Pessoas más “de bem”.
Se confiar no perdão de Deus e na salvação faz com
que as pessoas cometam atos estúpidos, maldosos e hediondos sem muito pensar,
então eu queria um mundo de descrentes, mas cheio de pessoas que agem bem umas
com as outras sem temer a uma entidade que, no fim das contas, lhes “salva”.
Lhes “salva” e eles podem viver livremente. Casam-se,
tem filhos, afinal, estão perdoados, estão salvos, são “novos” seres. Sou uma
pessoa que acha que somos o resultado do que fizemos, assim como somos o que
outrora fizemos, sou uma pessoa que é a favor da culpa enlouquecedora, da
depressão e da tristeza em quem fez algo do qual deva se arrepender. Acho que o
inferno é padecer de arrependimento, acho que quem maltrata deve ser maltratado
pela própria consciência (se tiver uma).
Aquilo que corrói por dentro quem errou e,
efetivamente, se arrepende. Esse povo que comete atrocidades e se sente
perdoado, esquece a culpa, pois, se Deus os perdoou, eles estão abençoados. Não
gosto disso. Confesso que isso me incomoda e até preocupa.
Acho que dignidade, bondade, ética e moralidade
independem de fé, de doutrina religiosa. Pessoas boas não fazem aos outros o
que não querem que elas lhes façam. Pessoas boas fazem coisas más sim, mas se
arrependem delas, sofrem por elas, independente de sua “salvação” espiritual, que
funciona quase como um salvo conduto para uma vida feliz e, quiçá, para reincidência
em erros.
Você também é quem você foi, você também está no
que você fez, inclusive no mal. Não concebo uma pessoa conseguir dormir a
noite, só porque Deus os salvou. Se isso é valido para que muitos não errem
novamente? É possível. Tem gente que só funciona e age bem quando obrigado por
alguma religião. E essas não são pessoas boas, meu caro, são marionetes.
Quem é bom não precisa sequer ir à missa para agir
bem, não precisa ler a bíblia, não precisa ter horror a sexo, álcool e afins,
porque, quer saber? O que você bebe, o quanto bebê, o quanto come, o quanto
transa não define seu caráter, sua moralidade, sua decência, sua alma.
As risadas que você dá, os beijos que você dá, a
cerveja que você bebe, o sexo que você faz não definem seu coração, sua
bondade, sua pureza. O quanto você julga mal, o quanto você vê maldade e faz
maldades, sim. A maldade está na mente, não na diversão e no prazer humano.
Falar mal dos outros pelas costas, criticar a
conduta alheia, ser falso, ser mentiroso, “intriguento”, invejoso, olhar com
desdém para o humilde, achar-se superior aos outros, mais justo, mais sábio,
mais digno, ser orgulhoso e, enfim, cometer delitos, mas ir orar toda semana não
faz de você um ser humano melhor. Pelo contrário, lhe faz hipócrita, errante e
pior do que aquele para quem você aponta seu dedo.
Quem é bom não está nem aí na vida do outro, só
quando for para ajudar, engrandecer, auxiliar. Quem é bom pensa antes de
julgar, de criticar e de menosprezar quem nele confia, quem é bom, pode errar,
mas não é orgulhoso, arrogante ou mentiroso. Quem é bom se arrepende, pede
perdão a quem feriu e, às vezes, nem consegue se perdoar.
Quem é bom, neste momento estará sentindo
arrependimento por ter feito alguém sofrer, por ter causado intriga, por ter
magoado alguém ou feito coisa pior, quem não é, estará pedindo perdão a Deus, sem
fazer mea culpa algum, virando para o lado e pegando no sono. Pessoas boas
exigem o bem de si mesmas antes de exigir dos outros. E se indagam. Cobram-se. Questionam-se
e tentam, a cada dia, agir de forma mais justa.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 19 de março de 2015.
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