Pequeno manifesto contra a coisificação feminina.
Então né?! A minha geração foi vitimada pelos
recursos visuais, por exemplo, o tal Photoshop. Uma mulher de verdade, meu
amigo, nunca será o que uma imagem de revista é. Nunca, jamais!
Por mais linda que a gente possa ser, a gente vai dobrar,
se pressionar a gente tem celulite, se sentar não vai ficar reta e, até a bela
imagem de uma bunda pra cima não será tão “ajustadinha”, tão certinha e
perfeitinha quanto a bunda da mulher na revista ou na televisão. Seja ela quem
for.
E isso não quer dizer que a sua namorada é feia e
que a “fotografada” é perfeita: ambas são mulheres, ambas incham, desincham,
engordam, emagrecem, peito aumenta, peito diminui, celulite some, celulite
volta. Acontece que só a da revista é que você viu num papel, não apalpou, não apertou,
não subiu em cima, não pressionou. Só isso, nada além.
E nos filmes? Pois é, meu amigo, recurso de imagem
agraciam câmeras de vídeo também. Enfim, estamos vivendo o mundo que ovaciona o
irreal, impalpável e inexistente. Nós mulheres, sobretudo, somos as maiores
vitimas desta indústria, afinal, valendo-se do chavão de que “homens são seres
visuais” a mídia explora esse aspecto e, para ter “audiência”, utiliza nossos
corpos.
Nossos corpos modificados, nossos corpos “redesenhados”
e nos torna, nós mesmas, de carne, osso, músculos e gordurinhas mal
localizadas, seres descontentes, seres que se olham no espelho e não gostam do
que veem, enquanto o marido espera na cama depois de ter pegado uma revistinha
nas mãos e visto uma pele viçosa, sem olheiras, um corpo simétrico, sem marcas,
sem, enfim, nada de “humano”.
Ou, então, viu uma cena de novela cuja atriz
aparece linda, com o quadril num tamanho perfeito e você lá, achando que dava
para “construir” outra mulher com o seu! Coincidentemente o aumento de
cirurgias plásticas entre as mulheres se popularizou na era dos recursos de vídeo
e fotos.
Silicone nunca foi tão comum! De cada 10 mulheres
que conheço 7 tem! E, o que é pior, ninguém mais acredita na autenticidade de
corpos. Ou comprou o peito, ou comprou a bunda, ou comprou a coxa, ou remodelou
o “shape” todo. O autentico e natural estão a tal ponto raro que nos assusta!
Sei lá, eu gostaria de concitar uma revolução
feminina sim! Gostaria que as mulheres do mundo se virassem contra essa “coisificação”,
só porque machinho se excita com imagens. E, para nós? A gente precisa desses
recursos para que? Não é melhor ver que a Beyoncé também tem uma pele com
eventuais imperfeições, não é melhor saber que o que distingue a gente das
celebridades é só o oficio e não um monte de recursos de imagem cujo uso é
praticamente doentio?
“Fulana foi eleita a mulher mais linda do mundo”!
Arre, do mundo em que ela vive, né!? Ou vão me dizer que cada mulher nesse
vasto planeta foi analisada numa pesquisa dessas? A fulana que ganhou fez
plástica no corpo todo, a fulana passa 3 horas diárias se exercitando, não bebe,
não come gordura e faz tratamento estético anticelulite 4 vezes na semana.
A fulana injeta produtos, a fulana não ingere
sódio, a fulana não come glúten. E, ainda, a fulana quando aparece pelada ou
seminua tem mil recursos para “abrilhantar” sua beleza conquistada a custos de
investimentos que somam o seu (seu mesmo, não o dela!) salário mensal.
Sim, eu pugno por um mundo em que não sejamos
afogadas com imagens irreais, pugno por um mundo em que a naturalidade seja
ovacionada, sem recursos, sem “efeitos” (só os de cor, eu adoro efeitos de
cor!), sem aumentar o traseiro, diminuir o abdômen e aumentar a “lordose” da “sujeita”.
Pugno por uma mídia realista, que pare de investir
no machismo usando corpos femininos para arrecadar dinheiro. Sei lá, isso vem
desde antes de eu nascer né?! Tinha as tais assistentes de palco na televisão e
assim por diante, revista de mulher pelada e tal. Bem, o negócio é antigo, a
coisificação vem de séculos, mas, a vulgarização de imagens manipuladas nem
tanto.
De toda forma, eu pugno por um mundo em que a
mulher seja reconhecida pela inteligência, pugno por um mundo em que antes de
mais nada, sejamos respeitadas pelo que temos embaixo de nossas longas melenas:
um mundo de ideias mais longas e inalcançáveis que as pontas de nossos cabelos.
Pugno por um mundo em que não existam criaturas
rebolando na televisão só para dar “ibope” e fazer papel de “burra”, pugno por
um mundo em que nós mesmas não nos coisifiquemos, em que pese, todos os dias, a
sociedade nos cobre um “capricho” a mais na aparência, pois, do contrário, não atrairemos
olhares. Como se precisássemos disso para sermos nós! Vem, vou parar por aqui,
antes de me tornar ainda mais repetitiva e prolixa.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT,
10 de março de 2015
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