Sobre o verdadeiro pecado!

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"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

terça-feira, 10 de março de 2015

Pequeno manifesto contra a coisificação feminina.

Pequeno manifesto contra a coisificação feminina.

Então né?! A minha geração foi vitimada pelos recursos visuais, por exemplo, o tal Photoshop. Uma mulher de verdade, meu amigo, nunca será o que uma imagem de revista é. Nunca, jamais!
Por mais linda que a gente possa ser, a gente vai dobrar, se pressionar a gente tem celulite, se sentar não vai ficar reta e, até a bela imagem de uma bunda pra cima não será tão “ajustadinha”, tão certinha e perfeitinha quanto a bunda da mulher na revista ou na televisão. Seja ela quem for.
E isso não quer dizer que a sua namorada é feia e que a “fotografada” é perfeita: ambas são mulheres, ambas incham, desincham, engordam, emagrecem, peito aumenta, peito diminui, celulite some, celulite volta. Acontece que só a da revista é que você viu num papel, não apalpou, não apertou, não subiu em cima, não pressionou. Só isso, nada além.
E nos filmes? Pois é, meu amigo, recurso de imagem agraciam câmeras de vídeo também. Enfim, estamos vivendo o mundo que ovaciona o irreal, impalpável e inexistente. Nós mulheres, sobretudo, somos as maiores vitimas desta indústria, afinal, valendo-se do chavão de que “homens são seres visuais” a mídia explora esse aspecto e, para ter “audiência”, utiliza nossos corpos.
Nossos corpos modificados, nossos corpos “redesenhados” e nos torna, nós mesmas, de carne, osso, músculos e gordurinhas mal localizadas, seres descontentes, seres que se olham no espelho e não gostam do que veem, enquanto o marido espera na cama depois de ter pegado uma revistinha nas mãos e visto uma pele viçosa, sem olheiras, um corpo simétrico, sem marcas, sem, enfim, nada de “humano”.
Ou, então, viu uma cena de novela cuja atriz aparece linda, com o quadril num tamanho perfeito e você lá, achando que dava para “construir” outra mulher com o seu! Coincidentemente o aumento de cirurgias plásticas entre as mulheres se popularizou na era dos recursos de vídeo e fotos.
Silicone nunca foi tão comum! De cada 10 mulheres que conheço 7 tem! E, o que é pior, ninguém mais acredita na autenticidade de corpos. Ou comprou o peito, ou comprou a bunda, ou comprou a coxa, ou remodelou o “shape” todo. O autentico e natural estão a tal ponto raro que nos assusta!
Sei lá, eu gostaria de concitar uma revolução feminina sim! Gostaria que as mulheres do mundo se virassem contra essa “coisificação”, só porque machinho se excita com imagens. E, para nós? A gente precisa desses recursos para que? Não é melhor ver que a Beyoncé também tem uma pele com eventuais imperfeições, não é melhor saber que o que distingue a gente das celebridades é só o oficio e não um monte de recursos de imagem cujo uso é praticamente doentio?
“Fulana foi eleita a mulher mais linda do mundo”! Arre, do mundo em que ela vive, né!? Ou vão me dizer que cada mulher nesse vasto planeta foi analisada numa pesquisa dessas? A fulana que ganhou fez plástica no corpo todo, a fulana passa 3 horas diárias se exercitando, não bebe, não come gordura e faz tratamento estético anticelulite 4 vezes na semana.
A fulana injeta produtos, a fulana não ingere sódio, a fulana não come glúten. E, ainda, a fulana quando aparece pelada ou seminua tem mil recursos para “abrilhantar” sua beleza conquistada a custos de investimentos que somam o seu (seu mesmo, não o dela!) salário mensal.
Sim, eu pugno por um mundo em que não sejamos afogadas com imagens irreais, pugno por um mundo em que a naturalidade seja ovacionada, sem recursos, sem “efeitos” (só os de cor, eu adoro efeitos de cor!), sem aumentar o traseiro, diminuir o abdômen e aumentar a “lordose” da “sujeita”.
Pugno por uma mídia realista, que pare de investir no machismo usando corpos femininos para arrecadar dinheiro. Sei lá, isso vem desde antes de eu nascer né?! Tinha as tais assistentes de palco na televisão e assim por diante, revista de mulher pelada e tal. Bem, o negócio é antigo, a coisificação vem de séculos, mas, a vulgarização de imagens manipuladas nem tanto.
De toda forma, eu pugno por um mundo em que a mulher seja reconhecida pela inteligência, pugno por um mundo em que antes de mais nada, sejamos respeitadas pelo que temos embaixo de nossas longas melenas: um mundo de ideias mais longas e inalcançáveis que as pontas de nossos cabelos.
Pugno por um mundo em que não existam criaturas rebolando na televisão só para dar “ibope” e fazer papel de “burra”, pugno por um mundo em que nós mesmas não nos coisifiquemos, em que pese, todos os dias, a sociedade nos cobre um “capricho” a mais na aparência, pois, do contrário, não atrairemos olhares. Como se precisássemos disso para sermos nós! Vem, vou parar por aqui, antes de me tornar ainda mais repetitiva e prolixa.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 10 de março de 2015

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