Segurança e vaidade: inversões proporcionais.
Sobre vaidade e insegurança: são inversamente
proporcionais. "Ah, mas eu preciso estar linda para me sentir
segura." Errado, confusão de conceitos. Você precisa se sentir segura para
se achar linda.
Certa vez, num episódio de House, o personagem
principal dispensou uma candidata à vaga de médica de sua equipe, porque ela
estava com um sapato chiquérrimo, altíssimo, mas, notoriamente, desconfortável.
Disse ele ao amigo Wilson, que pessoas que
trabalham, como médicas, usando tais sapatos precisam impressionar e a
necessidade de causar uma boa impressão se liga a ausência de segurança e
confiança em si.
Outro dia uma amiga me contou que não fica sem
maquiagem na frente do parceiro, com quem está junto há bastante tempo. Sem filhos,
a mulher não sai do banheiro pela manha sem se arrumar e disfarçar qualquer
imperfeição.
O que isso me remete? Insegurança. Você não será
menos você com olheiras, com a boca sem cor, com as bochechas pálidas e sem
algo negro nos olhos. Ou será? Quem acha que sim, quem tem medo do mundo, do
desprezo alheio, quem tem sua autoestima calcada na aparência, se sente menos
gente quando não está arrumada.
Se você se sente linda, porque é segura não haverá
pequeno ou grande defeito que irá repercutir seriamente em seu ego. Não
importará cabelo, altura, cintura, bunda, peito e coxas que lhe afetem a autoimagem.
Você se sentirá bela, até porque o seu autoconceito não se liga unicamente a
sua estética quase perfeita.
Quando você tem consciência de seu valor, não será
necessário ser o que os outros esperam, bastará ser você mesmo e pouco ligar
para a opinião alheia. Fugir dos padrões por vontade, com alegria e humor,
ignorar revistas ou anseios do sexo oposto, isso, minha amiga, é ser sua, antes
de qualquer coisa.
Se eu sempre fui segura? Não, nem sempre. Tive fases
difíceis, fases de insegurança, fase perdida, fases ruins. Todavia, confesso
que cada uma me foi útil. Ao sair de uma delas e estar noiva e com casamento
marcado, meu ex disse que adoraria me ver morena.
Eu que, inúmeras vezes escureci o cabelo, não titubeei
em fazê-lo. Provavelmente, porque eu estava lá, no salão, mudando minha aparência
para agradar a outra pessoa e não a mim mesma, tive uma epifania, um surto ou,
como queiram chamar: desencantei do noivo, desencantei de mim naquele momento!
Obviamente, no outro dia voltava ao salão deixar
praticamente o salário do meu mês de trabalho na época para voltar a ser loira.
Terminei o noivado, sumi da vida do cidadão e assumi algo para mim: não sou
pessoa de fazer algo só para agradar, não se eu me desagradar e, meu amigo, eu
desagradada, sou uma espécie de encarnação piorada do cramulhão.
Sou a tal ponto anti “agrados” que se meu marido
(nem falo de namorado, cuja relação é bem mais tênue) me pedir: “Amor, por que
você não capricha nos pesos na academia para ficar com o corpo de uma panicat?!
Eu ia adorar!”. A minha única resposta seria: “Eu ia adorar se você não fosse
tão fútil e idiota, mas você não é, sendo assim você procura uma panicat que eu
procuro um homem mais do meu agrado.”
Radicalismo? Talvez. Eu não sou das “menos radicais”
não, mas uma coisa é certa, se eu não dependo do homem para comer, para andar,
para limpar a minha bunda, para falar e até para me prostituir, em ultima
instancia, não tenho razão nenhuma para suportar o que eu tenho como insuportável,
não é?! Prefiro qualquer coisa a ser mandada, “sugerida” ou a estar mal
acompanhada.
Sinto-me bem com a aparência que tenho hoje. Sinto-me
bem sendo quem sou hoje. Sinto-me bem sentindo o que sinto e sendo o que sou e
minha paixão por mim mesma não reside na aparência, reside naquilo que eu tenho,
nem todos veem, mas eu conheço melhor do que ninguém. E isso me faz um bem
enorme e inabalável.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 09 de março de 2015.
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