas
para aprenderem a não ser ignorantes. Porque, sinceramente, merecem!
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 06 de março de 2015.
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